Com recompensa de até R$ 20 mil, prêmio da USP reconhece o esforço de pais e mães solo

Em segunda edição, poderão participar pesquisadores e pesquisadoras das áreas de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes; inscrições encerram-se dia 22 de março

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Foto: FreePiK

Não é tarefa fácil aliar a maternidade e a paternidade à carreira universitária. Ainda mais se essas atribuições se realizam sozinhas, sem auxílio algum. Pensando em reconhecer os esforços dessas pessoas, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) abriu inscrições para a segunda edição do Prêmio USP Mães Pesquisadoras. As inscrições se encerram dia 22 de março.

Os organizadores do prêmio reforçam a necessidade de pesquisadores homens ou LGBTQIAPN+ participarem, comprovando que são cuidadores exclusivos de filhos biológicos ou adotivos com até 12 anos de idade. Caso a criança possua alguma deficiência, não haverá limite de idade.

Para o pró-reitor de Pesquisa e Inovação (PRPI) da USP, Paulo Nussenzveig, “embora o prêmio carregue o nome ‘USP Mulheres’, é preciso reforçar que homens ou LGBTQIAPN+ podem participar. No ano passado não tivemos nenhuma inscrição desses públicos, mas reforçamos a importância de se inscreverem.”

Já de acordo com a pró-reitora adjunta da PRPI, Susana Torresi, a essência do prêmio é sobre reconhecer o cuidado que pais e mães solo possuem para com os seus filhos, somado ao desenvolvimento de suas produções científicas. “A questão de gênero passa pela parentalidade, do cuidado. Esse prêmio visa a reconhecer a paternidade e maternidade solo, que possuem consequências em suas trajetórias acadêmicas – sobretudo às mulheres-, como, por exemplo, menor contato internacional”, explica Susana.

Uma novidade é que, este ano, serão premiados pesquisadores e pesquisadoras somente das áreas de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes. Essas áreas possuem uma Comissão de Pesquisa e Inovação (CPq) vinculada a cada faculdade que pertence à Universidade.

Categorias

Graduandas – R$ 10.000,00
Pós-graduandas – R$ 10.000,00
Pós-Doutorandas – R$ 15.000,00
Docentes – R$ 20.000,00

Inseridas nessas condições, as pessoas interessadas em participar precisam se inscrever por meio do Sistema Atena, responsável pela produção científica da Universidade, neste link. Lá, deverão preencher a ficha de inscrição disponível, além de inserir a certidão de nascimento ou adoção do(s) filho(s).

As candidatas nas categorias Pós-Graduandas e Graduandas também deverão enviar o histórico escolar completo, incluindo reprovações. No caso das docentes que irão concorrer a esta edição, é necessário que estejam no quadro permanente e que tenham sido contratadas após 1º de janeiro de 2011.

Uma comissão avaliadora composta de pesquisadores representantes das grandes áreas do conhecimento em questão, respeitando diversidade e gênero, irá avaliar as inscrições. Serão priorizadas produções de impacto ou de grande alcance científico, cultural ou artístico, com descobertas significativas e de caráter multidisciplinar. Os resultados serão divulgados dia 12 de maio.

Nas categorias Pós-Doutorandas, Pós-Graduandas e Graduandas, em caso de empate, serão priorizadas as candidatas com situação socioeconômica menos favorável – menor renda familiar –, com maior número de dependentes, que sejam negras – pretas ou pardas –, indígenas, mães solo e/ou mães de filhos com deficiência.

Mãe, pesquisadora e diretora

É comum que em algumas famílias brasileiras as mulheres sejam as únicas responsáveis pela maternidade. Quando há o pai presente é frequente que ele possa até auxiliar sua companheira, porém os serviços recaem com mais intensidade nas figuras femininas. No caso da mulher, mãe e pesquisadora, o fardo é mais pesado de carregar. Além de escrever dissertações, teses, artigos, há os afazeres domésticos e, claro, os cuidados necessários que seus filhos carecem.

Ana Elisa Bechara, professora titular de Direito Penal da Faculdade de Direito (FD) da USP, é um exemplo dessas mulheres. Mesmo casada, relata ao Jornal da USP que foi difícil conciliar a maternidade com a trajetória acadêmica. “Entrei no doutorado, casei e, em seguida, engravidei. Não pude pedir licença-maternidade, embora houvesse esse direito. Porém, na época, era uma vergonha”, Bechara explica, ao lembrar que a situação era vista como decepcionante.

Escrevi a minha tese de madrugada entre as mamadas da minha filha. Achava que fui menos mãe do que a sociedade acreditava que eu deveria ser. Você não consegue conciliar porque não existe uma divisão”, afirma.

Vivenciando essas dificuldades em conciliar a maternidade com três filhos e a carreira acadêmica, a diretora pontua que foi aprovada em um concurso público, e o presidente da banca examinadora lhe disse que seu currículo era péssimo. “Era mesmo, sempre fiz o que deu. Eu falei, ‘mas eu tenho dois filhos bebês e uma filha’. Ele disse: ‘não me interessa, seu currículo é muito inferior ao currículo dos homens’“, lembra.

Bechara sabe bem das dificuldades em conciliar a maternidade com a carreira acadêmica. Por isso, a questão a sensibiliza e ela destaca a importância da USP em reconhecer esses esforços. “A minha carreira foi feita com base em muita culpa. Porque todo mundo te faz entender que está tudo errado em você ser professora e ser mãe, como se isso não pudesse ser conciliado. Até hoje não consigo”, explica.

Atualmente, a professora é vice-diretora da FD e diretora de Mulheres, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP.