O dia 12 tem um significado especial para o Botafogo em 2022. Após um período conturbado com a chegada de uma sociedade anônima e a perda da sua identidade com o torcedor, o acesso da Serie C para Serie B traz um novo alento depois de campanhas RUINS nos últimos campeonatos paulistas e o rebaixamento para Serie C, numa demonstração de que o futebol vinha sendo tratado como produto secundário, em detrimento da exploração do estádio para fortalecer o caixa do investidor do clube, o Botafogo sonha com uma nova era no seu futebol.
Uma era semelhante ao primeiro século do clube, marcado por momentos gloriosos, e também sofridos, Acessos e rebaixamentos, inerentes ao futebol, mas uma história feita mais de glórias e grandes craques, que supera as adversidades ao longo dos anos. uma história construída com o esforço e paixão de sua apaixonada torcida e muitos abnegados.
Em texto, fotos e vídeo, o Grupo Thathi conta um pouco desta trajetória cheia de simbolismo para Ribeirão Preto.
Inspiração no nome
Com o acordo em torno da união de forças através da fusão das equipes, era preciso então escolher o nome do novo time da Vila Tibério. Infelizmente não há relatos oficiais, documentos ou publicações em jornais que apontam como surgiu o nome Botafogo em 1918. O que se observa é que durante décadas surgiram muitas teorias e até um certo folclore acerca disso.
Ainda é praticamente impossível chegar a uma conclusão sem qualquer prova documental ou registro em ata, por isso o objetivo aqui é apresentar algumas das teses que podem explicar melhor a escolha do nome.
Nas pesquisas feitas nesses últimos cinco anos, os depoimentos encontrados e uma associação de fatos sugerem que o nome Botafogo pode ter sido realmente inspirado no homônimo carioca, fundado em 1904, portanto 14 anos antes. Essa é uma das teorias mais aceitáveis, e porque não dizer, a mais verossímil.
Ela pode se explicar pela importância do Botafogo de Futebol e Regatas para justificar uma inspiração ou homenagem. E também pela proximidade da palavra com os mentores do clube recém fundado.
Nesses 14 anos entre a fundação do clube do Rio de Janeiro e a suposta deferência feita pelos paulistas no ano de 1918, o Botafogo carioca se notabilizou com um dos grandes expoentes do futebol brasileiro daquela época, com suas conquistas estaduais (títulos de 1907, 1910 e 1912) que deram notoriedade nacional ao alvinegro, apesar de ainda jovem.
Considerando que essa tenha sido de fato a origem para o nome do recém fundado clube da Vila Tibério, podemos analisar, naquela que seria uma árvore `genealógica do futebol`, que a origem do nome do Botafogo de Ribeirão Preto deve-se em parte, e tem relação indireta, com o apelido do navio que atracou na costa do Rio de Janeiro e que depois daria nome ao bairro carioca e posteriormente a equipe da estrela solitária. *
Botafogo não era um termo exclusivo ao time do Rio. A expressão estava ligada aos candeeiros das igrejas da Idade Média e se popularizou no século XVI. Botafogo era o nome do instrumento que servia para acender o pavio dos canhões e que mais tarde serviu de inspiração para o batismo do bairro do Rio de Janeiro e consequentemente ao time de futebol. *
O nome do instrumento que servia para acender o pavio dos canhões séculos atrás, era usado também pelos ferroviários como incentivo no manejo do combustível das locomotivas. E foram os ferroviários, juntamente com os funcionários da Cervejaria Antarctica que participaram ativamente da fundação do Botafogo ribeirão-pretano. A proximidade com tal expressão Botafogo é outra tese para o batismo botafoguense.
Daí talvez venha a explicação sobre o folclore que cerca outra versão, na qual a escolha do nome teria sido fruto de uma ameaça incendiária de um dos mentores do clube. Durante a famosa reunião na Vila Tibério , após muita discussão e confusão, ele teria ameaçado BOTAR FOGO em todos os documentos e que a fusão com os demais times seria desfeita.
