RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A taxa de participação no mercado de trabalho do Brasil está abaixo do patamar pré-pandemia nas cinco faixas de idade pesquisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Essa diferença em relação ao pré-crise é maior entre os jovens, segundo dados divulgados pelo instituto nesta quinta-feira (18).
A taxa de participação mede a proporção de pessoas de 14 anos ou mais que estão inseridas na força de trabalho como ocupadas (com algum tipo de trabalho) ou desempregadas (à procura de emprego).
Dependendo do contexto econômico, pode funcionar como uma espécie de termômetro de atratividade do mercado.
No primeiro trimestre de 2023, a taxa de participação foi estimada em 61,6%, em termos gerais, no Brasil. Assim, ainda estava 1,8 ponto percentual abaixo de igual período de 2019 (63,4%), antes da pandemia.
Entre os mais jovens, de 14 a 17 anos, a taxa de participação foi de 17,2% no primeiro trimestre de 2023. Com o resultado, ainda ficou 2,8 pontos percentuais abaixo de igual intervalo de 2019 (20%).
Essa diferença de 2,8 pontos percentuais é a maior registrada entre as cinco camadas da população com dados divulgados pelo IBGE. Os números integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua.
Especialistas afirmam que os jovens costumam enfrentar mais dificuldades para a entrada no mercado de trabalho devido a fatores como a falta de experiência.
Alessandra Brito, analista da pesquisa do IBGE, indicou que a oferta de vagas de emprego pouco atrativas pode ter afastado brasileiros de 14 a 17 anos do mercado.
Diante da situação, uma parcela pode estar privilegiando os estudos no momento, o que em tese seria uma “notícia boa”, apontou a pesquisadora. O reflexo nas estatísticas do trabalho é a taxa de participação mais distante do pré-pandemia.
“A gente observa alguns pesquisadores falando disso. Dado que os rendimentos para essa faixa estão mais baixos, e as oportunidades não são tão boas, as pessoas estão ficando mais no período escolar”, disse Brito em entrevista a jornalistas nesta quinta.
Para o economista Daniel Duque, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), os dados refletem os impactos da ampliação do Auxílio Brasil no governo Jair Bolsonaro (PL) e do Bolsa Família na gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na avaliação do pesquisador, jovens deixaram de trabalhar ou procurar emprego após as suas famílias serem contempladas pelas transferências de renda. Parte teria focado nos estudos, e outra, não, segundo ele.
De acordo com o IBGE, entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de participação foi de 68,3% de janeiro a março de 2023. A marca corresponde a 1,5 ponto percentual a menos do que no mesmo intervalo de 2019 (69,8%).
Na faixa de 25 a 39 anos, a taxa de participação é mais alta, estimada em 81,3% no primeiro trimestre de 2023. O indicador, contudo, ainda ficou 1,2 ponto percentual abaixo de igual período do pré-crise (82,5%).
Duque prevê um cenário semelhante para os próximos meses, com uma participação menor do que em 2019, sobretudo entre os mais jovens.
Pesam nessa projeção do economista o possível impacto dos pagamentos do Bolsa Família, com adicionais neste ano, e a provável desaceleração do mercado de trabalho, que desestimularia a procura por vagas.
A taxa de participação também segue abaixo do pré-pandemia entre as camadas mais velhas da população pesquisadas pelo IBGE. A diferença, contudo, aparece em menor escala.
Na faixa de 40 a 59 anos, a taxa de participação foi de 73,2% no primeiro trimestre de 2023. Assim, ficou 0,7 ponto percentual abaixo de igual intervalo de 2019 (73,9%).
Entre os brasileiros de 60 anos ou mais, o indicador atingiu 23,2% de janeiro a março deste ano. A diferença é de 0,6 ponto percentual em relação ao mesmo trimestre de 2019 (23,8%).
Com menos pessoas à procura de trabalho, os dados de desemprego são menos pressionados. É que, para uma pessoa ser considerada como desocupada nas estatísticas oficiais, ela precisa estar em busca de vagas.
LEONARDO VIECELI / Folhapress