A Stellantis acaba de ser oficializada como o quarto maior grupo automotivo do mundo. Esta nova empresa resulta da união de dois grupos que, ao longo das últimas cinco décadas, agregaram diversas marcas por meio de aquisições. A indústria automobilística é marcada por conglomerados desse tipo, desde gigantes americanas que não são tão “gerais” quanto o nome sugere, até alemãs com marcas bastante distintas entre si, passando por indianas proprietárias de marcas inglesas e chinesas que detêm suecas referenciadas em segurança veicular.
A mais recente gigante automotiva surgiu da fusão de dois grupos que já possuíam históricos ricos em aquisições ao longo dos anos. Para compreender essa trajetória, vamos dividi-la em partes, percorrendo as aquisições gradualmente para facilitar a compreensão.
A história da Chrysler remonta aos anos 1920 com Walter P. Chrysler, que, ao longo das primeiras décadas, adquiriu a Dodge e criou marcas como Plymouth e DeSoto — estas últimas, porém, foram descontinuadas. Na década de 1970, a empresa comprou a American Motor Company, então proprietária da Jeep.
Nos anos 1990, a Daimler, dona da Mercedes-Benz, adquiriu o grupo americano, formando a DaimlerChrysler. No entanto, em 2007, a empresa alemã se desfez da americana, que apresentava prejuízos recorrentes e desafios, ao vender a montadora para o fundo de investimentos Cerberus. Entretanto, a crise financeira de 2008 impactou fortemente os fabricantes, incluindo a Chrysler.
À beira da falência, a Fiat entrou em cena. Em 2009, a Fiat comprou parte do grupo, finalizando a aquisição em 2014, culminando na formação da FCA.
Por outro lado, a PSA teve sua origem na década de 1970, quando a Peugeot adquiriu participação na Citroën. Em 1976, a Peugeot adquiriu a maior parte das ações da Citroën, formando a PSA Peugeot Citroën. Após adquirir e posteriormente descontinuar as operações europeias da Chrysler, a PSA transformou a DS, uma divisão tradicional da Citroën, em uma marca independente de luxo.
Em 2017, a holding francesa deu um passo estratégico importante ao adquirir a Opel da General Motors, incorporando também a Vauxhall, o braço britânico da marca. A partir desse ponto, a empresa passou a se chamar Groupe PSA.
General Motors
Como o próprio nome sugere, a General Motors é um conglomerado de marcas, embora atualmente se assemelhe mais a um grupo automotivo devido à venda e descontinuação de diversas marcas ao longo do tempo. Nos anos 2000, a GM era uma potência, abrangendo mais de 10 divisões. Além da amplamente conhecida Chevrolet e das atuais Buick, GMC e Cadillac, a empresa era proprietária de várias outras marcas. No entanto, algumas delas, como Pontiac e Saturn, foram descontinuadas após a crise de 2008, quando a empresa entrou em concordata e foi temporariamente estatizada. Antes disso, a Oldsmobile já havia encerrado suas operações.
Além das marcas nos Estados Unidos, a GM também encerrou as operações da sueca Saab e da australiana Holden fora do país. Em 2017, a Opel e seu braço britânico foram vendidos para a PSA Peugeot Citroën. Durante esse processo, a Hummer também deixou de existir como uma marca independente. O icônico SUV retornou como uma picape, mantendo sua imponência, mas agora totalmente elétrica e sob a marca da GMC.
Volkswagen
De acordo com dados da Focus2Move, a Volkswagen é a detentora do maior grupo automotivo em vendas do mundo, o que é compreensível dada a diversidade de marcas sob seu guarda-chuva. Originada como uma montadora estabelecida pelo governo de Adolf Hitler em 1937, inicialmente destinada a produzir um carro popular (o Fusca), a empresa evoluiu consideravelmente e agora abrange diversas marcas em vários segmentos automotivo
No setor de automóveis, o Grupo VW engloba não apenas a marca alemã homônima, mas também a espanhola Seat e a tcheca Skoda. Além disso, detém as marcas esportivas Porsche e Lamborghini, ambas conhecidas por seus carros de alto desempenho, e a fabricante francesa de superesportivos Bugatti. Na categoria de luxo, a Volkswagen possui 100% da Audi e exerce controle sobre a Bentley, concorrente da Rolls-Royce, embora esta última esteja, de certa forma, associada à VW.
A renomada marca de motocicletas Ducati também faz parte desse conglomerado alemão. Além disso, no segmento comercial, a Volkswagen reúne os fabricantes de caminhões MAN e Scania, bem como a marca de ônibus Neoplan. Essa ampla gama de marcas posiciona a Volkswagen como uma potência global no mercado automotivo.
Ford
A companhia que introduziu a linha de montagem e democratizou o acesso aos automóveis atualmente opera com um número mais restrito de marcas. No entanto, em um passado recente, durante os anos 2000, a Ford assemelhava-se à abordagem diversificada da Volkswagen. Naquela época, a Ford mantinha o controle de marcas britânicas clássicas e de nicho, como Aston Martin, Jaguar e Land Rover, além de ser proprietária da fabricante sueca Volvo Cars.
Às vésperas da crise financeira de 2008, a Ford conseguiu evitar a difícil situação enfrentada por suas conterrâneas General Motors e Chrysler, principalmente devido à estratégia de liquidação dessas marcas. A empresa também reduziu significativamente sua participação acionária na Mazda, deixando-a em torno de 2%.