O Botafogo de Ribeirão foi o terceiro Botafogo da história (depois do carioca e do baiano, Botafogo Sport Club, vermelho e branco, de 1/11/1914). Outros viriam mais tarde a ter a mesma denominação em homenagem aos cariocas. O exemplo maior é o Botafogo paraibano (28/9/1931), que além das cores, adotou até a estrela, mais tarde dando a ela a cor vermelha.
O mesmo Botafogo, que no século passado se inspirou no xará carioca para o batismo, recentemente foi inspiração para a fundação de um homônimo na Europa, como o Botafogo de Cordinhã (Cantanhede), em Portugal no ano de 1971, e cujo escudo é idêntico ao do Botafogo F.C.
O primeiro presidente do Botafogo foi Joaquim Gagliano, um funcionário da Companhia Mogiana de Esttradas de Ferro. A primeira diretoria foi constituída por Joaquim Gagliano, presidente, José Thomaz, vice-presidente, José Moreira, tesoureiro, Matheus Couto, 1° secretário e José Queiroz, 2° secretário.
Em Ribeirão Preto as primeiras ruas foram denominadas rua da Esperança (conhecida popularmente como rua do Sapo, por ficar próxima aos brejos), rua das Dores, rua do Comércio, rua 4 de Julho, rua do Bonfim, travessa Alegria, travessa da Lage, travessa da Boa Vista e travessa Botafogo. Esse último local foi assim batizado porque era ali onde queimava-se boa parte do lixo da cidade, e que anos depois (por volta de 1874) passaria a ser chamada rua Saldanha Marinho. O nome da travessa, próxima a Vila Tibério, pode ter sido um incentivo a mais para os mentores do tricolor no momento de escolher o seu nome.
As três cores e o uniforme
Com o surgimento do novo time do bairro, o passo seguinte foi definir as cores da camisa. Como já citado, a relação do Botafogo como o homônimo carioca é a mais plausível, e outros depoimentos, desta vez ligados às cores do Botafogo, ajudam a reforçar a tese da homenagem ao xará carioca.
Se a reverência se deu no nome, a diferença entre eles teria que ser nas cores. E para não repetir o preto e branco foi introduzida a cor vermelha que era a preferida dos mentores do time ribeirão-pretano.
O vermelho foi escolhido por ter uma relação direta com as cores da bandeira do Estado de São Paulo – preto, branco e vermelho. O Botafogo de Ribeirão queria identificar-se fortemente como o Botafogo paulista. Com três cores, e assim é até hoje.
No primeiro rateio para a compra de material esportivo para a equipe, o clube recém-fundado mostrava a sua vocação para ser uma equipe popular e querida. Os funcionários da Cervejaria Antarctica e da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro logo aderiram ao novo time de futebol, assim como torcedores e colaboradores, que através de uma cotização uniformizaram a mais nova agremiação da Vila Tibério.
Mas os primeiros anos foram de dificuldades e o clube jogou por muito tempo com o uniforme sem a cor vermelha. Predominavam o preto, o branco e às vezes o cinza. Vermelho, apenas no escudo , criado logo após a fundação. Os primeiros uniformes eram com camisas com listras verticais e calção preto. E algumas aparições com uma camisa branca e o escudo no peito, bordado em vermelho e preto. Na temporada 1927/28 quando ganhou o título do interior, o Botafogo apresentou-se com a camisa listrada.
Nos anos 30 o branco da camisa começou a predominar e o escudo passou a aparecer com mais frequência nas camisas. E com um desenho bem próximo ao que é conhecido nos dias de hoje. Os calções vermelhos davam um toque tricolor ao conjunto.
