Exército defende GSI com missões retiradas por Lula e estrutura ampliada com civis

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após a saída do general Gonçalves Dias da chefia do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), integrantes da cúpula do Exército defendem que o órgão siga sob o comando de um militar e retome atribuições que eram da pasta até o início do ano.

O GSI tinha debaixo do seu guarda-chuva a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e era responsável pela segurança pessoal do presidente e do vice-presidente da República.

Ambas as funções, porém, foram retiradas de lá, no contexto de crise de confiança entre o governo eleito e os militares. A Abin passou a responder à Casa Civil. Já a coordenação da segurança pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou à cargo da Polícia Federal.

A avaliação dos militares é que o GSI ficou esvaziado. Essa visão é compartilhada pelo general da reserva Marcos Antônio Amaro, o principal cotado para suceder Gonçalves Dias, pelo comandante do Exército, Tomás Paiva, e pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

Dias pediu demissão da chefia do GSI após a divulgação de imagens do circuito de segurança do Palácio do Planalto registradas durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.

Amaro indicou em conversas com aliados que defenderá o retorno da Abin e do comando da segurança do presidente ao GSI, caso seja escolhido para chefiar o órgão. Se a pasta seguir esvaziada, há dúvidas se toparia assumir o posto.

Lula esteve com Amaro na última quinta-feira (20), pouco antes de embarcar para Portugal. Na rápida conversa, o presidente deixou claro que Amaro estava cotado para comandar o órgão, mas afirmou que o governo ainda estudava a estrutura da pasta para decidir o que fazer com ela.

O petista ainda disse, segundo relatos, que tomaria a decisão final quando retornasse da viagem à Europa, na noite de quarta (26), e que procuraria Amaro novamente na volta.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, alas do governo divergem sobre quem deve comandar o GSI. Uma parte defende que a estrutura passe a ser chefiada por um civil, outra alega que é melhor que continue sob a tutela de um general para evitar atritos com as Forças Armadas. Há ainda quem defenda a extinção do órgão.

Segundo ministros do Palácio do Planalto, a tendência é que Lula mantenha o comando do GSI com um militar, com o intuito de preservar a relação com os fardados. Ainda é considerado o fato de o órgão cuidar de assuntos ligados às Forças, como monitoramento de fronteiras, usinas nucleares e ataques cibernéticos.

No Exército, a avaliação é que o órgão deveria ser comandado por um general quatro estrelas da reserva, para garantir que o chefe tenha patente superior à de seus subordinados —o GSI possui ao menos um general três estrelas.

A cúpula da Força ainda se mostrou favorável a aumentar o número de civis em cargos de comando no órgão.

Generais ouvidos pela reportagem afirmam que Gonçalves Dias (três estrelas) não foi indicado pelo Exército para assumir o GSI, tendo sido uma escolha do próprio Lula pela proximidade que os dois tinham.

Amaro, porém, é indicação pessoal do general Tomás Paiva. A indicação foi feita na última quinta durante reunião entre os ministros Múcio, Flávio Dino (Justiça) e Ricardo Cappelli (GSI, interino), além do comandante militar e do ex-ministro Gonçalves Dias.

“O general Tomás Paiva tem longa história de prestação de serviços ao país. Foi ajudante de ordens do presidente FHC, é um democrata. Ele se mostrou absolutamente aberto e pronto a colaborar com qualquer decisão, encaminhamento que a gente der aqui sob a orientação do presidente”, afirmou Cappelli à Folha.

“Foi uma reunião para que não restasse qualquer dúvida ou insegurança com relação a essa harmonia e colaboração”, continuou.

Cappelli apresentará a Lula um estudo sobre como definir melhor as funções do GSI, que, para ele, tem como principais atribuições atuar na segurança e fornecer informações de inteligência ao presidente.

Na segunda-feira (24), o ministro interino disse que o presidente não pediu a ele que houvesse uma desmilitarização da pasta. “O GSI ao longo de seus mais de 85 anos de história sempre foi liderado por generais do Exército brasileiro. E eu creio que é preciso a gente superar no Brasil esse falso antagonismo entre civis e militares.”

O importante, defendeu Cappelli, é definir melhor as atribuições do gabinete. “E é plenamente possível que militares e civis, como já acontece hoje, convivam harmonicamente, independente de quem vai ter a liderança no processo”, completou.

Cappelli também afirmou na tarde de segunda que recebeu de Lula a missão de “acelerar a renovação de quadros” do GSI.

“Isso é absolutamente natural em toda mudança de governo. Estamos acelerando e, em paralelo, estamos reunindo informações sobre as funções, as atribuições do GSI, para que o presidente possa tomar a decisão sob a manutenção da atual estrutura —eventuais ajustes, alterações— na sua volta ao Brasil.”

Ainda na segunda, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou que não há “debate no governo sobre mudança ou não no perfil do GSI”.

Favorito para assumir o GSI, Marcos Antônio Amaro dos Santos já havia sido cotado anteriormente para ocupar essa função, durante a transição. Após uma primeira sondagem, não foi procurado novamente.

Amaro chegou ao segundo cargo mais importante do Exército, a chefia do Estado-Maior da Força, antes de ir para a reserva em abril de 2022. Com quatro estrelas, ainda comandou o Comando Militar do Sudeste.

Ele desenvolveu relação próxima com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Os laços foram criados quando o general assumiu a Secretaria de Segurança Presidencial em 2010 —função que ocupou por cinco anos.

Ainda participou do processo de criação da Casa Militar, em 2015, sendo nomeado chefe do órgão por Dilma. Deixou o cargo após o processo de impeachment contra a presidente.

Amaro deveria ter ido à reserva antes do fim de seu período como oficial-general quando, em março de 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu nomear o general Paulo Sérgio Nogueira para o Comando do Exército.

Pelos critérios utilizados na Força, Amaro era mais antigo que Paulo Sérgio e, pela tradição militar, deveria ser levado à reserva após um militar mais moderno assumir o principal cargo do Exército.

Num arranjo interno, porém, ele conseguiu permanecer na Força por mais um ano.

JULIA CHAIB, CÉZAR FEITOZA E RENATO MACHADO / Folhapress

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