Entenda caminho tortuoso de ‘The Flash’ ao cinema, de Ezra Miller ao reboot da DC

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Barry Allen pode ser a pessoa mais veloz do planeta, mas nem ele foi capaz de correr rápido o suficiente para escapar das querelas que entraram no caminho de “The Flash”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (15).

Primeiro longa solo de um dos principais super-heróis da DC Comics, o filme acabou imerso em discussões que vão muito além de sua trama, de impasses com seu protagonista Ezra Miller a confusões quanto ao futuro dos personagens da editora de quadrinhos nas telas.

Maior dos problemas, Miller, que estourou com “Precisamos Falar sobre Kevin”, sempre foi excêntrico, mas parecia inofensivo e uma promessa de peso até que, em 2020, um vídeo seu agarrando uma fã pelo pescoço viralizou. Dois anos depois, a polícia do Havaí precisou ser acionada porque ele atacou verbal e fisicamente os presentes num bar de karaokê.

Na mesma viagem, foi preso por atirar uma cadeira contra uma mulher e teria ainda invadido o quarto de um casal para fazer ameaças. Pouco depois, foi alvo de um pedido de ordem de proteção provisória emitido pelos pais de uma amiga, que estaria sendo manipulada e intimidada por ele. Tokata Iron Eyes nega a relação abusiva.

De lá para cá, surgiram ainda acusações de invasão de propriedade privada e roubo. Ele admitiu algumas, refutou outras e no ano passado pediu desculpas e disse que estava procurando ajuda profissional para tratar problemas complexos de saúde mental.

Muito antes disso, porém, Miller já havia aparecido na pele do corredor no universo cinematográfico controlado pela Warner Bros. Discovery. Barry Allen, sua identidade secreta, deu as caras em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”, “Esquadrão Suicida” e “Liga da Justiça”, embora sempre de forma secundária, como alívio cômico.

Com o filme dirigido por Andy Muschietti -que o assumiu após uma debandada de diretores devido a diferenças criativas-, em produção desde antes do enfileiramento de polêmicas, Barry Allen ganha uma história só sua, num contexto ainda mais estranho quando se olha para o resto do Universo Estendido DC.

Enquanto Miller se tornava persona non grata em Hollywood, seus companheiros Henry Cavill e Gal Gadot se mantiveram como alguns dos rostos mais populares da indústria desde que vestiram os uniformes de Super-Homem e Mulher-Maravilha, respectivamente.

Mas foram os dois últimos, no entanto, que receberam cartas de demissão da Warner, que por outro lado enfrentou o inferno pessoal de Miller para mantê-lo na pele de Barry Allen. A trama de “The Flash” vai se encarregar de explicar o porquê narrativo das trocas de elenco, já que abre o precedente dos multiversos para a DC. Mas a realidade é mais complexa que a ficção.

Miller é peça chave não apenas nesta franquia do estúdio, como também em “Animais Fantásticos”, derivado de “Harry Potter” que recebe investimentos igualmente milionários e que, da mesma forma, tenta se manter de pé em meio a críticas ruins e bilheterias que se apequenam. Jogá-lo aos leões, portanto, soa improdutivo.

Para além do ator, há ainda questões maiores envolvendo a reconfiguração do Universo Estendido DC e da própria Warner Bros. Discovery enquanto empresa. O primeiro foi entregue aos cuidados dos cineastas e produtores Peter Safran e James Gunn, ex-Marvel, no ano passado, e entra num reboot completo sob o nome Universo DC.

Novos intérpretes para o Batman e o Super-Homem estão sendo buscados e uma dezena de filmes já está nos planos. O futuro do Flash de Miller depois do lançamento de agora ainda é incerto, mas o filme não fecha portas.

A segunda questão diz respeito à fusão da WanerMedia com a Discovery, Inc., concluída no ano passado. Em meio a dívidas, inseguranças no mercado de streaming e à mudança na cultura da empresa que o novo CEO, David Zaslav, vem promovendo, as grandes marcas do estúdio foram convocadas para dar lucro, de uma série com a mesma história dos filmes de “Harry Potter” a novos “O Senhor dos Anéis”.

Galinha de muitos ovos de ouro, a DC não ficou de fora do planejamento. Mas com metade de seus filmes com notas consideradas “estragadas” no agregador de críticas Rotten Tomatoes e uma arrecadação muito abaixo dos filmes da Marvel, recalcular a rota parece não uma alternativa, mas uma necessidade.

Assim, a decisão de manter “The Flash” nos planos parece fazer sentido, já que o filme, narrativamente, constrói uma ponte para o futuro da DC. Mas mesmo com 71% de aprovação no portal de resenhas e uma campanha que conseguiu blindar Miller ao não deixá-lo chegar perto da imprensa, o longa promete dar uma descarga de eletricidade nas salas de cinema.

LEONARDO SANCHEZ / Folhapress

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