Camila Pitanga, Raí, Cléber Machado e advogados pedem cassação de Magno Malta após fala sobre Vini Jr

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo formado por artistas, jogadores, ativistas, advogados, apresentadores e intelectuais como Camila Pitanga, Raí, Cléber Machado e Teresa Cristina enviará ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado uma representação pedindo a cassação do mandato do senador Magno Malta (PL-ES).

A medida ocorre após o parlamentar criticar a repercussão do caso de racismo contra o jogador brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, ocorrido no domingo (21), em partida do Campeonato Espanhol.

Malta sugeriu que emissoras de TV estariam “revitimizando” o atleta e cobrou associações da causa animal para que “defendam os macacos”, uma vez que os animais estariam “expostos” ao serem citados nos xingamentos usados contra o jogador.

“O macaco é inteligente, é bem pertinho do homem. Única diferença é o rabo. Ágil, valente, alegre. Tudo o que você possa imaginar, ele tem”, afirmou o senador, durante uma audiência da Comissão de Assuntos Econômicos da Casa.

“Eu, se fosse um jogador negro, entrava com uma leitoinha branca nos braços e eu ainda dava um beijo nela. E falava assim: ‘Olha como eu não tenho nada contra branco'”, acrescentou.

Na representação, que é assinada pelos advogados Pierpaolo Cruz Bottini, Igor Tamasauskas, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, Sergio Renault, Marco Aurélio de Carvalho, Tiago Rocha e Sebastião Tojal, o grupo sustenta que a fala de Magno Malta é incompatível com o decoro parlamentar e abusa das prerrogativas asseguradas aos membros do Congresso Nacional.

“Racismo é um ato da maior gravidade. Gracejar com a dor, com a discriminação, não condiz com a dignidade parlamentar, com a estatura do Senado federal. Um discurso daquele porte merece reprimenda ética e criminal, razão da representação apresentada”, afirma Bottini.

O pedido de cassação destaca que xingamentos que associam ou equiparam pessoas negras a macacos, como os direcionados a Vini Jr., fazem parte de uma prática reiterada e generalizada de racismo no futebol. Mais ainda: que está enraizado em quase todos os níveis da sociedade brasileira.

A petição também é endossada pelo ex-jogador e comentarista Walter Casagrande Jr., pelo jornalista Juca Kfouri, pelo cofundador da Uneafro Douglas Belchior, pela chef Bel Coelho, pelo pintor Iran do Espírito Santo, pela editora Fernanda Diamant, pelo escritor Antonio Prata, pelo jornalista José Trajano e pela desembargadora aposentada Kenarik Boujikian.

“Ao se analisar a frase ‘então é o seguinte, cadê os defensores da causa animal que não defendem o macaco? O macaco está exposto’, fica evidente a quebra do decoro parlamentar, na medida em que na discussão sobre o racismo, o senador aponta que quem precisa de defesa é o macaco, e não aquele que foi alvo das ofensas racistas”, pontuam os signatários.

“Parece haver um modus operandi no conteúdo da declaração do senador. Num primeiro momento há a relativização da ofensa, apontando o macaco é quem necessitaria de defesa e, em um segundo momento, há o desprezo pela pauta ao apontar que tudo se leva ‘para cor da pele'”, continuam.

A representação enviada ao Conselho de Ética afirma ainda que a imunidade parlamentar não é um salvo-conduto para que senadores se comportem como quiserem, e que esse direito e a liberdade expressão não devem ser confundidos “com prerrogativa de destilar discursos de ódio, estereótipos ou menosprezo a população preta deste pais”.

MÔNICA BERGAMO / Folhapress

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