A camisa botafoguense sofreu algumas variações até os anos 50, e a que mais chama atenção ocorreu a década de 1940. O clube passou a usar a camisa branca com faixa diagonal preta. E uma camisa preta com faixa branca (usada como uniforme número dois). O modelo branco, com as duas faixas horizontais surgiu no final dos anos 40. Primeiro com o escudo fixado no lado esquerdo do peito, acima das faixas. Depois o escudo foi para o centro da camisa.
A semelhança com a camisa do São Paulo pode ser uma mera coincidência. O certo mesmo é que o São Paulo não copiou o Botafogo, embora tenha sido fundado anos depois. Em 1930 o time da capital criaram um uniforme que decende (faixa vermelha) do C.A. Paulistano, e (faixa preta) do A.A . das Palmeiras, simbolizando a fusão dos times no São Paulo tricolor. Nas cores, o Botafogo antecede ao clube da capital.
As camisas
Até chegar ao modelo atual, com as faixas horizontais no peito e o predominio do branco, o Botafogo teve muitas variações de uniforme, principalmente até o final dos anos 40. Entre 1918 e 1949 o clube usou vários tipos de camisa, entre as quais, uma listrada verticalmente em branco e vermelho, com calções pretos. Em 1927, quando ganhou o título do interior a camisa era predominantemente branca com o escudo no peito e calções e meias vermelhas. Nos anos 30 o Botafogo experimentou uma camisa branca (ainda sem as faixas horizontais) e o escudo no centro, completada por calções e meias vermelhas.
As listras e as cores da bandeira do Estado de São Paulo moldaram o uniforme. Em 1945 o clube foi campeão da cidade, usando um uniforme cuja camisa possuía uma faixa vermelha na diagonal e o escudo ao lado esquerdo do peito. Esse modelo diagonal foi abolido.
Até que o branco, com faixas horizontais preta e vermelha passou a ser o uniforme número 1. Primeiro, o escudo ficava no lado esquerdo do peito. Depois foi para o centro da camisa, sobre as faixas, e assim é até hoje.
A semelhança com o uniforme do São Paulo é clara, mas não há registros históricos que apontem para uma ho-menagem, inspiração ou até mesmo plágio. Vale lembrar que o uniforme são-paulino é datado de 1930 e é a mistura dos clubes que deram origem ao Tricolor do Morumbi, o C.A. Paulistano e a A.A. das Palmeiras. O primeiro possuía uma faixa vermelha e o segundo uma preta no uniforme.
O conjunto do São Paulo foi confeccionado em 1930, na loja Esportes Moura, pelo conselheiro Mourinha, com uma única diferença do modelo atual utilizado pelo São Paulo F.C: as meias eram pretas, com faixa branca na parte superior. Apenas em 1944, o meião branco passou a ser a regra no clube da capital.
Em 1931 o Botafogo se apresentou na Liga Regional com uma camisa listrada na vertical, muito próxima ao modelo existente hoje.
O Botafogo passou a usar o uniforme branco com faixas horizontais no final dos anos 40. Mesmo período em que o uniforme número dois oscilava entre um modelo todo vermelho, com faixa branca e preta na horizontal (inverso do número um atual), e outro com a camisa com listras verticais finas vermelhas e short e meias brancas. Em 1953 o Botafogo usou uma camisa com listras vermelhas mais grossas na vertical e foi se adaptando até chegar ao modelo usado hoje em dia.
Altos e baixos no Paulista
Todas participações do alvinegro no Campeonato Paulista, a partir de seu primeiro acesso em 1959, virão apresentadas em números, com a descrição dos resultados de todos os jogos até o ano do centenário.
Desde a primeira partida na principal divisão do futebol paulista – ocorrida no dia 28 de junho de 1959, na cidade de Piracicaba, com a derrota por 1 a 0 no estádio Roberto Gomes Pedrosa, até a última disputada na Série A2 de 2011, em 1 de maio de 2011, com a goleada sobre o Rio Preto por 5 a 3.
