SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de São Paulo recebeu, nesta quarta-feira (19), um depósito de mais de R$ 150 milhões do Banco BTG Pactual e Eucatex. O valor é referente a parte do acordo firmado entre empresas, o Ministério Público de São Paulo e a PGM (Procuradoria Geral do Município) que visa recuperar US$ 60 milhões desviados durante a gestão de Paulo Maluf (1993-1996), homologada pela Justiça.
Procurada, a Eucatex afirma por meio de nota que o acordo encerra a antiga “controvérsia jurídica” e demonstra a postura colaborativa de empresa, que, sem estar sujeita a novos questionamentos, pode seguir com suas atividades de forma estável e com segurança jurídica, além de “alcançar novos níveis de governança corporativa de forma a confirmar as expectativas do mercado”.
Além do valor já depositado, a Promotoria de São Paulo afirma que em breve devem ser liberados outros dois depósitos de R$ 15 milhões para a Justiça Estadual e outros R$ 20 milhões para a Justiça Federal.
O BTG ainda vai pagar outros US$ 23 milhões referentes às despesas e custos processuais fixados judicialmente na Ilha de Jersey e Ilhas Virgens Britânicas. Devido a esse pagamento, a família Maluf vai perder mais de 1/3 da Eucatex e, por isso, as ações serão passadas ao BTG Pactual.
Com isso, o valor deve ser pago de uma só vez à prefeitura. Em 2017, o ex-prefeito foi condenado a nove anos e sete meses de prisão pelo caso. Maluf, 91, cumpre prisão domiciliar.
O dinheiro é referente a desvios na construção da avenida Água Espraiada, hoje chamada Jornalista Roberto Marinho, na zona sul da capital, e no túnel Ayrton Senna. O acordo foi assinado entre os órgãos públicos, a empresa Eucatex (pertencente à família Maluf) e as offshores Kildare, Durant e MacDoel.
O desvio de verba usava empresas-fantasmas contratadas pela construtora responsável pelas obras. À época, funcionários de empresas investigadas chegaram a confessar aos promotores que receberam por serviços que não foram executados.
As três offshores, segundo o Ministério Público, serviram de intermediárias para que o dinheiro chegasse, ao fim, à empresa da família que sempre negou as irregularidades.
Com o acordo, as offshores devem ser liquidadas e a Eucatex será excluída dos processos judiciais que a Promotoria move no caso, além de ter as contas desbloqueadas.
O encerramento do processo não exclui, porém, as medidas judiciais contra os membros da família Maluf. O Ministério Público ainda quer obter o pagamento de US$ 250 milhões a partir de seus patrimônios pessoais.
O acordo é resultado de uma ação civil pública proposta em 2001 pelos promotores Silvio Marques, Karyna Mori e José Carlos Blatt, da Promotoria do Patrimônio Público, contra Maluf, membros de sua família e empresas envolvidas nos desvios. Segundo a investigação, os US$ 300 milhões desviados foram para contas bancárias em paraísos fiscais como ilhas Jersey, Suíça e Ilhas Virgens Britânicas.
Somado a termos assinados com bancos internacionais que chegaram a US$ 55 milhões e a outras repatriações de valores que envolvem o caso, os promotores calculam que o total recuperado no caso é de mais de US$ 100 milhões. É menos do que o valor do prejuízo ao município com os desvios, que, segundo o Ministério Público.
À época do anúncio do acordo, há um mês, a Eucatex afirmou que o acordo “põe fim a uma duradoura controvérsia jurídica em múltiplas jurisdições relacionada a acontecimentos de 1997 e que levou a liquidação judicial de veículos constituídos nas Ilhas Virgens Britânicas que detinham um percentual relevante do capital social” da empresa.
A família Maluf já respondeu a processos em três países, além do Brasil, pelo caso. O ex-prefeito e o seu filho tiveram a prisão decretada nos Estados Unidos e na França, além do pagamento de multas, e entraram na difusão vermelha da Interpol à época.
Procurada para comentar o caso quando o acordo de devolução do dinheiro foi homologado, a defesa da família Maluf não quis se manifestar.
Redação / Folhapress