IPCA-15 em queda não deve alterar postura do BC sobre juros, dizem analistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A desaceleração da inflação indicada pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) divulgado nesta quarta-feira (26) não deve ser suficiente, na avaliação de especialistas do mercado, para alterar a decisão do BC (Banco Central) de manter inalterada a taxa Selic em 13,75% na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) nos dias 2 e 3 de maio.

Embora a inflação em 12 meses medida pelo índice tenha caído de 5,36% em março para 4,16% em abril, alcançado o menor patamar desde outubro de 2020, analistas destacam que o resultado está sendo influenciado de maneira relevante pela base de comparação alta do mesmo período do ano passado, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou uma forte alta nos preços das commodities.

Estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno afirma que a expectativa majoritária no mercado é a de que, a partir do segundo semestre, a inflação volte a acelerar de maneira expressiva.

Isso porque, em igual intervalo de 2022, o governo adotou medidas para baixar os níveis de inflação por conta da pressão dos preços trazida pelo conflito no Leste Europeu, como o corte de impostos sobre combustíveis e energia elétrica. “Rapidamente vamos ver a inflação subindo para um patamar acima de 6%”, afirma Rostagno.

Após desacelerar para 4% em junho, a inflação em 12 meses deve avançar para 5,1% em julho, para 5,8% em agosto, e alcançar o pico de 6,5% em setembro, de acordo com os cálculos do Banco Mizuho. A instituição financeira projeta a inflação encerrando o ano em 6,2%.

O estrategista-chefe diz ainda que a inflação de serviços, que tem sido monitorada com atenção pelo BC, seguiu em um patamar alto de 7,6% na leitura de abril. “Serviços é um grupo que o BC tem se mostrado bastante preocupado, justamente porque ele pode fazer com que a inflação fique mais resiliente.”

Para o Economista da Tenax Capital, Amabile Ferrazoli, observar em qual patamar a inflação de serviços conseguirá se estabilizar é importante para entender o quanto a política monetária ainda terá de trabalho. Ela acrescenta que a desaceleração da inflação do grupo como reflexo do efeito de aperto monetário na economia ainda está em curso.

Arte HTML5/Folhagráfico/AFP https://arte.folha.uol.com.br/graficos/8MEhZ/ *** Frente a análise do dado de inflação, Rostagno afirma que não vê espaço para que a autoridade monetária inicie, ou mesmo dê indicações de que vá começar o corte de juros na reunião da primeira semana de maio. O estrategista prevê o início do corte nos juros apenas em setembro, com a Selic em 12,25% em dezembro.

Os analistas do Goldman Sachs destacam também que, embora a base de comparação elevada esteja contribuindo para a moderação da inflação anual, a dinâmica dos preços segue desafiadora, em um cenário de mercado de trabalho apertado, com a adoção de políticas macro e microeconômicas que incluem uma “considerável expansão fiscal” em 2023 e nos próximos anos.

Reflexo da percepção média dos agentes financeiros de que o dado de inflação desta quarta não será suficiente para alterar a postura do BC pode ser visto em indicadores financeiros. No mercado de juros futuros, que indica as previsões dos analistas para os rumos da política monetária, os contratos de curto prazo operam em leve alta na manhã desta quarta-feira.

O contrato de juros futuros para janeiro de 2024 avançava de 13,17% no fechamento da véspera para 13,20% nesta quarta, enquanto o título para 2025 passava de 11,81% para 11,83%.

A expectativa dos agentes de que os juros terão de seguir em patamar elevado por mais tempo, por outro lado, leva a um fechamento das taxas longas, já que um juro mais alto no curto prazo permitiria, em tese, um patamar mais baixo no médio e longo prazo. Nesse sentido, os juros para janeiro de 2027 recuavam de 11,74% no fechamento anterior para 11,70%. Já o título para 2028 cedia de 11,94% para 11,88%.

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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