RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A taxa de desemprego do Brasil subiu para 8,8% no primeiro trimestre de 2023, após marcar 7,9% nos três meses imediatamente anteriores, informou nesta sexta-feira (28) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, a população desempregada cresceu para 9,4 milhões no intervalo de janeiro a março deste ano, conforme a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Houve um aumento de 860 mil desocupados ante o quarto trimestre de 2022 (8,6 milhões).
Mesmo em alta, a taxa de desemprego de 8,8% é a menor para o primeiro trimestre desde 2015 (8%), quando a economia nacional amargava recessão. O indicador também veio ligeiramente abaixo da mediana das estimativas do mercado.
Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 8,9% nos três primeiros meses de 2023, que marcaram o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tradicionalmente, o primeiro trimestre registra aumento no desemprego. Parte da busca por vagas costuma ocorrer após o fim dos contratos temporários de final de ano.
No primeiro trimestre de 2023, o número de pessoas ocupadas com algum tipo de trabalho recuou para 97,8 milhões. Houve baixa de 1,5 milhão de trabalhadores ocupados frente aos três meses anteriores (99,4 milhões).
“Esse movimento de retração da ocupação e expansão da procura por trabalho é observado em todos os primeiros trimestres da pesquisa, com exceção do ano de 2022, que foi marcado pela recuperação pós-pandemia”, disse a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.
“Esse resultado do primeiro trimestre pode indicar que o mercado de trabalho está recuperando seus padrões de sazonalidade, após dois anos de movimentos atípicos”, completou.
Beringuy também mencionou que o emprego “responde aos estímulos” da atividade econômica. A pesquisadora, contudo, evitou estabelecer uma relação direta entre a perda de vagas no primeiro trimestre e os sinais de desaquecimento da economia, algo já apontado por analistas de mercado.
“A gente sabe que o mercado de trabalho responde aos estímulos e à dinâmica dos indicadores econômicos, principalmente aos ligados à produção de bens e serviços. Mas não há como diferenciar aqui o que é componente sazonal e o que é componente a princípio herdado de uma retração da atividade econômica”, afirmou.
A redução de ocupados se espalhou entre atividades investigadas pela pesquisa, como agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,4%, ou menos 201 mil pessoas), construção (-2,9%, ou menos 215 mil), comércio (-1,5%, ou menos 294 mil), administração pública (-2,4%, ou menos 415 mil) e outros serviços (-4,3%, ou menos 231 mil).
POPULAÇÃO FORA DA FORÇA DE TRABALHO EM ALTA
Nas estatísticas oficiais, a população desempregada é composta por pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de novas vagas. Quem não tem emprego e não está buscando oportunidades não entra nesse número.
A população fora da força de trabalho, que não está trabalhando nem buscando ocupação, chegou a quase 67 milhões de pessoas no primeiro trimestre. O número representa uma alta de 1,6% (ou 1,1 milhão a mais) na comparação com o período imediatamente anterior (65,9 milhões).
A Pnad retrata tanto o mercado de trabalho formal quanto o informal. Ou seja, abrange desde os empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.
A renda real do trabalho dos ocupados foi estimada em R$ 2.880, em média, no primeiro trimestre. O dado indica uma variação positiva de 0,7% em relação ao final de 2022, quando o rendimento estava em R$ 2.861. O IBGE considera o novo resultado como estável.
Após os estragos causados pelo início da pandemia, em 2020, a geração de vagas de trabalho foi beneficiada pela vacinação contra a Covid-19 a partir de 2021. A imunização permitiu o retorno da circulação de pessoas e a reabertura dos negócios, intensificada em 2022.
A recuperação do mercado de trabalho, contudo, tende a perder velocidade em 2023, segundo economistas. A projeção está associada ao cenário de desaceleração da atividade econômica do país em meio ao contexto de juros elevados.
LEONARDO VIECELI / Folhapress