Bolsa cai e fica abaixo dos 119 mil pontos, mas fecha semana em alta

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,38% nesta sexta-feira (16), perdendo o patamar dos 119 mil pontos num dia marcado por correção de papéis que tiveram valorização nos últimos pregões. Na semana, porém, o Ibovespa acumula alta de 1,4%.

Já o dólar fez o caminho inverso, ensaiando uma recuperação nesta sexta ao subir 0,39%, mas com queda de 1,12% na semana, cotado a R$ 4,822. A moeda americana registrou perdas sucessivas nos últimos pregões, renovando seu menor patamar do ano na quinta (15).

A semana foi marcada por notícias positivas para a Bolsa e para o câmbio no Brasil.

Na quarta (14), a agência de classificação de risco S&P Global melhorou a perspectiva de longo prazo do Brasil de “estável” para “positiva”, reforçando projeções otimistas para a economia brasileira que já vinham impulsionando os ativos locais nas últimas semanas.

No mesmo dia, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) decidiu manter os juros dos Estados Unidos na faixa entre 5% e 5,25% ao ano, a primeira pausa em sua escalada nas taxas que teve início em março de 2022.

Com isso, a Bolsa brasileira fechou o pregão de quarta-feira em forte alta de 2%, enquanto o dólar encerrou o dia cotado a R$ 4,81, queda de 1% em relação ao dia anterior.

Nesta sexta, as perspectivas sobre a economia brasileira foram reforçadas. O Banco Central divulgou que seu índice de atividade econômica, o IBC-Br, registrou alta de 0,56% em abril em relação ao mês anterior, resultado acima do esperado.

“O IBC-Br de abril deve manter o tom de mais otimismo sobre o crescimento que a maioria dos economistas está apresentando. Viemos de previsões de crescimento de PIB muito fracas no início do ano, e agora passamos por um período de revisões para cima. O número de hoje corrobora que essas revisões serão confirmadas”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

Apesar do resultado positivo, alguns economistas apontam que a leitura do IBC-Br também traz alertas.

José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Fator, descreveu a surpresa positiva do indicador de abril como “difícil de explicar”, já que destoa das leituras sobre indústria, serviços e varejo no mês, destacando que pode estar mais uma vez relacionada ao forte desempenho da agricultura, que bateu recorde de crescimento no primeiro trimestre.

Já João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kinitro Capital, destaca que o crescimento anual do índice, de 3,3%, sinaliza uma desaceleração. Em março, a alta nessa base de comparação foi de 5,46%.

“A despeito de a alta ter vindo acima do esperado, a leitura é de uma atividade econômica resiliente, mas que seguirá exibindo uma desaceleração gradual ao longo do ano”, afirma Savignon.

Além disso, a FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgou nesta que seu indicador de inflação IGP-10 (Índice Geral de Preços – 10) registrou queda de 2,20% em junho, ante recuo de 1,53% em maio, em mais um sinal de desaceleração dos preços no Brasil.

Mesmo com a melhora da inflação, os mercados futuros tiveram alta no dia, com os contratos com vencimento em janeiro de 2024 indo de 13,00% para 13,02%. Os para 2025 saíam de 11,00% para 11,13%. Apesar da alta, os juros futuros seguem em baixo patamar.

Os indicadores positivos sobre a economia brasileira não foram capazes de segurar o Ibovespa no patamar de 119 mil pontos. O índice fechou em queda nesta sexta, com ações passando por um movimento de realização de lucros, ou seja, quando investidores vendem papéis que tiveram forte valorização para efetivar os ganhos.

Além disso, o índice também foi pressionado por um movimento técnico relacionado ao vencimento de opções sobre ações na Bolsa.

As opções são contratos que dão ao titular o direito de vender ou comprar um ativo numa data específica no futuro por um valor pré-determinado. O vencimento de opções, ou seja, a data limite para exercer esse direito, sempre ocorre na terceira sexta-feira do mês, o que impacta o preço dos ativos no pregão do dia.

A Bolsa foi puxada principalmente pelas ações da Localiza, que caíram 2,34% e ficaram entre as mais negociadas da sessão após a empresa ter anunciado uma oferta bilionária de ações.

Baixas de ações do setor de varejo, que passam por correção e são afetados pelas projeções de inflação, também pressionaram o Ibovespa. Carrefour, Assaí e Via registraram quedas de 6,46%, 4,18% e 4,14%, respectivamente.

As perdas do setor fizeram o Ibovespa operar no negativo mesmo com altas de Petrobras e Vale, que subiram 0,85% e 0,16%, respectivamente, apoiadas pelas commodities no exterior.

A maior alta do dia foi da CVC, com valorização de 5,63%, numa sessão positiva para o setor de viagens. A Azul e a Gol, por exemplo, subiram 2,69% e 1,97%, respectivamente.

O chefe de renda variável da AVG Capital, Apolo Duarte, diz que empresas aéreas têm experimentado um maior interesse dos investidores nos últimos pregões, especialmente após dados de inflação mostrarem queda nos preços das passagens aéreas, reforçando a expectativa de uma retomada do setor.

Apesar da sessão negativa nesta sexta não deve, o Ibovespa deve manter seu bom desempenho em junho.

Números da B3 mostram que, no mês, as compras de estrangeiros superam as vendas em R$ 6,912 bilhões até o dia 14. Na quarta, marcada pela decisão do Fed e pela melhora da perspectiva de longo prazo do Brasil pela S&P, houve entrada líquida de R$ 767 milhões.

Estrategistas do JPMorgan avaliam que o cenário para as ações brasileiras está ficando ainda mais interessante, conforme a inflação recua mais do que o esperado, as expectativas para o comportamento dos preços começam a diminuir e as previsões de crescimento aumentam.

No câmbio, o dólar continuou pressionado pelos juros americanos e pela atração de recursos para o Brasil, e a alta desta sexta foi vista como um movimento de correção.

“Vejo o movimento de hoje como um movimento aguardado e natural de realização; o importador é chamado para o mercado quando o dólar atinge sucessivas mínimas”, afirma Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

No exterior, a moeda americana registrou queda, com o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, caindo 0,81%.

Já os índices acionários dos Estados Unidos começaram o dia em alta, mas reverteram os ganhos após autoridades do Fed terem reduzido o otimismo de que a escalada de juros americanas está próxima do fim.

O presidente do Federal Reserve de Richmond, Thomas Barkin, disse nesta sexta que está confortável com novas altas de juros se os próximos dados não mostrarem que o enfraquecimento da demanda por bens e serviços está fomentando a desaceleração da inflação.

Já Christopher Waller, outra autoridade do banco, disse que a inflação foi cortada “pela metade” desde o pico do ano passado, mas que os núcleos (que excluem preços de energia e alimentos) ainda persistem.

“A política de juros está tendo efeito em partes da economia. O mercado de trabalho continua forte, mas o núcleo da inflação não está se movendo, e isso vai exigir, provavelmente, um maior aperto para fazê-lo cair”, disse Waller.

O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentou 0,1% em maio, depois de um avanço de 0,4% em abril. No acumulado de 12 meses, o índice subiu 4,0%, atingindo o menor patamar desde março de 2021.

Os núcleos da inflação, porém, que excluem itens de alimentação e energia (mais voláteis) seguem em alta de 5,3% nos 12 meses até maio.

Com isso, o Dow Jones, S&p 500 e o Nasdaq tiveram queda de 0,32%, 0,37% e 0,68%, respectivamente.

MARCELO AZEVEDO / Folhapress

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