Escritoras reforçam importância da união entre mulheres no meio literário

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao citar Lima Barreto, Maria Firmina dos Reis e Cruz e Sousa, a autora Esmeralda Ribeiro criticou a imagem popularmente difundida do escritor -uma pessoa rica, com uma biblioteca em casa. “Muitos escritores tem pais analfabetos ou tiveram que ir até bibliotecas para estudar”, afirmou na última mesa da Feira do Livro.

O debate foi sobre “Um Grande Dia para as Escritoras”, livro que reúne os retratos de escritoras tirados por todo país -e que compõem o movimento de mulheres que tenta driblar as dificuldades do mercado editorial no Brasil.

“O negro não é tema. Os temas são a família, as afetividades, mas como o racismo atravessa nossas vidas, é difícil escrever e deixá-lo de lado”, argumentou Ribeiro.

Na mesma linha, Paula Carvalho, editora da Tinta-da-China, lamentou a criação da ideia, por parte do mercado editorial, de que os escritos de mulheres não se enquadram como literatura universal –como se livros femininos representassem um subgênero.

Retornando para o tema econômico, que permeou toda a conversa, Ribeiro também comemorou o fato de Giovana Madalosso, colunista da Folha de S.Paulo, e Paula Carvalho, organizadoras da primeira foto, não terem limitado a participação para o clique ou encontros.

“Se ter um livro publicado fosse requisito para participar do movimento, muitas escritoras negras ficariam de fora”, declarou, referindo-se ao fato de que muitas não tem condições financeiras de se autopublicarem.

“Ser escritora é se deixar transformar pelo mundo e transformá-lo se alguma forma”, afirmou Natália Timerman, autora de “Copo Vazio” (Todavia, 2021) e também organizadora. As mais de 50 fotos provam, segundo elas, que há muita produção literária fora do eixo Rio-São Paulo, fato a ser levado em conta pelas editoras.

À tarde, pouco antes do encerramento da Feira, já havia iniciado um burburinho em frente ao Estádio. Mulheres de todas as idades iniciaram a se agrupar para o autografaço de “Um Grande Dia para as Escritoras”, algumas vindas de outras cidades do Estado de São Paulo -como Santos e Ribeirão Preto.

O passeio dos livros entre mãos foi para que todas assinassem o livro de todas -ação acompanhada de sorrisos, selfies, risadas e abraços. Algumas já se conheciam, outras se apresentaram e trocaram contatos.

Em seguida, todas se juntaram para outro clique -com menos rostos do que 2022, mas simbolizando a continuação do movimento.

Na mesa, Madalosso confessou que, apesar de seus livros publicados, sente que nunca fez algo tão relevante quanto a organização do movimento de escritoras.

“De um ano pra cá, não teve um mês que não tenha tido um flash”, afirmou, referindo-se aos retratos que continuam pipocando pelo país desde a primeira foto. No último 3 de junho, nasceu a primeira imagem ligada ao movimento, mas composta por escritoras não-brasileiras, na Inglaterra.

ALESSANDRA MONTERASTELLI / Folhapress

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