SALVADOR, BA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um terço do Conselhão do presidente Lula, instalado na quinta-feira (4) para a atuação no terceiro mandato do petista, é formado por homens do setor empresarial, e a maior parte vem do Sudeste.
A iniciativa privada domina o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável com 43% de participação, seguida por organizações do terceiro setor (22% do conselho), profissionais liberais ou acadêmicos (21%), sindicatos (10%) e artistas ou influenciadores digitais (4%).
Levantamento do DeltaFolha mostra que a distribuição de gênero é desigual nos setores privado e sindicalista, também dominado por homens. Nas outras áreas, como ONGs, associações, academia e meio artístico, as mulheres são maioria.
No total do Conselhão, são 60% de homens contra 40% de mulheres –proporção feminina abaixo da média da população geral brasileira, que tem 51,1% de mulheres contra 48,9% de homens, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Uma pessoa se declarou travesti nas 245 biografias divulgadas pelo governo.
Na sessão inaugural do órgão, na semana passada, Lula brincou dizendo que quer “pular para 50%” de participação feminina.
A diversidade foi uma de suas promessas de campanha. Embora a participação feminina seja recorde neste governo (dos 37 ministérios, 11 são ocupados por mulheres), a representação é inferior a um terço da Esplanada.
Criado no primeiro mandato petista, em 2003, o conselho foi interrompido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Recriado agora, ele tem caráter consultivo e serve para a interlocução do governo com diferentes áreas da sociedade civil, a fim de auxiliá-lo na tomada de decisões e na elaboração de políticas públicas.
Na reinauguração, Lula destacou que o Minha Casa, Minha Vida e a valorização do salário mínimo são exemplos de políticas nascidas a partir das discussões do colegiado.
No grupo de atuação empresarial do Conselhão, há 28 mulheres executivas ou empresárias (27% desse setor). A lista tem nomes como Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, Tânia Cosentino, da Microsoft, Leila Pereira, da Crefisa e atual presidente do Palmeiras, Cristina Junqueira, do Nubank, e Silvia Penna, da Uber.
Dentre os homens desse segmento, há maior representatividade dos setores econômicos, que vai de bancos, agronegócio e telefonia a fintechs e big techs, como Google e Facebook.
Quatro participantes doaram para a campanha de Bolsonaro na eleição, como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo: Cláudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Albert Einstein, o pecuarista João Martins da Silva Junior, Sérgio Bortolozzo, da Sociedade Rural Brasileira, e Frank Rogieri Souza de Almeida, do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal.
A reportagem dividiu a lista do conselho em cinco grupos: setor privado -que abrange não só empresas, mas associações empresariais e industriais (como Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e MID, Movimento Inovação Digital)-; terceiro setor, que inclui ONGs e associações de cunho social; sindicatos; profissionais liberais e acadêmicos; e artistas e influenciadores.
O setor sindicalista, reduto fiel de Lula, conta somente com nove mulheres (36%). Representam a área lideranças como Eunice Cabral, do Sindicato das Costureiras de São Paulo, Ivone Maria da Silva, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, e Nilza Pereira, secretária-geral da Intersindical.
A participação feminina é maior (54%) no grupo de profissionais liberais e acadêmicos. São exemplos a cientista da computação Nina da Hora, a economista Laura Carvalho, a historiadora Lilia Schwarcz e a filósofa Sueli Carneiro, entre outras.
Como a raça e a cor da população brasileira são definidas por autodeclaração, não é possível verificar com precisão a diversidade do conselho.
Em relação à origem, os dados indicam sub-representação de todas as regiões do país, com exceção do Sudeste. A análise identificou a cidade natal de 233 pessoas. Dessa amostra, 57% vêm do Sudeste, sendo a maioria do estado paulista.
Em seguida, aparecem as regiões Nordeste (11%), Sul (10%), Norte e Centro-Oeste (7% cada). O restante nasceu no exterior mas foi radicado no Brasil ou não teve a origem identificada.
CLEITON OTAVIO, CRISTIANO MARTINS, NICHOLAS PRETTO E PAULA SOPRANA / Folhapress