Feira do MST em SP volta após 5 anos com 500 toneladas de alimentos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A feira de orgânicos do MST (Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra) volta nesta semana ao parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, cinco anos depois da última edição.

Em 2019, o evento foi vetado pela administração estadual paulista, que tinha João Doria, na época no PSDB, no comando. Neste ano, a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária começa às 8h de quinta-feira (11), e segue até domingo (14).

A feira acontece em um momento em que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se vê pressionado por ações do MST e de empresários do agronegócio. No Congresso, a oposição conseguiu aprovar uma CPI que tem o movimento como alvo. O objetivo é investigar as invasões do chamado abril vermelho.

Para ocupar parte dos 137 mil metros quadrados do parque, a organização prevê a participação de 1.200 feirantes de centenas de cooperativas de 24 estados brasileiros.

Desde o início da semana, centenas de assentados chegaram à capital e, com eles, o equivalente a mais de 50 carretas de alimentos in natura e produtos industrializados, que serão vendidos nos quatro dias de feira.

Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, estima que 500 toneladas de alimentos agroecológicos sejam colocados à venda. Além de frutas, legumes e verduras, cooperativas ligadas ao movimento produzem grãos e leguminosas, como arroz e feijão, sucos, chocolates, café, mel, pimentas, farinhas e doces.

A produção de alimentos nas cooperativas ligadas ao MST segue princípios agroecológicos, sem o uso de agrotóxicos ou defensivos e que preservem o entono. Os produtos são considerados orgânicos, mas a venda sob essa classificação depende de uma certificação, algo que nem todos os cooperados têm.

Nos quatro dias de feira, o MST espera receber 300 mil visitantes. No domingo, o movimento diz que fechará a feira com a doação de 25 toneladas de alimentos.

Além da venda de alimentos produzidos nos assentamentos e acampamentos, 30 cozinhas serão montadas no parque da Água Branca, onde serão vendidos 95 pratos tradicionais de todas as regiões do país.

No cardápio do Sul, haverá entrevero de pinhão. Do Nordeste, baião de dois e sarapatel. O feijão tropeiro e a moqueca capixaba estarão no setor de cozinhas do Sudeste. Da região amazônica, haverá pratos como maniçoba e pato no tucupi, e do Centro-Oeste, arroz com pequi e galinhada.

Segundo Delweck Matheus, dirigente do MST em São Paulo envolvido com a organização da feira, o evento é importante canal de exposição da reforma agrária como uma nova matriz de produção na qual o ambiente é também protegido.

A produção agroecológica de alimentos pelo MST tem sido um meio de aproximação do movimento com as classes médias, especialmente em grandes cidades, como São Paulo.

Cooperados traziam semanalmente seus produtos para a feira de orgânicos do Água Branca, realizada as terças, sábados e domingos pela manhã e organizada pela AAO (Associação de Agricultura Orgânica ).

O interesse por produtos livres de agrotóxicos levou o MST a abrir, em 2016, a primeira unidade do Armazém do Campo, nos Campos Elíseos, região central de São Paulo. Hoje são 20 lojas físicas e 40 pontos físicos que comercializam produtos desses cooperados.

Para manter os preços competitivos, as lojas não têm lucro líquido. O dinheiro banca as despesas dos pontos físicos e de funcionários e o restante vai para os assentados.

No ano passado, durante a campanha eleitoral, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aliado histórico do movimento, elogiou, em entrevista ao Jornal Nacional, o trabalho do MST.

Ele citou a produção de arroz orgânico –segundo o Irga (Instituto Riograndense do Arroz), as cooperativas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra respondem por cerca de 70% desse tipo de cultura no Brasil

A edição da feira nacional marcará também o início das comemorações dos 40 anos do MST (fundado em janeiro de 1984).

Três palcos estão sendo montados no parque Água Branca, onde estão previstos shows com artistas como Jorge Aragão, Gaby Amarantos, Johnny Hooker, Lenine, Alessandra Leão, Zeca Baleiro, Yago Opróprio, Tulipa Ruiz, Chico César, Lirinha e Alzira Espíndola, e apresentações de dança e teatro.

FERNANDA BRIGATTI / Folhapress

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