Harrison Ford dá adeus emocionado a Indiana Jones e leva Cannes ao delírio

Foi em meio a cotoveladas que o público com ingressos para a estreia de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” entrou no teatro Lumière, em Cannes, na noite desta quinta-feira (18). Lá dentro, além do filme, os espectadores ainda viram um Harrison Ford às lágrimas receber uma Palma de Ouro honorária surpresa.

Duas horas e meia depois, o enorme grupo daqueles que ficaram para fora da sessão mudava de endereço para a fachada do Carlton, hotel de luxo que hospeda várias das estrelas que desfilam pela Croisette todo festival, à espera de Ford e dos colegas de elenco Phoebe Waller-Bridge, Mads Mikkelsen e Boyd Holbrook.

Mas eles demoraram a entrar pela porta enquadrada por tantas câmeras de celular. Antes, deram um pulo na praia privativa do hotel, logo à frente, onde uma festa em homenagem ao filme foi montada, sob as luzes fortes do prédio histórico do Carlton. Tiraram fotos, deixaram os convidados igualmente excitados, recusaram a champanhe e foram embora antes da meia-noite.

Não foi exatamente uma aparição emocionante, como a do teatro Lumière ou a que acontece nas telas, no quinto e, teoricamente, último filme da franquia “Indiana Jones”. O sentimentalismo, afinal, é o que guia a trama, exibida fora de competição e com estreia prevista, no Brasil, para o dia 29 de junho.

Aos 42 anos, a franquia ganha respiro com um capítulo tanto anacrônico quanto calcado nos tempos atuais. Se a briga que Indiana retoma com os nazistas parece coisa do passado, não deixa também de encontrar eco num mundo tomado por ideologias extremistas.

Em paralelo, o herói que poderia facilmente chegar às telas ultrapassado ganha contornos mais humanos, que o tornam um reflexo do próprio público que cresceu vendo “Caçadores da Arca Perdida”, “Templo da Perdição” e “A Última Cruzada”.

Entre a trilogia original e “Relíquia do Destino”, o arqueólogo vivido por Ford apareceu ainda em “Reino da Caveira de Cristal”, num filme um tanto decepcionante que, talvez, tenha colaborado para que Steven Spielberg se afastasse da saga e passasse a direção para James Mangold.

Uma escolha que faz sentido ao lembrarmos que o cineasta comandou também a despedida de Wolverine das telas, com o igualmente emotivo “Logan”, que lida com temas parecidos de envelhecimento, legado e conflito geracional.

“Relíquia do Destino” começa com um Ford rejuvenescido digitalmente brigando com nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, por um artefato histórico de valor imensurável. Quando finalmente põe as mãos na peça, depois de muita pancadaria e chicoteada, percebe que ela é falsa. Mas ele não sai da missão de mãos vazias, porque encontra um outro objeto, ainda mais misterioso e perigoso.

Três décadas mais tarde, vemos um Indiana idoso, mais adequado para o Harrison Ford de 80 anos de hoje, prestes a se aposentar da vida de professor universitário. Quando os dias de descanso enfim chegam, porém, ele encontra a filha de um amigo arqueólogo, que está fugindo do mesmo nazista que levou soco do protagonista durante a guerra.

Muitos podem argumentar que “Relíquia do Destino” se aproveita de uma fórmula já gasta, de uma franquia que, há quem acredite, envelheceu mal em tempos de politicamente correto. O tal caçador da Arca Perdida, afinal, começou sua jornada como um homem branco americano explorando países “exóticos”, no enquadramento dado por Spielberg àqueles destinos, em busca de riquezas históricas.

Complicado, no mínimo, num momento em que há tanta pressão em cima de museus americanos e europeus para que devolvam artefatos roubados de outros países no passado e hoje expostos com muita pompa.

Talvez já prevendo o impasse, os produtores escalaram Phoebe Waller-Bridge, da comédia feminista “Fleabag”, para ser o novo rosto da franquia, um complemento à velha-guarda que Ford representa.

Isso não mexe com a essência do personagem, o que é ótimo. Indiana Jones, como outro personagem icônico de Ford, Han Solo, de “Star Wars”, é politicamente incorreto por essência, e é justamente daí que vem seu charme. Não que “Templo da Perdição”, principalmente, não mereça uma leitura contemporânea mais atenta, mas “Relíquia do Destino” consegue se adaptar aos novos tempos sem prejudicar seu protagonista.

É engraçado, inclusive, ver um Indiana mais velho tendo dificuldade de navegar neste novo mundo -que no filme é o da virada dos anos 1960 para os 1970, com a explosão dos hippies e movimentos civis, mas que faz com perfeição as vezes da sociedade contemporânea.

“Relíquia do Destino”, com suas cenas de ação frenéticas e que não dão respiro, pela maior parte do tempo parece só isso -um amontoado de sequências aceleradas, que não chegam perto da trilogia original.

Mas ele deixa claro que não tem essa pretensão. É um filme que veio para encerrar uma das sagas mais amadas de Hollywood, e com o melodrama de Mangold na receita, faz isso bem. Só esperamos que a Disney faça jus à despedida e não volte atrás com sequências ou, pior, um remake.

LEONARDO SANCHEZ / Folhapress

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