Morre Luiz Schiavon, fundador e tecladista da banda RPM, aos 64 anos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Luiz Schiavon, tecladista e fundador da banda RPM, morreu na madrugada desta quinta-feira (15), aos 64 anos, informou a família do músico nas redes sociais. Ele tratava uma doença autoimune há quatro anos.

Schiavon teve complicações durante uma cirurgia no Hospital São Luiz, em Osasco, e não resistiu. Antes de voltar ao hospital, ele já havia passado um período de 18 meses internado.

“E hoje tudo ficou mais silencioso por aqui. Vai lá gordo… rir, compor, tocar… com seu humor único e sua inteligência ímpar, em um palco muito maior, junto com tantos amigos que já se foram também.

Nos vemos logo mais”, diz a mensagem publicada em seu perfil oficial.

O perfil do RPM no Instagram também publicou uma homenagem ao tecladista. “Luiz era, na sua figura pública, maestro, compositor, fundador e tecladista do RPM, mas acima de tudo isso, um bom filho, sobrinho, marido, pai e amigo”, diz o texto. “Esperamos que lembrem-se dele com a maestria e a energia da sua música, um legado que ele nos deixou de presente e que continuará vivo em nossos corações.”

“Despeçam-se, ouvindo seus acordes, fazendo homenagens nas redes sociais, revistas e jornais, ou simplesmente lembrando dele com carinho, o mesmo carinho que ele sempre teve com todos aqueles que conviveram com ele”, segue a mensagem.

O RPM surgiu em 1983, com Paulo Ricardo, no vocais e baixo, Fernando Deluqui, na guitarra, e Luiz Schiavon, que tinha formação clássica em piano, nos teclados. A banda, que passaria por diferentes fases e novos integrantes, marcou o rock nacional com sucessos como “Olhar 43”, “A Cruz e A Espada” e a música que batiza o conjunto, “Revoluções por Minuto” -também nome do primeiro álbum, de 1985.

Embora o rock brasileiro já ganhasse corpo no meio dos anos 1980, o primeiro álbum do RPM chegou como uma bomba no mercado. Além de se tornar o disco daquela geração roqueira que mais vendeu cópias, fez do grupo um fenômeno pop país afora, com shows lotados e a figura de Paulo Ricardo como galã.

A presença de Schiavon podia ser notada desde os primeiros segundos daquele álbum, que começa com o sucesso “Rádio Pirata”, introduzida por arranjos de teclado. Além da voz de Paulo Ricardo, os sintetizadores foram os elementos mais importantes na estética do RPM, que mirava uma sonoridade futurista e mais eletrônica do que era comum entre as outras bandas dos anos 1980.

A banda fazia shows com fumaça e cenários cheios de pirotecnia e usava baterias eletrônicas para criar a ambientação moderna e tecnológica. O teclado, tocado com precisão por Schiavon, sempre foi indispensável para a sonoridade que casava com essa proposta.

Na década de 1980, não só a banda de Schiavon era a que mais usava os sintetizadores em suas músicas, entre as mais famosas, mas ele também despontava entre quem tocava o instrumento. As canções mais marcantes do RPM são quase todas introduzidas por arranjos de teclado -entre elas “Olhar 43”, “Revoluções Por Minuto”, “Louras Geladas” e a já citada “Rádio Pirata”.

O sintetizador de Schiavon vinha num momento em que instrumentos eletrônicos e computadores estavam mais acessíveis e se infiltravam cada vez mais na música pop. Ele e Paulo Ricardo, fãs de rock inglês e rock progressivo, e idealizadores do RPM, acabaram popularizando essa sonoridade synth-pop com pegada de ficção científica pelo Brasil.

O sucesso do RPM foi tão grande, e tão imediato, que o segundo álbum da banda foi um lançamento ao vivo -algo incomum pela falta de repertório de um grupo com apenas um disco. “Rádio Pirata Ao Vivo”, de 1986, veio para continuar surfando no sucesso do lançamento do ano anterior, e também vendeu bastante.

O RPM foi pensado por Schiavon e Paulo Ricardo -este, havia passado uma temporada na Europa antes de formar o grupo- para fazer estourar, e alcançou o feito logo nesses dois primeiros anos. Os shows da banda na turnê “Rádio Pirata” eram abarrotados de jovens por todo o país, fenômeno registrado em edição do programa “Globo Repórter”, da Globo.

Juntos, esses dois álbuns alcançaram números de venda dignos de Roberto Carlos, mas a ascensão meteórica também acabou se refletindo nos conflitos internos da banda, envolvendo também sexo e drogas.

“No meio dos shows, eu olhava o setlist e pensava ‘puta merda, ainda faltam sete músicas para acabar”, disse Paulo P.A. Pagni, baterista da banda, morto em 2019, ao livro “Dias de Luta”, sobre o rock brasileiro dos anos 1980, do jornalista Ricardo Alexandre. “Não sabia mais em que cidade estava tocando, em que hotel estava hospedado. Era tudo igual.”

Paulo Ricardo, ao mesmo livro, afirmou que “escrevíamos ‘RPM’ com o pó e cheirávamos, fizemos de tudo”. “Se ensaiássemos durante a noite, quem chegasse ao estúdio pela manhã faria a festa -só com as nossas sobras, sujeira. Era pó que não acabava mais.”

Em meio a uma disputa por protagonismo entre Paulo Ricardo e Schiavon, a banda chegou a se separar brevemente em 1987. No ano seguinte, lançaram o segundo álbum de estúdio, “Quatro Coiotes”, com a banda já em frangalhos. O trabalho custou muito aos cofres da gravadora, a CBS, e vendeu cerca de 200 mil cópias -menos de um décimo do álbum ao vivo.

O grupo teve quatro pausas ao longo das décadas. A formação atual, definida em 2019, tinha, além de Schiavon, Fernando Deluqui, Dioy Pallone e Kiko Zara. Paulo Ricardo seguiu carreira solo e deixou a banda em 2017. A última música lançada por eles foi “Sem Parar”, em março deste ano.

Schiavon ainda fez parte da história da televisão brasileira -foi diretor da banda do Domingão do Faustão entre 2004 e 2010 na Globo. Interagia ao longo do programa com o apresentador, tocava diferentes gêneros musicais e também foi um dos autores do jingle do quadro “Videocassetadas”. “Pra Alegria Eu Peço Bis” acompanhou o apresentador na sua ida para a Band.

A esposa de Faustão, Luciana Cardoso, escreveu o jingle junto ao tecladista e a Nil Bernardes. Schiavon não renovou o contrato com a emissora em 2011, quando a banda do programa foi substituída.

LUCAS BRÊDA / Folhapress

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