Caetano Veloso faz o melhor show do C6 Fest com público maior e mais animação

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os shows que abriram o último dia do C6 Fest, que acontece desde sexta-feira, 19, no Parque Ibirapuera, dedicaram-se a celebrar momentos e figuras históricas fundamentais para a música brasileira. Um dos homenageados, Caetano Veloso, encerrou a programação da área externa reunindo o maior público de todos os três dias de festival.

Mesmo com várias atrações internacionais, foi o show de Caetano Veloso que mais atraiu o público. A plateia de Caetano ocupou boa parte da área externa do Auditório do Ibirapuera, com capacidade para 10.000 pessoas. É um dos quatro espaços do C6, que tem shows no auditório, para 800 pessoas e numa tenda, com capacidade de 5.000, além da pista eletrônica.

A força do repertório do artista ficou evidente ao longo do show, cheio de coros e com o público cantando junto. Depois de “Sozinho” e “Desde Que o Samba É Samba”, apresentadas a voz e violão, o tropicalista abriu um sorriso e disse que era um presente ouvir o coro do público em alto volume.

Ele subiu ao palco com quase meia hora de atraso, perto de 18h30, e teve alguns problemas técnicos -de microfonia ao violão mudo por alguns segundos. A apresentação foi baseada em “Meu Coco”, seu álbum mais recente, de 2021, que rendeu a faixa-título, “Anjos Tronchos”, “Não Vou Deixar” e “Sem Samba Não Dá” ao repertório.

Caetano também passeou por pérolas antigas, como “Muito Romântico”, de 1978, e se declarou a São Paulo, segundo ele, cidade definidora de sua trajetória. A capital paulista surgiu em “Sampa”, para comoção da plateia, que reagiu com gritos à citação a Rita Lee, morta há duas semanas, na letra.

Com um rico naipe percussivo, Caetano abriu o repertório para algumas de suas músicas mais conhecidas. Cantou “Terra”, “Qualquer Coisa”, “Cajuína”, “Leãozinho”, “You Don’t Know Me”, “Baby”, “Menino do Rio”, “Odara” e “Reconvexo”, numa rara apresentação com cara de festival no C6.

Mais cedo, nomes da cena mais recente deixaram de lado seus repertórios para mergulhar primeiro no ano de 1973 –um dos mais férteis e importantes da produção musical brasileira, com o lançamento de vários álbuns que se tornaram clássicos e estreias de artistas. Depois, em músicas famosas na voz de Gal Costa, morta em novembro de 2022.

O tom celebratório, que poderia soar anacrônico, casou bem com as vozes escolhidas para subir ao palco. O elenco soube imprimir sua própria identidade nas canções lançadas há cinco décadas.

Juçara Marçal e Kiko Dinucci –integrantes do grupo paulistano Metá Metá e donos de dois álbuns celebrados nos últimos anos, “Delta Estácio Blues”, de 2021, e “Rastilho”, do ano anterior–, regeram toda a apresentação. Eles convidaram artistas para tocar canções lançadas no período em versões típicas de seus sons, com distorções e colagens sonoras.

A baiana Jadsa foi a primeira a entrar no palco, com “Umeboshi”, de Gilberto Gil, e “Bala com Bala”, de João Bosco. Depois veio Linn da Quebrada, que cantou “Abundantemente Morte”, do álbum “Pérola Negra”, clássico de Luiz Melodia, e “Fala”, da obra homônima dos Secos & Molhados.

Também baiano, Giovani Cidreira celebrou a obra do conterrâneo Caetano a partir de “Araçá Azul”, música tema do disco do mesmo nome. “Comportamento Geral”, de Gonzaguinha, também ganhou versão potente ao vivo.

A apresentação também chamou Tulipa Ruiz, que deu voz a “Chorou, Chorou” do álbum “Quem é Quem” –conhecido como o primeiro disco em que o instrumentista João Donato mostrou sua voz– e “Pontos de Luz”, de “Índia”, de Gal Costa.

Arnaldo Antunes foi o último convidado, com “Roendo as Unhas”, de Paulinho da Viola, e “Balanço”, do homônimo de Tim Maia. O show terminou com todos no palco flexibilizando o recorte temporal em um ano para homenagear Rita Lee, com “Mamãe Natureza”, do álbum de 1974 “Atrás do Porto Tem uma Cidade”.

Sob as luzes de quatro holofotes e sozinho no palco, o músico paulista Tim Bernardes continuou a nostalgia e embarcou no repertório de Gal Costa, artista com quem colaborou e tocou. A última apresentação da cantora, no Coala Festival de 2021, aliás, contou com a participação do artista.

Foi com “Baby”, música que Bernardes cantou naquele show no Memorial da América Latina, que ele abriu a apresentação. Foi um show sem firulas e virtuoso, que lembrou canções como “Vou Recomeçar”, “Índia”, “Negro Amor” e “Flor de Maracujá” e acabou com uma aplaudida “Vapor Barato”, faixa de Jards Macalé eternizada no ao vivo “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor”, de 1971.

Um pouco antes do show de Caetano, na Tenda Heineken, a plateia já era bem mais numerosa –e jovem– do que na sexta e no sábado no show do Black Country, New Road. A banda britânica abriu a programação do domingo na tenda.

O grupo entrou no palco dançando ao som de “Crazy in Love” ds Beyoncé, interrompida no refrão pelo saxofone de “Up Song”, com sua mensagem de amizade e amadurecimento entoada e ovacionada.

O entusiasmo de quem via o show perdurou. Mesmo as canções mais intimistas –nenhuma fruto dos dois álbuns de estúdio do grupo, deixados de lado depois da saída do vocalista Isaac Wood– foram recebidas com assobios e gritos, quando não cantadas junto.

É um feito impressionante para uma banda que lançou em shows e em um disco ao vivo, ainda este ano, as músicas apresentadas. O som, aliás, é complexo, com flauta transversal, sax, violino, banjo, violão, bandolim, piano elétrico, acordeão, além do baixo, guitarra e bateria.

Natalie Mering, a Weyes Blood, assumiu a plateia lotada na sequência. Ela abriu o show com “It’s Not Just Me, It’s Everybody”, do disco “And in the Darkness Hearts Aglow” e agradou ao fazer dancinhas com seu vestido longo e branco esvoaçante. Mering rodopiou e saltitou pelo palco adornado com um candelabro enquanto cantava, com sua característica voz grave.

A performance, em uma música sobre estranhamento e solidão no decorrer de mudanças avassaladoras, fez um par bizarro, mas divertido.

Em uma das pausas entre músicas, ela perguntou quem ali acreditava em astrologia e pediu que as pessoas esquecessem seus mapas astrais –o comentário gerou certo furor.

BÁRBARA BLUM, LAURA LEWER E LUCAS BRÊDA / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS