Morre Harry Belafonte, voz de ‘Banana Boat’ e expoente da luta por direitos civis

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Harry Belafonte, que acumulou sucessos nas paradas musicais dos anos 1950 e foi expoente da luta por direitos civis nos Estados Unidos, morreu nesta terça-feira (25), aos 96 anos, por insuficiência cardíaca. Ele estava em sua casa, em Nova York. O anúncio da morte foi feito por seu porta-voz, Ken Sunshine.

Entre os sucessos imortalizados na voz de Belafonte estão faixas como “Day-O (The Banana Boat Song)”, uma canção tradicional da Jamaica que viajou o mundo depois que o americano a gravou, em 1956. Ela mais tarde chegaria aos ouvidos de uma nova geração, ao ser usada por Tim Burton numa das cenas mais famosas de “Beetlejuice – Os Fantasmas se Divertem”.

Do mesmo álbum “Calypso”, “Jamaica Farewell” foi outra faixa de sucesso de Belafonte, que com o disco atingiu o topo da Billboard, principal parada musical americana, onde permaneceu por 31 semanas. Numa época pré-Elvis Presley, em que dados sobre a indústria fonográfica eram escassos, muitos acreditam que “Calypso” tenha sido o primeiro álbum de um só artista a vender mais de um milhão de cópias.

Também fazem parte de seu repertório “Jump in the Line”, “Island in the Sun”, “Jump Down, Spin Around”, “Scarlet Ribbons”, “Matilda” e “Brown Skin Girl”.

Apesar de ter nascido em Nova York, Belafonte foi fortemente influenciado pela origem caribenha dos pais, adicionando ao seu cancioneiro ritmos e instrumentos da região que ele ajudaria a exportar para o resto do mundo. Assim, popularizou o calipso e o mento numa época em que sua terra natal passava por uma convulsão social em meio à luta por direitos civis.

Enquanto os negros de seu país lutavam contra o racismo, Belafonte conseguiu se firmar como uma das maiores estrelas musicais dos Estados Unidos, numa época em que rostos como os seus eram raros na indústria do entretenimento.

Em 1959, uma década após o começo da carreira, ele já era o performer negro mais bem pago da história, graças ao carisma que levava às casas de show ao redor do país, de Las Vegas a Nova York. Por onde passava, Belafonte lotava plateias, que se reuniam para ouvir a amálgama de influências internacionais que compunha seu repertório.

Em meio à exposição que havia alcançado, o artista decidiu usar a fama e o dinheiro para apoiar a luta de Martin Luther King Jr., de quem havia ficado amigo no início da carreira. Belafonte não apenas financiou comitês e eventos destinados à igualdade racial como chegou a pagar a fiança para que o ativista deixasse a cadeia depois de uma de suas prisões.

Após o assassinato do líder do movimento civil em 1968, o cantor doou dinheiro para a família de Martin Luther King, o que não o impediu de entrar com uma ação contra três de seus filhos em 2013, numa disputa por documentos históricos que terminou em um acordo.

O ativismo político de Belafonte o acompanhou até o fim da vida e o tornou uma figura polêmica, tanto entre conservadores quanto entre liberais. Ainda no início da carreira, a sugestão de que seu sucesso era fruto do tom mais claro de sua pele incomodou o movimento negro, que voltou a criticá-lo quando ele deixou a primeira mulher, Marguerite Byrd, por Julie Robinson, que era branca.

Mais recentemente, tornou-se um dos opositores mais ferrenhos do governo de George W. Bush, que chamou de “o maior terrorista do mundo”. Em 2013, aliado ao então candidato à prefeitura de Nova York Bill de Blasio, comparou membros da família Koch, financiadora dos conservadores, à Ku Klux Klan. Nas eleições de 2016 e de 2020, publicou cartas pedindo aos americanos que não votassem em Donald Trump.

Para além do ativismo político e da música, o artista também fez carreira no cinema. Amigo de Sidney Poitier, foi ao seu lado um dos primeiros atores negros a fazer sucesso nas bilheterias enquanto protagonista.

Entre os filmes dos quais participou estão “Carmen Jones”, versão da ópera de Bizet estrelada por atores negros, “Ilha nos Trópicos”, que causou celeuma pela sugestão de um romance inter-racial com a personagem de Joan Fontaine, “Aconteceu num Sábado”, dirigido por Poitier, “O Diabo, a Carne e o Mundo”, “Homens em Fúria”, “Bobby” e, mais recentemente, “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee.

Venceu um Oscar honorário pelo trabalho humanitário enquanto expoente da luta por direitos civis, em 2015, um Emmy pelo programa musical “The Revlon Revue”, um Tony pelo espetáculo “John Murray Anderson’s Almanac” e um prêmio especial do Festival de Berlim. No Grammy, foram 11 indicações e duas vitórias, além de um prêmio pela carreira.

Redação / Folhapress

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