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Famosos e protestos em capitais; como foram os atos contra o PL da Dosimetria

Segundo o Monitor do Debate Político em parceria com a ONG More in Common, o ato na Paulista reuniu aproximadamente 13,7 mil pessoas

Manifestantes ocupam a Avenida Paulista, na capital paulista, para protestar contra o Congresso Nacional por causa da aprovação do Projeto de Lei (PL) da Dosimetria | Rovena Rosa/Agência Brasil
Manifestantes ocupam a Avenida Paulista, na capital paulista, para protestar contra o Congresso Nacional por causa da aprovação do Projeto de Lei (PL) da Dosimetria | Rovena Rosa/Agência Brasil

Manifestações contra o chamado PL da Dosimetria tomaram as ruas de ao menos 21 capitais brasileiras neste domingo (14), reunindo movimentos sociais, centrais sindicais, parlamentares de esquerda e artistas em atos que tiveram como eixo central o repúdio à redução de penas para condenados pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 — medida que pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Convocados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, os protestos também incorporaram críticas ao Congresso Nacional, ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e a outras pautas em tramitação no Legislativo, como o marco temporal e a escala de trabalho 6×1.

Pela manhã, houve mobilizações em capitais como Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Maceió, Fortaleza, Salvador e Brasília. À tarde, os atos ganharam maior visibilidade em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde a presença de artistas impulsionou o público e deu caráter musical às manifestações. A expectativa dos organizadores era de atos em ao menos 49 cidades.

Na capital federal, manifestantes se concentraram em frente ao Museu da República e marcharam até o Congresso Nacional, entoando palavras de ordem como “sem anistia para golpista” e exibindo cartazes com críticas diretas a Hugo Motta. Sindicatos e partidos de esquerda defenderam que a pressão das ruas pode influenciar a votação do projeto no Senado, que ainda analisará a proposta aprovada pela Câmara.

Capital Paulista

Em São Paulo, a Avenida Paulista foi ocupada a partir do início da tarde, com concentração nos quarteirões próximos ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Representantes de centrais sindicais, movimentos sociais, estudantis e partidos de oposição ao PL puxaram coros de “sem anistia” e carregaram faixas com frases como “Congresso inimigo do povo” e “Com esse Congresso não dá”. O público cresceu ao longo da tarde e, por volta das 16h, ocupava cerca de três quarteirões da avenida.

Segundo levantamento do Monitor do Debate Político em parceria com a ONG More in Common, o ato na Paulista reuniu aproximadamente 13,7 mil pessoas no pico, número inferior ao registrado em 21 de setembro, quando protestos contra a PEC da Blindagem levaram cerca de 40 mil pessoas ao local. Ainda assim, a mobilização manteve tom crítico ao Congresso e à forma como o projeto foi votado na Câmara, em sessão que atravessou a madrugada.

No carro de som, discursos de parlamentares e ministros reforçaram a narrativa de que o PL representa uma “anistia disfarçada”. O ministro da Secretaria-Geral, Guilherme Boulos, foi um dos que falaram ao público, destacando a condenação de Bolsonaro e de militares pela tentativa de golpe e criticando o que chamou de prioridades invertidas do Legislativo. “Ouça, Congresso Nacional, a voz do povo”, disse, após ser interrompido por gritos de “sem anistia”. A deputada Érika Hilton (PSOL-SP) adotou tom semelhante, classificando o Congresso como “canalha” e “inimigo do povo” e afirmando que a pauta da anistia não reflete as demandas da maioria da população.

Também presente na Paulista, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, avaliou que o Senado está mais dividido do que a Câmara e afirmou esperar que os atos pressionem os senadores a barrar o projeto. Na avaliação dele, caso a proposta avance, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve vetá-la.

Após discursos, o ato em São Paulo ganhou caráter musical, com apresentações de artistas como Zélia Duncan e Chico César. Em meio às canções, críticas diretas a lideranças do Congresso foram entoadas do palco, mantendo o tom político da manifestação.