Atualmente, o Grupo Ford abriga as marcas Ford, representada pelo icônico símbolo oval, e a Lincoln, uma marca tipicamente americana. Em escala global, a empresa estabeleceu parcerias com diversas montadoras, incluindo quatro na China, além de outras na Tailândia e na Rússia.
Toyota
A Toyota controla tanto a Lexus, sua divisão de veículos de luxo, quanto a Daihatsu, uma marca que já teve presença no Brasil e mantém uma forte presença na Ásia. No entanto, a principal fonte de vendas da Toyota concentra-se em sua marca principal. Em 2020, a fabricante japonesa foi líder mundial em vendas, comercializando 7,8 milhões de unidades, e ainda conquistou o título de fabricante do carro mais vendido globalmente, o Corolla.
Anteriormente, a empresa também era responsável pela Scion, uma marca com uma proposta mais “descolada” destinada ao mercado dos Estados Unidos. A Scion comercializava os chamados “key cars”, subcompactos que gozam de isenção de vários impostos no mercado japonês. No entanto, essa empreitada durou apenas de 2003 a 2016.
Hyundai
Em 1998, a fabricante adquiriu a Kia e a Asia Motors, consolidando assim um significativo conglomerado automotivo na Coreia do Sul. Vale ressaltar que a Hyundai, como empresa, abrange uma variedade de setores de negócios, incluindo siderurgia, construção civil, maquinário profissional, turismo, entre outros chegando até mesmo à produção de elevadores.
No âmbito automotivo, a Hyundai introduziu submarcas, como a divisão de veículos de luxo Genesis e, mais recentemente, a Ioniq, dedicada exclusivamente a veículos elétricos. Em 2020, a Hyundai-Kia se posicionou como o quarto maior grupo automotivo em termos de vendas, atingindo a marca de 6,52 milhões de unidades. No entanto, quando se leva em conta a presença da Stellantis, a empresa sul-coreana perde essa posição, caindo para o quinto lugar.
BMW
O conglomerado bávaro é o proprietário da marca que carrega seu nome, abrangendo tanto veículos automotores quanto motocicletas. Além disso, seu portfólio inclui duas marcas britânicas emblemáticas: a Mini e a Rolls-Royce. A marca de alto luxo, em particular, esteve envolvida em uma controversa disputa com a Volkswagen.
A BMW era parceira da Rolls-Royce, que, por sua vez, era a detentora da Bentley. A BMW tinha o direito de preferência na compra da Rolls-Royce. Entretanto, nos anos 80, a Volkswagen interveio e fez uma oferta mais vantajosa pela nobre marca. A situação se complicou, pois o direito de uso da marca RR pertencia à divisão aeronáutica da empresa britânica, que enfrentava uma séria crise e acabou sendo adquirida pela BMW. Esta última fez valer seus direitos, significando que a Volkswagen poderia fabricar veículos Rolls-Royce, mas sem o emblema da Rolls-Royce.
Posteriormente, um acordo informal foi alcançado. A BMW ficou com a Rolls-Royce, enquanto a Volkswagen manteve a Bentley.
Daimler
O grupo que tem a Mercedes-Benz como sua marca mais renomada é conhecido como Daimler AG. A Mercedes-Benz abrange diversas divisões, incluindo automóveis, caminhões e ônibus. Em um passado recente, a empresa alemã foi proprietária da Chrysler e suas subsidiárias (Jeep, RAM, Dodge, entre outras) em uma fusão que perdurou até 2007, sob o nome DaimlerChrysler.
Na atualidade, além das divisões esportivas, como a AMG, o grupo também detém a Smart, uma marca francesa especializada em minicarros, e a Mitsubishi Fuso, que antes era a divisão de caminhões e ônibus da montadora japonesa. A Daimler chegou a introduzir uma marca de superluxo, a Maybach, para competir com Rolls-Royce e Bentley. Entretanto, esta foi descontinuada em 2012.
Tata
Surpreendentemente, uma empresa da Índia tornou-se proprietária de duas marcas icônicas do país que a colonizou. Em 2007, a Tata Motors adquiriu, em conjunto com a Ford, a Jaguar e a Land Rover. Além disso, o grupo indiano destaca-se como um dos principais fabricantes de ônibus globalmente, mantendo parcerias, inclusive, com a brasileira Marcopolo. Além de sua presença significativa no setor de ônibus, a Tata Motors administra subsidiárias dedicadas à produção de caminhões e máquinas de construção em diversos países, incluindo a Coreia do Sul.
Renault – Nissan – Mitsubishi
Em 1999, Renault e Nissan uniram forças na busca por maior competitividade, visando o compartilhamento de plataformas. Curiosamente, a fusão planejada nunca se concretizou. Ambas as marcas continuam a ter identidades distintas, e a eficiência provém da sinergia na utilização de arquiteturas comuns, bem como do aproveitamento compartilhado de motores e conjuntos mecânicos.
No Brasil, as marcas chegaram a compartilhar a fábrica paranaense de São José dos Pinhais, originalmente da Renault, que produzia a antiga Frontier e a linha Livina. Em 2017, a aliança se expandiu quando a Nissan adquiriu a maior parte das ações da Mitsubishi, representada no país pelo Grupo Souza Ramos, uma empresa independente com licença para fabricar modelos da marca em Catalão (GO).
Neste complexo cenário, a Nissan também detém as marcas Datsun e Infiniti. Por outro lado, a Renault controla a romena Dacia, responsável pela criação do Logan e do Duster, e possui participação na russa AvtoVaz, fabricante dos modelos da Lada. Vale ressaltar que a empresa francesa quase estabeleceu uma parceria com a Fiat, antes do anúncio da formação da Stellantis.