Um em cada quatro jovens espanhóis tem comportamento racista, diz estudo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um em cada quatro espanhóis com idade entre 15 e 29 anos apresenta comportamentos ou opiniões de cunho racista ou xenófobo, aponta o Centro de Adolescência e Juventude Rainha Sofía, de Madri.

Os ciganos e as pessoas oriundas de países da África subsaariana e de Marrocos são as principais vítimas de ofensas e agressões motivadas por discursos de ódio, diz a pesquisa. O estudo joga luz no intenso debate sobre racismo na Espanha, desencadeado após o brasileiro Vinicius Junior ter sido novamente alvo de insultos durante uma partida pelo Campeonato Espanhol.

De acordo com a entidade privada, fundada em 2013 com objetivo de desenvolver análises multidisciplinares sobre contextos sociais e culturais de adolescentes e jovens, as três razões principais para o comportamento identificado são a origem étnica, o gênero e a orientação sexual. A discriminação por país aparece como quarto maior motivo, e os traços raciais, em quinto.

O centro afirma que “preocupantes 25% [dos jovens] mostram atitudes claramente racistas e xenófobas, e esse grupo é formado principalmente por homens que se posicionam ideologicamente na extrema-direita”.

A pesquisa foi concluída em novembro de 2022 e apresentada com o título: “Juventude e racismo. Estudo sobre percepções e atitudes racistas e xenófobas entre a população jovem da Espanha”.

Para apresentar as conclusões, os pesquisadores entrevistaram 1.200 jovens, de 15 a 29 anos, residentes na Espanha. Eles responderam a um questionário para identificar o grau de discriminação sofrida e exercida pela população jovem por motivos de origem, etnia, cultura e religião.

As entrevistas foram feitas de 28 de junho a 14 de julho de 2022. De acordo com a entidade espanhola, o nível de confiança é de 95%.

Entre os 25% que mostram atitudes racistas e xenóbofas, 60% incluíram entre as razões de suas opiniões o discurso apresentado nos meios de comunicação. A imagem de migrantes em propostas de partidos de extrema-direita foi citada por 49% dessa fatia. Houve menção de 40% aos próprios migrantes pela “falta de adaptação”.

No último domingo (21), o brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, sofreu novamente as dores do problema apontado pelo estudo. Durante partida pelo Campeonato Espanhol, foi vítima de insultos de cunho racial.

De acordo com dados da própria LaLiga, a entidade que organiza a competição, o caso ocorrido no duelo contra o Valencia foi pelo menos o décimo em que o brasileiro foi vítima.

Ao desabafar nas redes sociais, o jogador reforçou que não foi “a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez” e questionou a impunidade aos infratores e aos clubes. Segundo Vinicius, o racismo é tolerado pela organização e incentivado por adversários.

A fala foi criticada por Javier Tebas, presidente de LaLiga, que disse que o atacante deveria “se informar melhor” sobre as iniciativas do grupo que promove o torneio. Depois, o dirigente se viu obrigado a recuar.

Responsável pelo órgão que organiza o Campeonato Espanhol, Tebas é conhecido por ser um declarado apoiador da extrema-direita da Espanha. Em 2019, ele afirmou que votaria em representantes do Vox, formado por apoiadores do ditador Francisco Franco, nas eleições espanholas.

O jogador rebateu, escrevendo que a imagem do campeonato estava abalada e que a omissão de Tebas o igualava aos racistas. O presidente da Federação Espanhola, Luis Rubiales, reconheceu que o futebol no país tem um problema com o racismo.

Nesta quarta, Tebas pediu desculpas a Vinicius e disse que se arrepende “porque uma parte importante das pessoas, sobretudo no Brasil, não entendeu a mensagem”. “Não era a minha intenção atacar o Vinicius”, acrescentou.

Diante da enorme repercussão, LaLiga também informou em nota que vai pedir mais poderes para tomar medidas contra clubes e torcedores acusados de discriminação. No texto, a entidade se diz “frustrada” por não ter condições de impor punições mais severas.

Na terça-feira (23), a polícia espanhola disse ter identificado três torcedores que fizeram gestos racistas. Eles foram detidos para interrogatório e depois liberados.

No mesmo dia, outros quatro torcedores foram levados pela polícia, suspeitos de ter pendurado um boneco enforcado com a camisa de Vinicius Junior em uma ponte, antes do clássico entre Real e Atlético de Madrid, em janeiro.

A recorrência de casos envolvendo o craque brasileiro levou o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a cobrar sérias medidas para combater o racismo no futebol espanhol.

Embora tenha reconhecido a gravidade do problema e repudiado a violência sofrida por Vinicius Junior, o governo espanhol afirmou que a Espanha não é um país racista.

LUCIANO TRINDADE / Folhapress

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