SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tiago Iorc diz que está redescobrindo como fazer música. O cantor, que não se apresenta no Brasil há três anos, vai rodar o país a partir desta sexta-feira (26) com uma turnê dedicada a “Daramô”, disco que lançou em novembro. É um projeto com alma e sangue brasileiros, nas palavras de Iorc, que quer investigar sua ancestralidade depois de se deixar influenciar pelo que vem de fora.
O álbum nasceu em Camaçari, cidade próxima a Salvador, na Bahia, durante o último inverno. Iorc viajou com sua equipe até lá não só para aproveitar o calor baiano, mas porque queria se encontrar com as Ganhadeiras de Itapuã, grupo de mulheres que entoam as vozes no fim da canção “Que Cansaço é Não Amar”.
“Venho mergulhando cada vez mais na minha brasilidade. Tive um início musical sem essas referências porque a minha família morava fora quando eu era mais novo”, diz por videoconferência o cantor, que já morou em Londres e nos Estados Unidos.
Seu primeiro disco em português saiu depois de outros quatro em inglês. Foi “Troco Likes”, de 2015, que levou o cantor ao estrelato com “Amei te Ver” e “Coisa Linda”. Não é difícil escutá-las tocando nas rádios ou numa cerimônia de casamento ainda hoje, oito anos depois.
Depois de três anos com shows lotados e indicação ao Grammy Latino, o sucesso o deixou exausto, diz ele. “Quando a gente está vivendo alguma coisa que é gostosa, não percebemos os limites. Aquele foi um momento ótimo em que ganhei dinheiro e visibilidade, mas comecei a reparar que estava sempre cansado, não conseguia dormir e não tinha estímulo para fazer show.”
Para fugir dos holofotes e descansar, Iorc se isolou nos Estados Unidos e depois na Bahia. Em janeiro de 2019, lançou o álbum “Resconstrução” e, um ano depois, “Daramô”, mas não emplacou hits como antes. Prova disso é que, entre suas dez músicas mais tocadas no Spotify, apenas uma é do novo álbum.
Mas Iorc diz não se preocupar com números. “Está fora do meu controle e da minha vontade. Não faço música para me encaixar em nenhum movimento. Minhas músicas são mais sentimentais do que mercadológicas. Quando [faz sucesso] é uma delícia, mas isso não precisa ocorrer para justificar o que eu faço.”
Houve, no entanto, um lançamento que causou burburinho. No single “Masculinidade”, de 2021, Iorc deixou a persona romântica de lado para cantor sobre como o machismo afeta os homens. “Quando criança, era chamado de bicha/ aprendi que era errado ser sensível/ eu tive medo do meu feminino”, cantou, dizendo ainda que se viciou em pornografia e foi abusivo.
As imagens do clipe, em que ele dança com uma calça pantalona vermelha, viralizaram. Iorc virou motivo de chacota. Nas redes sociais, diziam que ele virou um “esquerdomacho”, estereótipo de homem que tenta passar a imagem de desconstruído e progressista para atrair as mulheres, mas que se contradizem em suas atitudes.
Ao revisitar esta lembrança, Iorc afirma que o episódio o ensinou a “não se relacionar com os comentários” e que tem a sensação de dever cumprido, porque ouve de muitos homens que a música os ajudou falar de seus sentimentos.
“Daramô” ignora o episódio e tenta recuperar o Tiago Iorc fofo de antes. Sua nova fase é mais intimista, e as letras, ele conta, nasceram a partir da relação com a namorada Duda Rodrigues durante a pandemia.
A única composição que não tem dedo de Iorc é “Ciumeira”, uma regravação em voz e violão do hit de Marília Mendonça, que ele queria homenagear, assim como tenta fazer com os símbolos da MPB. Ele, que já fez uma turnê com Milton Nascimento, diz que artistas como Milton e Caetano Veloso o ensinaram a ter mais tranquilidade em relação à sua carreira.
“Entro na discografia deles e vejo discos que a maioria das pessoas não conhecem. Me traz uma calmaria saber que há a possibilidade de existir um álbum muito alinhado com o que o artista estava sentindo naquele momento que talvez não tenha uma reverberação popular. E que, mesmo assim, é um trabalho lindo.”
DARAMÔ – RIBEIRÃO PRETO (SP)
Quando: Nesta sexta (26), às 21h
Onde: Centro de Eventos Ribeirão Shopping – av. Coronel Fernando Ferreira Leite 1.540
Preço: A partir de R$ 180
Autoria: Tiago Iorc
GUILHERME LUIS / Folhapress