SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A presença de ex-líderes de facções do Rio de Janeiro chamou a atenção recentemente em uma festa para comemorar o encerramento das gravações da série “Veronika”, do Globoplay. O evento ocorreu no último dia 17, na capital fluminense, e contou com a presença de nomes que comandaram o tráfico em comunidades.
Celso Rodrigues (conhecido como Celsinho da Vila Vintém), ex-chefe da facção Amigos dos Amigos; Alexander Mendes (o Polegar), ex-chefe do tráfico na Mangueira; e Nei da Conceição (o Facão) e Amabilio Gomes (o MB), ex-chefes do tráfico no Complexo da Maré foram alguns dos presentes. Eles foram fotografados ao lado da atriz Roberta Rodrigues, que interpreta a protagonista da produção, e do diretor Silvio Guindane.
Procurada pela reportagem, a Globo não comentou. No entanto, a presença dos ex-detentos foi confirmada por José Junior, presidente da AfroReggae Audiovisual e showrunner do seriado. A imagem deles no evento acabou gerando repercussão em perfis de redes sociais e questionamentos por parte de alguns internautas.
Segundo Junior, trata-se de uma ação de inclusão que visa reinserir na sociedade pessoas que já cumpriram suas penas no sistema prisional. “Muitos desses egressos trabalham nas nossas séries. As pessoas da foto cumpriram as suas penas, não reincidiram e têm o direito legal de ter uma segunda chance”, afirma.
O presidente da AfroReggae Audiovisual disse ainda que muitos dos ex-traficantes e ex-milicianos com que trabalham são usados como fontes para a construção de roteiros, em busca de verossimilhança nas obras. “Há um trabalho gigantesco do Instituto Cultural Pena Máxima e da ONG AfroReggae não só pela ressocialização e empregabilidade, como em projetos sociais que atuam na base, tirando muitos jovens da criminalidade lá no início”, comenta.
“Veronika” tem estreia prevista para 2024. Na série, a personagem que dá nome à trama é uma advogada criminalista e moradora de favela que acaba se envolvendo com o crime organizado. Também estão no elenco nomes como Marcelo Serrado, Mariana Ximenes, Cissa Guimarães e Leticia Spiller, entre outros.
CASO A CASO
Celso Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, foi um dos fundadores e chefe da facção Amigos dos Amigos (ADA), rival do Comando Vermelho (CV) e do Terceiro Comando Puro (TCP) no comércio ilegal de entorpecentes do Rio de Janeiro. Ele foi solto em outubro de 2022, após cumprir 20 anos de prisão.
Alexander Mendes, o Polegar, ex-chefe do tráfico na Mangueira, foi solto em julho de 2014. Em 2009, ele tinha sido beneficiado com o regime aberto após cumprir um sexto da pena de 22 anos por tráfico e associação para o tráfico. Em 2011, foi preso novamente para responder por três mandados de prisão contra ele por tráfico de drogas. Em 21 de março de 2014, a Justiça Federal de Rondônia declarou a condenação extinta. Um mês depois, foi concedido um habeas corpus a Polegar.
Indicado como um dos líderes da facção TCP (Terceiro Comando Puro), o traficante Nei da Conceição Cruz foi preso em 2003. Condenado a um total de 26 anos e 10 meses de prisão, Nei cumpriu 20 anos da pena e ganhou liberdade condicional em janeiro deste ano, com algumas obrigações, como a proibição de sair do estado e a obrigatoriedade de obter uma ocupação lícita.
Amabílio Gomes Filho, o MB, era apontado como o chefe do tráfico de drogas da comunidade Nova Holanda quando foi detido em maio de 2014 e levado ao presídio federal de Catanduvas, no Paraná. Em 2017, ele teve sua transferência autorizada para um presídio do Rio de Janeiro. Ele tinha sido condenado a cinco anos de reclusão em regime semiaberto.
JÚLIO BOLL / Folhapress