A visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto, prevista para a próxima segunda-feira (1), gerou mal estar com o governo Lula e deve afastar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, do evento.
Principal referência em tecnologia agrícola na América Latina, a Agrishow contava com o ministro na abertura, mas um encontro nesta terça-feira (25) entre a direção da feira e Fávaro terminou em impasse.
Os representantes da feira informaram ao ministro que o ex-presidente participaria da abertura da feira e que isso poderia causar algum tumulto ou constrangimento por manifestações contrárias ao governo -o agronegócio, em sua maioria, apoiou Bolsonaro na eleição do ano passado. Chegaram a sugerir que Fávaro participasse da Agrishow em outro dia (o evento vai até 5 de maio).
A conversa desagradou ao ministro e é possível que não haja representantes do governo federal não só na abertura, mas em nenhum dia da Agrishow.
A ausência frustrará o setor, já que havia a expectativa de que Fávaro anunciasse linhas de crédito para o agronegócio e desse detalhes da elaboração do Plano Safra 2023/24, que deve ser anunciado em junho.
Lula já não era aguardado e havia a expectativa de que ele fosse representado também pelo seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador paulista e que era visita habitual ao evento.
O convite para Bolsonaro visitar Ribeirão -será sua primeira viagem após retornar ao país- partiu do presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, Paulo Junqueira, que também preside a Associação Rural de Ribeirão e é vice-presidente da Assovale (Associação Rural Vale do Rio Pardo).
Bolsonaro deverá desembarcar no aeroporto local no início da tarde de domingo (30) e sua agenda ainda não foi divulgada. Em redes sociais e grupos de aplicativos de celular, apoiadores do ex-presidente têm afirmado que ele poderia participar de uma motociata, de uma reunião com sua base política e até mesmo do último dia do Ribeirão Rodeo Music, que acontece na cidade.
Junqueira disse não estar organizando nenhum evento com o ex-presidente domingo e que enviou o convite como dirigente do sindicato.
“Tive a confirmação de que a Agrishow também enviou convite para ele e imediatamente aceitou. Dou graças a Deus de ser a primeira viagem que ele vai fazer depois que retornou dos Estados Unidos, prestigiando a região de Ribeirão Preto e a feira”, disse.
O ruralista afirmou que não passa pela sua cabeça que o presidente da feira, Francisco Matturro, ex-secretário da Agricultura de São Paulo, tenha desconvidado o ministro.
“Ele pode ter dito ‘olha ministro, na abertura da feira estará o Bolsonaro, o governador [Tarcísio de Freitas]’, pode ter dito isso, mas duvido que tenha dito [para o ministro alterar a agenda]”, disse.
O ruralista afirmou ainda que há um ranço do setor com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por fatores como a aproximação com o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile e que “acima de 90% apoia o ex-presidente”.
“Ele [Stedile] lidera um grupo terrorista”, disse.
Desde o início da manhã desta quarta, dirigentes de associações ligadas à organização da Agrishow buscavam contato com o ministério para tentar desfazer o mal estar.
A feira agrícola publicou uma nota de dois parágrafos no fim da manhã reafirmando o convite a Fávaro para participar da abertura e o elogiou.
“Para a direção da Agrishow, o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua participação na feira é muito importante para todo o setor”, diz a nota.
Nunca, até a edição deste ano (28ª), um ex-presidente da República participou da feira, e a situação inédita tem dividido integrantes da organização da Agrishow sobre a visita de Bolsonaro, segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo.
Enquanto uma parte defende a presença por entender que o ex-presidente foi importante para o setor e é apoiado pela maioria dos ruralistas, outra avalia que o agronegócio depende de políticas públicas do governo federal e que ficar ao lado de um rival político de Lula não seria inteligente.
Há dúvida sobre se Bolsonaro estará no palanque oficial na abertura, como nas duas vezes em que a visitou como presidente, ou se ficará na plateia, como ocorreu em 2018, quando esteve na feira agrícola na condição de pré-candidato. No ano passado, ele participou de uma motociata entre o aeroporto e a feira e entrou no local montado num cavalo.
A Agrishow é organizada por Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e SRB (Sociedade Rural Brasileira).
Junqueira disse que é possível a feira abrigar Bolsonaro e o ministro e disse fazer votos de que “atuem em sinergia para aplicação de boas políticas públicas voltadas para o setor”.
MARCELO TOLEDO / Folhapress