Os cantores Caetano Veloso, Gilberto Gil e Paulinho da Viola participam do Ato Musical 2: O Retorno, em Copacabana em protesto contra o chamado PL da Dosimetria | Foto: Fabrício Sousa/Agência Enquadrar/Folhapress
Os cantores Caetano Veloso, Gilberto Gil e Paulinho da Viola participam do Ato Musical 2: O Retorno, em Copacabana em protesto contra o chamado PL da Dosimetria | Foto: Fabrício Sousa/Agência Enquadrar/Folhapress

Famosos no Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, milhares de pessoas ocuparam um quarteirão da orla de Copacabana, em um protesto dividido em dois trios elétricos: um dedicado a falas de movimentos sociais e outro ao chamado “Ato Musical 2: O Retorno”, sequência do protesto realizado em setembro contra a PEC da Blindagem. A mobilização contou com a presença de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lenine, Paulinho da Viola, Xamã, Duda Beat, Baco Exu do Blues e Leila Pinheiro, além de atrizes como Fernanda Torres, Cláudia Abreu, Sophie Charlotte, Heloisa Périssé e Júlia Lemmertz.

Caetano Veloso abriu a parte musical com “Alegria, Alegria”, enquanto discursos anteriores concentraram críticas no presidente da Câmara. Um dos trios foi coberto com uma bandeira exibindo o rosto de Hugo Motta e a inscrição “Congresso inimigo do povo”. Segundo o Monitor do Debate Político, o ato em Copacabana reuniu cerca de 18,9 mil pessoas — também abaixo do público de setembro, mas impulsionado pela forte adesão de artistas.

No Rio, além do PL da Dosimetria, manifestantes criticaram a escala de trabalho 6×1, cobraram medidas de combate ao feminicídio, condenaram o marco temporal para demarcação de terras indígenas e pediram transparência em investigações envolvendo o Banco Master. Performances chamaram atenção do público, como a de um grupo de mulheres que distribuiu bonecos de borracha representando ratos, baratas e cobras, além de fotos de deputados que votaram a favor do projeto. Para as participantes, a ação simbolizava decisões tomadas “na calada da noite” e sem transparência.

Depoimentos de manifestantes reforçaram o caráter histórico atribuído aos atos. A aposentada Angela Tarnapolsky, de 72 anos, afirmou que não poderia se omitir diante do que chamou de retrocessos democráticos e comparou o atual Congresso a períodos autoritários do passado. Já a professora Carolina Fernandes Calisto disse que a performance era um recado direto aos parlamentares:

“É o povo quem deve dar as ordens”.

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) foi um dos nomes mais celebrados no Rio após a Câmara decidir suspender seu mandato por seis meses, em vez de cassá-lo. Em discurso, agradeceu o apoio popular e afirmou que “transferirá o gabinete para as ruas” durante o período de suspensão, mantendo a mobilização contra o PL da Dosimetria e contra as chamadas emendas PIX, que permitem repasses de recursos sem detalhamento do gasto.

Manifestantes fazem ato na orla de Copacabana | Tânia Rego/Agência Brasil
Manifestantes fazem ato na orla de Copacabana | Tânia Rego/Agência Brasil

Salvador

Em Salvador, os manifestantes se concentraram no Morro do Cristo e caminharam pela orla da Barra, carregando um boneco que representava Hugo Motta, com cartazes que o chamavam de covarde, corrupto e golpista. Em João Pessoa, terra natal do presidente da Câmara, faixas com a frase “Hugo Motta vergonha da Paraíba” marcaram o protesto. Em outras capitais, como Brasília, Goiânia e Recife, discursos cobraram do Congresso a votação de pautas defendidas pela esquerda e denunciaram a repressão policial ocorrida durante a votação do projeto na Câmara, quando o deputado Glauber Braga foi retirado à força da Mesa Diretora e jornalistas relataram agressões e impedimentos ao trabalho.

Próximos passos

A Câmara aprovou o PL da Dosimetria na última quarta-feira (10), por 291 votos a 148, em sessão que terminou às 3h56 da madrugada. Relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), o texto substituiu a anistia ampla e prevê a redução de penas e mudanças nos critérios de cálculo e progressão de regime para crimes contra o Estado Democrático de Direito quando praticados no mesmo contexto. Especialistas apontam que a proposta reduz sensivelmente os percentuais de cumprimento de pena, o que pode beneficiar Bolsonaro e outros réus, como ex-ministros e militares envolvidos na trama golpista.

A matéria segue agora para o Senado, onde o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), indicou que a votação deve ocorrer ainda neste ano. Até lá, os organizadores prometem manter a mobilização nas ruas, apostando que a pressão popular pode barrar o avanço do projeto e influenciar o debate político às vésperas das eleições de 2026.

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