Otimismo inicial com Lula deu lugar a cautela, dizem investidores estrangeiros

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Um otimismo inicial de investidores estrangeiros com o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em meio ao fim das incertezas na conturbada eleição presidencial do ano passado, deu lugar a certa cautela com dúvidas sobre a capacidade do novo governo em levar a cabo reformas estruturais, dizem analistas.

A reportagem ouviu economistas, operadores do mercado financeiro e analistas de multinacionais com operações no Brasil que participaram de eventos com autoridades em Washington em abril, durante as reuniões de primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial —vários deles pediram anonimato por não terem autorização de suas empresas para entrevistas.

Em geral, a maioria elogia o novo arcabouço fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir a dívida pública. Quase todos, por outro lado, afirmam que atrapalham o ambiente de investimentos cobranças públicas de Lula sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quanto às taxa de juros e falas sobre mudança da meta de inflação.

Anya Prusa, diretora sênior da Albright Stonegbridge Group (ASG), consultoria americana para investidores estrangeiros, é uma das que elogiam o arcabouço. Ela faz a ressalva, porém, de que a proposta “é muito otimista quando se trata da receita arrecadada, o que vai depender de uma reforma tributária que pode demorar a passar no Congresso, e isso tornará difícil para o governo atingir suas metas fiscais no curto prazo”.

“Os investidores ficam preocupados. Quanto mais demorar a aprovação do novo arcabouço e a proposta de uma reforma tributária, menos confiança têm”, afirma ela, que participou de uma das reuniões que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez com estrangeiros durante sua passagem pela capital americana neste mês. Segundo Prusa, há dúvidas sobre o apoio a Lula no Parlamento para aprovar essas propostas.

O receito de investidores, no entanto, não é um privilégio do Brasil, e países emergentes perdem investimentos em meio à aversão ao risco com as incertezas com o cenário global, como as tensões entre China e Estados Unidos e a Guerra da Ucrânia logo após o planeta passar por uma pandemia, segundo relatórios divulgados neste mês pelo FMI e Banco Mundial.

“É um desafio global, os fluxos de investimento em países em desenvolvimento se reverteram, e há saída de dinheiro”, disse à reportagem o presidente do Banco Mundial, David Malpass. “É urgente para o Brasil ter boas políticas econômicas para acelerar o crescimento, e isso permitirá o gasto que o governo quer fazer com os propósitos sociais e ambientais para mudanças climáticas.”

O diretor do órgão para Brasil, Johannes Zutt, que também elogia o arcabouço de Haddad, defende que o Brasil deve trabalhar para abrir mais sua economia, ainda muito fechada, na avaliação dele, e rever barreiras comerciais.

O banco americano JPMorgan fez um questionário com 200 de 2.600 participantes (online e presenciais) de três dias de eventos com investidores que a instituição organizou em Washington durante a semana de reuniões do FMI e do Banco Mundial. O banco recebeu em um desses eventos o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.

O México aparece em primeiro lugar entre os países emergentes onde os investidores estão mais inclinados em investir, com 28,9%. O Brasil aparece em segundo, com 19,6%, mas o país costuma figurar em posição elevada por um viés dos participantes, muitos deles brasileiros, segundo os organizadores.

Por outro lado, o Brasil está em uma das últimas posições quando se faz a pergunta de onde os investidores querem diminuir os riscos, à frente apenas da Índia. “De uma maneira geral, ainda existe uma visão mais construtiva para ativos brasileiros”, diz Cassiana Fernandez, chefe de pesquisa econômica para América Latina na JPMorgan.

Segundo ela, porém, ainda não se percebe estrangeiros comprando ativos brasileiros, mas há intenção de fazê-lo. Relatório de março do banco chamava o México de “o lado bom da América Latina” e dizia que o Brasil estaria “entre os primeiros a ver uma recessão”.

THIAGO AMÂNCIO / Folhapress

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