SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quadradinho, passinho, pirueta, sarrada, espacate em movimento e muito, mas muito rebolado. No último domingo (7), a ex-ginasta Daiane dos Santos, 40, deixou o público com o queixo caído com sua apresentação de funk no Dança dos Famosos (Globo). Até o júri técnico ficou impressionado -ela recebeu nota 10 de Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus e 9,1 de Zebrinha, a maior nota que o coreógrafo já deu desde que julga os participantes da competição.
Nem a própria Daiane imaginava que isso pudesse acontecer, apesar das mais de 5 horas diárias dedicadas semanalmente ao aprendizado dos novos passos. “É complicado descrever o que sentimos naquele momento. Não sei dizer se essa apresentação de funk entrará para a história, mas a nossa ideia era dar nossa melhor entrega. Eu e o Dani [Daniel Norton, bailarino] viemos de comunidade e queríamos representar as pessoas”, diz ela em bate-papo com a reportagem.
A ex-atleta também afirma que todo mundo pode dançar, independentemente do tipo físico. “Não existe corpo padrão, isso é uma questão imposta pela sociedade baseada, no meu ponto de vista, num padrão que não representa a grande maioria do povo. A gente sobrecarrega as mulheres como esse olhar”, afirma ela, que não se considera favorita após a apresentação, mas decreta: “Agora o sarrafo está lá em cima”. Confira abaixo a entrevista.
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PERGUNTA – Você recebeu duas notas 10 no Dança dos Famosos numa fase em que o júri técnico não costuma dar esse tipo de nota. O que sentiu na hora?
DAIANE DOS SANTOS- Foi uma surpresa gratificante para nós, pois não esperava receber duas notas 10. É complicado descrever o que sentimos naquele momento. Não sei dizer se essa apresentação de funk entrará para a história, mas a nossa ideia era dar nossa melhor entrega. Eu e o Dani [Daniel Norton, bailarino] viemos de comunidade e queríamos representar as pessoas, o olhar alegre do funk e o poder que ele tem nesses locais. Sei que essa apresentação impactou muita gente positivamente.
P – O funk ainda é muito marginalizado?
DS – Muitos só veem de forma negativa e queria mostrar que há alegria e é bom para todo mundo. Acho que abriu a mente de quem não tinha ela tão aberta. O funk está em todos os lugares. Vi várias mensagens de pessoas que disseram que nossa coreografia melhorou o dia delas. A gente sabia que iria mexer com sentimentos, mas não tínhamos ideia de como seria grande.
P – Como é sua rotina de treinamentos e ensaios?
DS – A gente faz dois trabalhos diferentes: um no ginásio de ginástica da seleção brasileira e outro no estúdio de dança. No ginásio, montaram todo um esquema com amparo de preparador físico, massagista e apoio das meninas e treinadores. Diretamente do Domingão [com Huck] a gente também tem apoio e estrutura completos com equipe de coreografia. São em média umas cinco horas de treinos, quatro vezes na semana. Ainda não sei qual será meu próximo ritmo, estou de folga, pois no próximo domingo (14) será a vez dos meninos e depois terá repescagem.
P – E agora, como superar essa apresentação?
DS – Quando o Dani elaborou a dança eu até que dei alguns toques. A ideia era que a coreografia fosse ágil, rápida e agora o sarrafo está lá em cima. Mas quando atingimos a meta a gente dobra a meta (risos). Meu modo perfeccionista eu já abandonei porque senão fica chato e quero ser mais leve e descontraída. Meu sentimento é o de que a gente curtiu aquela dança. Sinceramente, teve até um passo que não entrou bem, mas foi mais sobre a forma de conduzir a situação após o erro, a energia que colocamos.
P – Você se considera favorita?
DS – Difícil falar em favoritismo, isso menospreza o trabalho dos outros colegas. Todos estão ali se esforçando muito, só tenho a maior pontuação.
P – O Carlinhos de Jesus já falou que a questão do corpo não impossibilita ninguém de fazer nada. O que pensa sobre isso?
DS – Não existe corpo padrão, isso é uma questão imposta pela sociedade baseada, no meu ponto de vista, num padrão que não representa a grande maioria do povo. A gente sobrecarrega as mulheres como esse olhar de que temos que ter um estereótipo de beleza condicionado a uma pequena massa e isso vai para a grande massa. Dança é para todos que querem se divertir. Não precisa ser bailarina, precisa externar alegria. Não tem a ver com corpo, mas com sentimento de libertação.
P – Esse padrão julgador já te incomodou em algum momento?
DS – As pessoas me olham com o olhar de que eu era ginasta e tinha um corpo mais magro, mas eu treinava 8 horas por dia e não faço isso tão intensamente mais hoje. Mas me cuido, faço atividade física. É sobre você ter o direito de estar como quiser. As transformações da sua vida têm de ser feitas por você. No Dança, todas nós temos corpos diferentes.
P – Você se considera um exemplo para outras mulheres se sentirem bem com elas mesmas?
DS – Acho que pode ser que eu seja um exemplo, sim, mas quero que entendam que temos o direito de ser livres. Meu desejo é que as pessoas possam pensar dessa forma. Muitos sofrem com ansiedade, depressão e males ligados à mente por detalhes como esses que a sociedade impõe. E não acho justo. Sei de casos de pessoas que estariam em um determinado “padrão” e que não estão felizes. É sobre felicidade, cuidado, amor-próprio e mentes sadias.
P- Você já participou de outros quadros na TV como o The Masked Singer e o Super Chef do Mais Você. Pensa em mais realities?
DS – Foram oportunidades e, como gosto de desafios, topei. No Super Chef eu nem sabia cozinhar e aprendi, isso me motivou e fui até a semifinal. No Masked não imaginava cantar, só no chuveiro e para os mais íntimos (risos), e foi outra descoberta boa. E, agora, no Dança percebo que nunca sabemos qual o nosso limite. Podemos não ser excepcionais naquilo, mas podemos ser bons e encarar o desafio. Sobre o futuro na TV, não sei, tudo começou com meus comentários nas competições de ginástica, que espero manter para as Olimpíadas em 2024 e no Mundial daqui a uns meses. Foco viver uma coisa de cada vez. Sem planos, mas se tiver alguma oportunidade no entretenimento vou mergulhar de cabeça.
LEONARDO VOLPATO / Folhapress