Nova política de preços pode gerar risco de crédito para a Petrobras, diz Moody’s

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Incertezas sobre a nova política comercial da Petrobras podem gerar risco de crédito à estatal, segundo analistas da agência de classificação de risco Moody’s. A avaliação é que, sem uma fórmula definida, a empresa pode ser levada a perdas por represamento de preços do mercado interno.

Entre analistas do mercado financeiro, uma das grandes preocupações após a divulgação da nova estratégia comercial é a possibilidade de a estatal ter que assumir importações com prejuízo em momentos de alta das cotações internacionais do petróleo.

“A nova política é negativa para o crédito da Petrobras porque adiciona incerteza à continuidade das práticas de paridade de importação, o que pode levar a perdas se a Petrobras não repassar volatilidades das cotações internacionais do petróleo aos preços domésticos dos combustíveis”, diz a Moody’s.

O relatório da agência diz não acreditar, neste momento, que a Petrobras se desviará significativamente das cotações internacionais, já que o mercado deve se manter pressionado, mas ainda abaixo do patamar atingido após o início da guerra na Ucrânia.

“Contudo, se variáveis macroeconômicas como a taxa de câmbio ou a cotação do petróleo estiverem estressadas, a Petrobras pode segurar aumentos de preços e ter perdas”, afirma, lembrando que a nova estratégia comercial da estatal não definiu uma fórmula de reajustes.

A preocupação é a mesma de analistas que cobrem a estatal, segundo relatórios divulgados após teleconferência com o diretor financeiro da companhia, Sergio Caetano Leite, sobre as mudanças na política de preços.

Leite reforçou aos analistas que a companhia seguirá vendendo produtos com margem de lucro, em algum patamar entre a paridade de importação e o custo de produção, segundo relataram analistas do UBS BB.

Em geral, os participantes do encontro afirmam que a política, porém, será testada de verdade em cenário de alta das cotações internacionais ou de desvalorização abrupta do real frente ao dólar.

Para o UBS BB, a nova política tem menos “freios e contrapesos” para forçar a empresa a elevar os preços em um cenário de disparada do petróleo e deterioração da taxa de câmbio, como ocorreu em 2022, por exemplo.

“Isso pode ser visto de forma negativa pelo mercado e pode pressionar as margens”, diz o banco. “Além disso, se o petróleo dispara e a Petrobras se mantém estruturalmente abaixo da paridade, a companhia pode ter que importar para garantir o abastecimento do mercado.

“Mesma visão tem o analista Daniel Cobucci, do BB Investimentos. “Caso os preços se descolem demais da referência internacional, existe risco de desabastecimento ou de prejuízo pela Petrobras na importação”, escreveu.

Os importadores privados consideram que a janela para importação de diesel se fechou após o corte de R$ 0,44 por litro anunciado pela estatal na terça-feira (17).

De acordo com a Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis), o preço médio do diesel nas refinarias brasileiras está R$ 0,12 por litro abaixo da paridade de importação. Nos pontos de entrega da Petrobras, a diferença é maior, de R$ 0,14 por litro.

Cerca de 25% do mercado brasileiro de diesel é abastecido com produto importado.

Em relatório divulgado no início da noite, a agência de classificação de risco S&P diz avaliar que, no curto prazo, os riscos ao crédito da estatal são limitados, já que a empresa vem operando com baixo endividamento e a cotação do petróleo deve se manter estável.

A agência diz confiar ainda em restrições a ingerência política impostas pelo estatuto da companhia, que prevê indenização por perdas com decisões impostas pelo controlador. Uma mudança no estatuto, diz “poderia levar algum tempo para se concretizar e enfrentaria forte oposição dos acionistas minoritários”.

NICOLA PAMPLONA / Folhapress

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