CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – “Desisti do Ozempic, fui parar no hospital novamente”, escreve uma usuária do medicamento em um grupo do Facebook onde pacientes compartilham sua experiência com o remédio. “Pessoal, estou com muita dor no estômago, fui parar no hospital pra tomar remédio na veia, nenhum corta a dor”, afirma outra paciente no mesmo espaço. “Hoje fui parar no hospital com um episódio de vertigem”, relata uma terceira usuária, também parte da comunidade.
Depoimentos do tipo são comuns nas redes sociais. Náuseas e vômitos persistentes, além de dor de barriga intensa, estão entre as histórias de quem precisou ser hospitalizado em decorrência do uso do Ozempic.
A bancária Cassia Elizabete de Oliveira, 56, está entre aqueles que foram parar no hospital. “Nunca mais quero ver esse remédio na vida”, diz.
Embora o indicado seja o aumento gradual da dose, que varia entre 0,25 mg e 1 mg, o médico responsável por seu tratamento recomendou o valor máximo logo de início. A ideia era que a bancária emagrecesse 10 kg em 30 dias para fazer uma cirurgia de hérnia no abdômen, mas já na primeira aplicação vomitou tanto que correu para o hospital, onde tomou soro, remédios para náuseas e recebeu liberação após orientações médicas.
“Fiquei 10 dias passando mal a cada coisa que engolia”, diz.
O medicamento injetável à base de semaglutida foi formulado para diabetes tipo 2, mas é usado off label no Brasil para tratar obesidade. Um outro remédio com o mesmo principío ativo, chamado Wegovy, foi autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início deste ano para o emagrecimento. O fármaco, porém, ainda não chegou às prateleiras.
Publicações nas redes sociais também trazem relatos de pancreatite, inflamação grave do pâncreas, que demanda atendimento imediato. A bula do medicamento alerta para a condição, que tem como sintoma dor abdominal grave e contínua. Histórico familiar da doença, cálculos biliares, obesidade e diabetes tipo II estão entre os fatores de risco para o desenvolvimento do quadro.
A médica Maria Augusta Kara Zellas, professora da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, afirma que a substância pode levar a sintomas gastrointestinais temporários, como náuseas, vômito e diarreia. As manifestações ocorrem com mais frequência no início do tratamento e entre alterações na dosagem.
“Conforme o paciente for se adaptando à medicação, aumentamos a quantidade”, diz a endocrinologista.
A consultora de recursos humanos Luciana Godoy, 49, começou a usar o Ozempic com a dose mais baixa e, orientada por um endocrinologista, migrou para 0,5 mg. Como não se adaptou, o médico indicou que ela retomasse a dosagem anterior. Segundo a paciente, o tratamento segue agora sem complicações.
“É fundamental ter um profissional do seu lado, nem que seja para suspender a medicação e dizer ‘olha, esse remédio ou essa dose não é para você'”, diz. “A gente não pode brincar com a sorte”.
A endocrinologista Priscilla Mattar, diretora médica da Novo Nordisk, laboratório responsável pelo Ozempic, acrescenta que o remédio não é indicado para quem tem diabetes tipo 1, grávidas, lactantes, menores de 18 anos, pessoas com histórico familiar de câncer de tireoide, síndrome de neoplasia endócrina múltipla de 2 e neoplasia endócrina primária tipo 2.
A profissional completa ainda que a automedicação pode levar a reações alérgicas, intoxicações, e em caso de interação medicamentosa, anular ou potencializar efeitos do fármaco, além de mascarar sintomas ou atrasar o diagnóstico de doenças.
Mattar também reforça que, embora o uso off label do Ozempic para obesidade no Brasil seja comum, a marca não endossa, nem apoia a prática.
LIVIA INÁCIO / Folhapress