SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o conflito em curso na Ucrânia têm incomodado parceiros como os EUA e chamado a atenção por atribuir a Kiev uma parcela da culpa pela guerra, que passa de um ano e já deixou ao menos 8.500 civis mortos, segundo contagem das Nações Unidas.
A escolha diplomática do petista, que tem defendido um clube da paz até agora pouco concreto para frear o conflito, destaca-se ainda mais nesta semana, quando, após Lula voltar da China, o chanceler russo, Serguei Lavrov, inicia em Brasília um giro pela América Latina.
A viagem foi acertada há poucas semanas, quando ele e o chanceler Mauro Vieira estiveram juntos na Índia para reunião do G20. Lula chegou a enviar Celso Amorim, assessor especial para política externa, a Moscou onde ele se reuniu com Vladimir Putin. Relembre o que Lula já disse sobre a Guerra da Ucrânia.
MAI.2022 ZELENSKI É RESPONSÁVEL PELA GUERRA
Em entrevista à revista americana Time, ainda quando era pré-candidato à Presidência, Lula disse que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, era tão responsável quanto Putin pela guerra.
Ele também afirmou que os EUA e a União Europeia estimularam o conflito e fez duras críticas à ONU, que, segundo ele, “não representa mais nada” e “não é levada a sério pelos governantes”.
“Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os EUA e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os EUA e a Europa poderiam ter dito: A Ucrânia não vai entrar na Otan. Estaria resolvido.”
JAN.2023 CHINA DEVE COLOCAR A MÃO NA MASSA
Por ocasião da visita do premiê alemão, Olaf Scholz, ao Brasil, Lula disse que a China um dos países que ele inclui em seu rascunho de clube da paz deveria desempenhar papel maior para parar o conflito.
“Acho que nossos amigos chineses têm um papel muito importante. Quero conversar sobre isso com o presidente Xi Jinping. Está na hora de a China colocar a mão na massa”, afirmou o petista.
Na viagem à China, no entanto, o assunto foi marginal, e Xi, cujo regime chegou a apresentar um plano vago de paz para a guerra, em fevereiro, não demonstrou o mesmo apetite de Lula para o assunto.
FEV.2023 ERRO HISTÓRICO DA RÚSSIA
À emissora CNN o presidente afirmou considerar a guerra um erro histórico da Rússia. “Foi um equívoco, um erro histórico da Rússia invadir o território da Ucrânia. Precisa ter alguém para dizer gente, vamos parar e conversar, e não tem ninguém fazendo isso.”
Lula voltou a mencionar sua proposta de clube da paz, pouco creditada mesmo entre aliados do Brasil, e disse que não pretende enviar munições para a Ucrânia, como já foi solicitado pela Alemanha. “Eu não quero entrar na guerra, eu quero acabar com essa guerra.”
ABR.2023 ZELENSKI NÃO PODE TER TUDO
Durante café da manhã com jornalistas em Brasília, o presidente disse que a Rússia não pode ficar com o terreno da Ucrânia ocupado durante a invasão no país europeu, mas que Zelenski “não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer”.
O maior imbróglio, que levou a uma resposta da diplomacia ucraniana, está no trecho em que Lula menciona a Crimeia, península do território ucraniano anexada por Moscou em 2014. O petista disse que “talvez se discuta a Crimeia”, dando a entender que Kiev poderia ceder a região.
ABR.2023 EUA INCENTIVAM O CONFLITO
Durante viagem oficial à China, Lula cobrou dos EUA que “parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz” para encaminhar um acordo entre a Rússia e a Ucrânia.
Acrescentou: “Quem é que não está na guerra que pode ajudar a acabar com essa guerra? Somente quem não está defendendo a guerra é que pode criar uma comissão e discutir o fim dessa guerra”.
ABR.2023 UCRÂNIA E RÚSSIA SÃO RESPONSÁVEIS
Durante rápida passagem por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Lula disse que tanto Moscou quanto Kiev são responsáveis pela guerra e por prolongar o conflito no Leste Europeu.
“Putin não toma a iniciativa de parar. Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os EUA continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: ‘Basta'”, disse. Ele acrescentou que a “decisão pelo conflito foi tomada por dois países”.
Redação / Folhapress