SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeiro, ela trouxe de volta os televisores Toshiba. Antes disso, já ocupava cozinhas de altíssimo padrão por meio da Gorenje, marca de eletrodomésticos cujo principal diferencial é ficarem ocultos entre os armários. Agora, a gigante chinesa Hisense quer tornar conhecida sua marca principal.
A chegada ao país data do fim do ano passado, com uma estratégia de aclimatação da marca no mercado brasileiro para garantir o que o vice-presidente da Hisense para o Brasil, Matjas Cokan, chama de um crescimento sustentável, passo a passo.
As vendas, por meio de uma parceria com a Via, dona de Casas Bahia, Ponto e Extra.com.br, começaram em março e responderam bem ao plano de crescer aos poucos e se tornar conhecida. A presença na Via começou com sete lojas; agora está em 38.
A empresa patrocinou a Copa do Mundo do Qatar, em 2022. Lionel Messi, ídolo da Argentina, time vencedor do torneio da Fifa, estrela peças de publicidade da marca pela Europa, onde a Hisense patrocina, pelo terceiro ano seguido, o Paris Saint-Germain -onde também joga o brasileiro Neymar Jr, prestes a deixar o clube francês.
“Estamos conhecendo o mercado, colocando promotores [de venda], porque nossa marca, embora seja grande lá fora, aqui ela não é conhecida”, diz Matjas.
A empresa não divulga o quanto já investiu ou pretende investir nos próximos anos, mas tem nos planos tornar o Brasil seu segundo maior mercado nas Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, em pelo menos cinco anos.
Atualmente, somente os televisores Toshiba estão sendo produzidos no Brasil, na planta da Multi (novo nome da Multilaser) na Zona Franca de Manaus (AM). A companhia brasileira importa os componentes, monta e distribui os aparelhos.
A Hisense cuida do marketing, suporte em engenharia e controle de qualidade, mas venda e pós-venda ficam com a Multi.
O restante da linha à venda sob a marca Hisense é 100% importado, mas já chegam aqui com visores e manuais em português, prontos para o varejo.
Geladeiras, lavadoras de roupas e louças, fogões, cooktops, ares-condicionados e fornos são trazidos das fábricas da marca na Ásia e Europa e, eventualmente, devem passar a vir também do México, onde uma nova planta foi inaugurada para atender a demanda de consumidores dos Estados Unidos por televisores.
Vêm das telas as apostas principais da Hisense para se tornar conhecida no Brasil, uma vez que o país é considerado o quarto maior mercado para o produto no mundo. O interesse do brasileiro por televisão e o mundo gamer são frentes importantes para a marca. A partir do segundo semestre, começam a chegar ao país o modelos a laser, que usam um projetor externo para formação da imagem.
Produzir no Brasil, porém, não está descartado. A importação de todos os eletrodomésticos dá uma desvantagem competitiva à fabricante chinesa, na comparação com aquelas que conseguem produzir localmente. Para compensar, a empresa aposta no design -mais limpos e retos- e no nível de eficiência energética.
O momento, porém, é de entender a demanda. No México, a primeira planta de produção foi construída dois anos depois da chegada dos produtos àquele país. Hoje, já são três. Globalmente, são 31 parques industriais e 66 escritórios.
“Ainda não temos a fabricação própria, mas já estamos olhando algumas opções, negociando. Para o futuro, o plano é a fabricação local.”
Na avaliação do vice-presidente da Hisense para o Brasil, vir para o país era um passo natural e até um pouco tardio. “Todas as marcas estão aqui.”
Particularidades do mercado nacional e mesmo da indústria levaram a companhia a chegar “pelas beiradas”, entrando antes nos mercados vizinhos como Chile e Argentina. “O Brasil tem enorme potencial e estamos atrás da concorrência aqui ainda. Não é a situação nos EUA, México e mesmo Chile e Argentina, temos grande presença lá”, diz Matjas.
“Mas o Brasil sempre foi muito desafiador por ser um mercado muito fechado, toda essa questão tributária, para uma empresa estrangeira é um dragão de sete cabeças, você corta uma, crescem duas.”
Mundialmente, a Hisense é a segunda maior fabricante de TVs, segundo a consultoria AVC Revo. A marca chegou a bater o primeiro lugar em dezembro do ano passado, quando distribuiu 2,326 milhões de televisores. Em todo no ano de 2022, foram 24,4 milhões de unidades. A receita de venda do grupo bateu US$ 27,2 bilhões (cerca de R$ 135 bilhões).
FERNANDA BRIGATTI / Folhapress