RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Quando o tema é máquinas agrícolas, o que mais se ouve das empresas fabricantes atualmente é que elas contam, na tecnologia embarcada, com conectividade para transmissão em tempo real de informações obtidas no campo.
Mas, num país em que cerca de 70% das propriedades rurais não têm internet, de que vale comprar uma colheitadeira que pode custar mais de R$ 5 milhões se o produtor não conseguir usar todos os recursos tecnológicos disponíveis nela?
Antenas de telefonia celular que operam na frequência de 700 MHz são utilizadas pela ConectarAgro para deslanchar a conexão na zona rural Para tentar responder essa e outras perguntas e, ao mesmo tempo, comercializar suas máquinas, empresas atuantes no Brasil buscam ampliar a conexão no campo fazendo parceria com concorrentes e oferecem benefícios aos compradores que podem incluir o recebimento de uma torre de telefonia celular para quem fizer grandes investimentos nesse sentido em suas propriedades.
É o que está fazendo a Case IH, que oferece a torre a produtores rurais na compra de um pacote de máquinas e equipamentos para a fazenda que ultrapasse o valor de R$ 15 milhões.
O valor, alto para quem não tem elo com o agronegócio, pode representar a compra de apenas três colheitadeiras de grãos, dependendo da marca e da tecnologia.
Na Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), encerrada na última sexta-feira (5) em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), pelo menos seis máquinas de fabricantes diversos, entre tratores, colheitadeiras de grãos e de cana e forrageira, tinham preços-base superiores a R$ 3 milhões. Entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, são ao menos outras três dezenas.
Os valores finais variam conforme os impostos cobrados em cada estado e itens opcionais instalados nas máquinas.
“Um terço dos valores investidos tem sido em tecnologia e nosso objetivo é que, até o fim do ano, 100% das máquinas saiam conectadas da fábrica”, disse Christian Gonzalez, vice-presidente da Case para a América Latina.
O investimento básico para conectar um local que hoje vive numa zona de sombra custa entre R$ 350 mil e R$ 400 mil, segundo a ConectarAgro, associação que durante a feira agrícola no interior paulista anunciou a chegada da Amazon e da Vivo entre as mais de 40 associadas.
Presidente da associação, Ana Helena de Andrade disse que a importância de conectividade no agro não é só para que o produtor obtenha mais rendimentos, mas também para que seja possível solucionar questões como ampliar a demanda de alimentos no mundo.
A gigante área descoberta no país fez com que, em 2019, um grupo de empresas que apostam na tecnologia no campo se unisse para criar a ConectarAgro, incluindo concorrentes como Valtra, New Holland, Fendt, Massey Ferguson, Case, Bayer Vivo e TIM. “Estamos juntos pelo que nos une, não pelo que nos separa”, disse a presidente.
De 7 milhões de hectares cobertos entre o início das atividades e o ano passado, o total subiu para 14,4 milhões atualmente.
Isso se deve aos contratos fechados com 40 grandes grupos agrícolas do país, que investiram pesado para conectar suas máquinas. Como o sinal é aberto, um total de 90 mil produtores rurais pequenos no entorno das grandes propriedades acabaram beneficiados com a instalação das antenas de transmissão.
A TIM informou que a sua meta é chegar a 16 milhões de hectares com o 4G até o final deste ano.
“Todas as máquinas [atuais] falam, mas poucos conseguem escutar o que elas dizem. Ampliar a conectividade é essencial”, disse Alexandre Bernardes de Miranda, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e executivo de relações institucionais da CNH Industrial.
A associação assinou um memorando de intenções com a UFV (Universidade Federal de Viçosa) para um estudo da elaboração do ICR (Índice de Conectividade Rural), com o objetivo de refletir a importância do meio rural e da produção agropecuária no país.
A ideia é que o índice tenha ponderações por tecnologia existente e o valor da produção agrícola e pecuária -como saber quem tem internet 2G, 3G ou 4G, por exemplo, e quais são suas implicações no funcionamento das máquinas.
“Não vai ser a variedade de semente, uma semente mágica, que fará o campo produzir mais, e sim a tecnologia”, disse Eduardo Kerbauy, vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina.
MARCELO TOLEDO / Folhapress