Bebidas açucaradas elevam risco de mortalidade por câncer de fígado, diz estudo

O consumo de bebidas adoçadas, como refrigerantes e sucos industrializados com açúcar, leva ao aumento do risco de desenvolver câncer de fígado e de mortalidade por doença crônica hepática.

O risco de ter câncer de fígado é 85% maior em pessoas que consumiram uma ou mais latas de bebidas açucaradas por dia em comparação àquelas que consumiam raramente (três latas ou menos por mês).

Já o risco de mortalidade por doença do fígado era 68% maior nos indivíduos que consumiram bebidas adoçadas uma ou mais vezes por dia.

Mas o risco não está apenas no açúcar branco adicionado: pessoas que consumiram por dia uma ou mais latas de refrigerante diet ou de sucos adoçados artificialmente têm risco 17% maior de desenvolver câncer de fígado em comparação a quem consumiu até três latas por mês.

Não houve diferença significativa na taxa de mortalidade por doença hepática em relação ao consumo uma ou mais vezes ao dia de bebidas adoçadas artificialmente.

Os resultados são de um estudo que avaliou a incidência de câncer de fígado em relação ao consumo de bebidas adoçadas em mulheres pós-menopausa de 1993 a 1998 nos Estados Unidos. O tempo de acompanhamento foi de 20,9 anos.

O artigo foi publicado nesta terça (8) na revista especializada Jama (Journal of the American Medical Association). O estudo foi conduzido por pesquisadores do Hospital Brigham da Mulher da Escola de Medicina de Harvard, em Boston (Massachusetts).

Para investigar a relação do câncer de fígado com consumo de bebidas adoçadas, os pesquisadores avaliaram 161.808 mulheres de 50 a 79 anos, sendo 98.786 incluídas na avaliação do consumo de bebidas com açúcar e 64.787 na de bebidas com adoçantes artificiais.

Durante o período de acompanhamento do estudo, a taxa de incidência de câncer de fígado nas pessoas que consumiam três porções ou menos de bebidas adoçadas por mês foi de 10,3 por 100 mil pessoas por ano, contra 18 casos por 100 mil nas que consumiram uma ou mais latas por dia.

(razão de risco ou HR = 1,85, ou 85% maior no consumo de uma ou mais latas por dia).

Já a incidência em pessoas que consumiam bebidas com adoçantes artificiais foi de 10,2 por 100 mil pessoas por ano, no caso do consumo restrito a três porções ou menos por mês, contra 11,8 por 100 mil pessoas por ano naqueles indivíduos que consumiam uma ou mais latas de refrigerante diet por dia.

Em relação à taxa de mortalidade por doença hepática, as pessoas que consumiram três ou menos porções de bebidas açucaradas por mês apresentaram uma taxa de 7,1 por 100 mil pessoas por ano, versus 17,7 naquelas que consumiram uma ou mais bebidas por dia. Não houve diferença na mortalidade por doença hepática nas pessoas que consumiram refrigerantes ou sucos diet.

O câncer de fígado é um dos mais letais, com menos de 40% sobrevivendo por mais de cinco anos. A incidência de câncer de fígado nos EUA cresceu entre 1985 e 2015 de 3 casos a cada 100 mil habitantes para 9,4 a cada 100 mil habitantes. No Brasil, ele é o 15° tipo de câncer mais frequente, com uma incidência que varia por região e por sexo. As estimativas mais recentes do INCA (Instituto Nacional do Câncer) apontam uma incidência de 6,06 casos a cada 100 mil pessoas, no caso de homens, e 3,89 a cada 100 mil no caso de mulheres.

As causas do câncer de fígado são várias, sendo a principal o consumo de bebida alcoólica (cirrose), mas tem crescido também a incidência de doença hepática não alcoólica (também chamada de esteatose hepática ou doença da gordura do fígado) que pode levar ao câncer. Outras causas são as hepatites virais (B e C), a síndrome metabólica e intoxicações.

Segundo os autores do estudo, a pesquisa tem o mérito de ser a única a avaliar a relação do câncer de fígado com bebidas adoçadas. Outras pesquisas apontaram uma correlação entre as bebidas açucaradas e algumas condições de saúde, como o risco de desenvolver doença da gordura do fígado e aumento de diabetes associado ao consumo de bebidas adoçadas.

Recentemente, a OMS classificou os adoçantes artificiais como o aspartame como “possivelmente cancerígenos” com base em uma avaliação extensa de mais de 40 anos de pesquisa.

Embora o estudo do Hospital de Brigham não tenha encontrado uma associação entre as bebidas chamadas diet (com adoçantes) e a maior mortalidade por câncer de fígado, os pesquisadores afirmam que o consumo de bebidas adoçadas é muito elevado nos EUA em relação ao consumo das adoçadas artificialmente, o que pode ter levado a esse resultado.

Os autores concluem que a substituição de bebidas adoçadas artificialmente por dietas restritivas ou redução do ganho calórico apresenta uma evidência mista na literatura, e que mais estudos são necessários para buscar essas possíveis associações.

Eles afirmam, porém, que o risco de câncer de fígado e de mortalidade é elevado, ao menos no grupo de mulheres pós-menopausa que consumem uma ou mais porções de bebidas adoçadas por dia em comparação a menos de três latas por mês.

ANA BOTTALLO

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