São registros de 1406 partidas, desde 1959 até 2011, sendo 768 na primeira divisão de 1959 a 1986 (exceto os anos em que o clube jogou o Paulistinha classificatório 1970, 1971, 1972 e 1973) e outros 638 jogos no calvário de 25 anos até o retorno.
Estes números a seguir são dados oficiais da Federação Paulista de Futebol e de registros de arquivo pessoal. Além de toda numeralha, as páginas deste último capítulo trarão fotos das equipes respectivas a cada ano. No total de 49 formações diferentes. Uma verdadeira viagem no tempo.
A festa de 1977
A maratona de comemorações pela conquista do acesso começou na capital paulista, partindo do estádio do Palmeiras até o centro, com destino a sede do jornal “A Gazeta Esportiva”.
Centenas de botafoguenses se dirigiram até a avenida Paulista e permaneceram por lá enquanto a televisão Paulista, canal 5, homenageava os craques do Botafogo. Um programa inteiro, sob o comando do jornalista Moreira Filho, foi dedicado ao caçula da elite do futebol estadual. Das 22h30 às 23horas, só se falou do Botafogo, o Pantera, mostrando aos paulistas o novo integrante da primeira divisão, que tão bem representou a cidade de Ribeirão no cenário esportivo. Para quem não conhecia, estavam apresentados os legítimos campeões daquela temporada.
Para jogadores e torcedores, foram mais de 12 horas de muita festa. A saga botafoguense foi cansativa e teve início na noite anterior ao grande jogo. Um trem especial com 10 carros deixou Ribeirão Preto, no sábado, às 21 horas, rumo a São Paulo. Na capital, os torcedores do Botafogo ganharam o apoio de um bom número de paulistanos, fazendo com que a diferença em relação ao números de torcedores de Jundiaí fosse imperceptível.
A massa tricolor que ajudou a lotar o Parque Antártica foi a mesma que retornou rapidamente a Ribeirão para recepcionar seus campeões. As sete horas da manhã, milhares de torcedores já se aglomeravam à espera dos ídolos. Desta vez, a multidão se multiplicou rapidamente com os botafoguenses que saíram as ruas para festejar.
O 11 de fevereiro foi de uma festa poucas vezes vista em Ribeirão. Assim que o árbitro Ariovaldo Perera dos Santos apitou o final do jogo, o que se viu foi uma festa sem igual nos bares, nas ruas, nos restaurantes. Homens, mulheres e crianças se abraçando em uma explosão de felicidade. Fogos espolcando pelos quatro cantos e um grito único de Botafogo, Botafogo, ecoando cada vez mais forte.
O prefeito Costábile Romano decretou ponto facultativo. O comércio e a indústria paralisaram suas atividades após o meio dia para que todos pudessem reverenciar o time campeão.
Quando a aeronave que trazia os jogadores desligou seus motores, a torcida não se conteve e invadiu a pista do aeroporto Leite Lopes. Na chegada triunfal o “presidente da vitória” Waldomiro Silva empunhava a Taça dos Invictos acompanhando a equipe vitoriosa, envolvida pela multidão que levou os heróis aos braços até o carro alegórico que desfilou pelas avenidas Brasil, Saudade, ruas Saldanha Marinho e General Osório, contornando a praça XV e a esplanada do teatro Carlos Gomes para voltar em direção a Duque de Caxias até a sede da Vila Tibério. Mais de 30 mil pessoas aplaudiram os campeões e a comemoração teve direito ainda ao Carnaval da vitória na Cava do Bosque. Cartazes, faixas, bandeiras, um desfile de bicicletas com as cores do time e até provocação ao rival, com os homens levantando cachos de uvas em alusão ao Galo de Jundiaí. Uma festa popular, com a cara do Botafogo, o orgulho de Ribeirão.
(trecho livro Botafogo Uma História de Amor e Glórias , de Igor Ramos)
Confira a reportagem especial de aniversário: