SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos indicadores da atividade econômica brasileira, o IBC-Br, divulgado pelo Banco Central nesta sexta (19), trouxe uma perspectiva melhor do que a esperada pelos analistas. Para especialistas, o resultado confirma a resiliência da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano, mas também mostra uma tendência de pressão inflacionária pelo lado da demanda.
O IBC-Br de março mostrou recuo de 0,15% no conjunto dos três grandes setores da economia: agropecuária, indústria e serviços. Mas o mercado esperava um recuo maior, de 0,30%, segundo a mediana de projeções de economistas. No acumulado do primeiro trimestre, o índice avançou 2,41%.
“Os dados de fato confirmam aquela perspectiva de um primeiro trimestre forte. De maneira geral, mostraram que a economia continua mais resiliente do que se imaginava”, afirma o diretor de Pesquisas para América Latina do BNP Paribas, Gustavo Arruda.
Após a divulgação do dado nesta sexta, analistas do Goldman Sachs disseram em relatório esperar que a atividade econômica no Brasil seja ainda mais beneficiada neste ano pelos programas sociais de transferência de renda que são focados em um público com alta propensão a consumir. Além disso, o banco americano enxerga a expansão da massa salarial e perspectivas favoráveis para o agronegócio como impulsionadores do crescimento econômico no país.
Mas esses fatores jogam luz para o persistente problema de inflação alta. “Pelo lado dos preços, essa tendência de maior dinamismo na atividade costuma trazer pressão inflacionária pelo lado da demanda. Especialmente em serviços, um dos setores principais nessa retomada”, diz o economista Matheus Peçanha, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Gustavo Arruda diz que é importante monitorar, daqui para frente, não apenas os índices cheios de inflação, mas também os núcleos, que excluem os itens mais voláteis da cesta de preços analisados nas pesquisas. É para esse dado que o Banco Central tem olhado ao tomar suas decisões de juros, segundo o especialista.
“Essa combinação de economia mais forte e intenção de política fiscal mais expansionista indica uma inflação de núcleo mais persistente”, afirma Arruda. Por isso, segundo o economista, o BNP Paribas não enxerga espaço para corte na taxa básica de juros, a Selic, neste ano.
Segundo Peçanha, o mercado espera para 2023 uma desaceleração nos preços de alimentos, pela queda nos custos e melhora na produção, mas uma aceleração da inflação de serviços e monitorados –itens menos dependentes da relação oferta e demanda.
Vale ressaltar que o ciclo de crédito no Brasil ainda pode gerar ventos contrários para a atividade econômica do Brasil ao longo do ano, segundo o Goldman Sachs. O banco diz que o elevado patamar dos juros, as condições financeiras apertadas, os elevados níveis de endividamento, a moderação na criação de empregos, a fraca confiança dos consumidores e das empresas e a incipiente recuperação da economia ainda podem afetar o crescimento brasileiro em 2023.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress