Auditor fiscal localiza 36 sorteados da Nota Fiscal Paulista e entrega R$ 7,2 milhões

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Incomodado com a lista de sorteados da Nota Fiscal Paulista que não recebiam o prêmio por não serem localizados, o auditor Jair Rosa, chefe do posto fiscal da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, em Marília, no interior de São Paulo, pediu autorização para procurar os contemplados. Desde janeiro deste ano, conseguiu localizar 36 sorteados, o que possibilitou a entrega de R$ 7,2 milhões em prêmios.

Uma das ligações foi para a jornalista B. Salles, 54 anos, de São Paulo, que o atendeu desconfiada por acreditar se tratar de mais uma tentativa de golpe. “Falei cobras e lagartos para ele”, diz.

As dívidas com a faculdade das duas filhas a atormentavam até o início deste ano. Ela sabia que não teria condições de pagar o que devia e o sonho do ensino superior havia virado pesadelo para a família. “Minha situação era muito séria”, diz.

Jair insistiu, mandou mensagens pelo WhatsApp e, por fim, um email com uma imagem do sorteio. A jornalista bloqueou o número do auditor, mas guardou as mensagens e procurou um posto da Secretaria da Fazenda na capital.

No local, soube que o funcionário público estava certo. Ela receberia um valor que permitiria pagar as dívidas e aliviar a situação financeira. Teve uma crise de choro e chegou a passar mal. Após ser acalmada, ligou para Jair, pediu desculpas e agradeceu inúmeras vezes pela insistência dele.

“Naquele momento eu precisava desesperadamente de dinheiro, em um grau absurdo”, afirma. “Sigo agradecida.”

Por questão de segurança, os prêmios acima de R$ 100 mil precisam da identificação dos sorteados nos postos fiscais. No entanto, os contribuintes que não mantêm o cadastro atualizado correm o risco de não serem localizados e perderem o dinheiro, caso não sejam encontrados em um prazo de cinco anos.

As pessoas que concorrem aos prêmios, que variam de R$ 1.000 a R$ 1 milhão, informaram os CPFs em compras -a cada R$ 100 gastos, o consumidor recebe digitalmente uma cartela do sorteio mensal do programa.

“Na minha ótica, nós da Secretaria da Fazenda temos que fazer alguma coisa para que essas pessoas saibam sobre o prêmio”, diz o auditor. Ele afirma que os consumidores fizeram a parte deles para combater a sonegação fiscal e, portanto, merecem o esforço que decidiu empreender pessoalmente.

SERVIDOR FAZ BUSCAS PELO SISTEMA DO IPVA, CNPJ E GOOGLE

Jair usa diversas ferramentas para localizar os contribuintes: consulta dados do IPVA, verifica se há registro de contato em eventuais aberturas de empresas e realiza buscas no Google. Faz tentativas de contato por telefone, WhatsApp, email e cartas.

A principal dificuldade, segundo ele, não é localizar os sorteados e sim convencê-los de que está falando a verdade.

Nas cartas, o auditor chega a fazer um apelo: “Se você acha que isso é um trote, desconsidere o aviso, perca o prêmio e jamais lamente que a sorte não está a seu favor”.

Uma das contempladas só acreditou ao receber a visita de um filho, que viu a correspondência oficial e ligou para o auditor, ao lado da mãe. Ela pediu desculpas por ter desconfiado nos primeiros contatos, falou sobre os diversos trotes que já havia recebido e contou que o valor do sorteio seria útil para os filhos e netos.

Uma sorteada de Pompeia, também no interior paulista, pediu ajuda para um sobrinho para conversar com Jair por telefone. O auditor orientou o jovem a chegar ao endereço eletrônico que informaria o valor recebido. Ao confirmar, tia e sobrinho choraram tanto que assustaram as crianças da casa. “Foi muito emocionante”, lembra o auditor, também entre lágrimas.

Para localizar um morador de Manduri, cidade de 10 mil habitantes na região de Marília, ligou para uma farmácia e para um posto de combustíveis. Em poucos minutos conseguiu falar com o contemplado, um motorista de ônibus escolar.

Entre as recompensas, recebeu da jornalista uma carta em que diz que seu trabalho vai formar uma advogada e uma produtora cultural.

“É por essas e outras que acho que o premiado de fato sou eu”, diz o auditor. “É um trabalho que vou continuar enquanto existir alguém que foi sorteado e que não foi contatado.”

CRISTINA CAMARGO / Folhapress

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