SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando o diretor Lee Cronin assistiu pela primeira vez a “A Morte do Demônio”, de 1981, ele tinha apenas nove anos uma idade pouco apropriada para se ver um filme de terror. Mas na família Cronin, todos são fãs do gênero, então o pai do cineasta mostrou ao filho tanto o primeiro episódio da franquia quanto o segundo, de 1987, em fitas de vídeo. Cronin cobriu os olhos com as mãos durante as cenas mais aterrorizantes.
Ambos dirigidos por Sam Raimi, os longas traziam um herói improvável, o atrapalhado Ash, vivido por Bruce Campbell, em uma cabana no meio da floresta com a namorada e os amigos. Eles descobrem um livro mágico que acorda espíritos malignos e assassinos.
Os personagens são possuídos, o que desencadeia um banho de sangue do qual apenas Ash sobrevive com uma motosserra substituindo uma de suas mãos, que ele próprio decepou após o membro ser possuído. O terceiro episódio da trilogia também conhecida como “Uma Noite Alucinante”, ou apenas “Evil Dead”, o título original em inglês, de 1992, assume em definitivo a verve cômica da série, levando Ash a uma aventura na era medieval.
“A Morte do Demônio” tornou-se um inesperado sucesso de bilheteria e uma peça de cinema cultuada por inaugurar o subgênero do terror em cabanas abandonadas e aquecer o mercado do terror de baixo orçamento. Raimi viria a dirigir a trilogia do Homem-Aranha lançada nos anos 2000 e “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.
“Eu me lembro das partes com animação em stop-motion e de como tudo aquilo parecia ser maluco”, diz Cronin. “Sempre vou me lembrar da cena do segundo filme em que Ash está enlouquecendo, os objetos da cabine dão risada dele e ele ri junto.” Após dirigir o terror independente “The Hole in the Ground”, de 2019, inédito no Brasil, Cronin foi recrutado por Raimi para tirar o pó da série e levá-la a uma nova direção, após um remake de 2013 e uma série de TV.
Desta vez, o novo episódio, “A Ascensão” escanteia Ash Campbell e Raimi são produtores e a cabana e traz uma família disfuncional de Los Angeles como o grupo da vez a ser atormentado por espíritos invocados pelo livro. Beth, papel de Lily Sullivan, uma técnica de guitarra que acompanha bandas em turnês, aparece sem avisar no apartamento em que a irmã, Ellie, encarnada por Alyssa Sutherland, vive com os três filhos. A família está em crise o pai os deixou e Beth tem um segredo.
Cronin vai a fundo na carnificina. O cenário doméstico, afirma o diretor e roteirista, é um belo atalho para se comunicar com o público, levando-o a um ambiente familiar. O medo ligado a se tornar pai ou mãe, ou o desafio de ser um, se mostrou como o conceito perfeito para Cronin virar do avesso com a verve frenética e perversa concebida por Raimi. “Eu mostro os piores lados de uma família”, diz.
A mãe é a primeira a ser tomada por um espírito satânico, o que gera cenas grotescas dela fazendo contorcionismos, desafiando as leis da gravidade e ostentando um rosto esfolado. O medo subconsciente do filho ser traído pela própria mãe é algo nutrido por muitos de nós, diz Sutherland.
“Falamos não só do medo que uma mãe tem de que seus filhos sejam machucados, mas do medo de que ela própria os machuque”, reflete. “Nós tivemos O Iluminado [de Stanley Kubrick] nos anos 1980, em que um pai poderia trair a família, então fico empolgada ao ver que hoje podemos ter um monstro psicótico e feminino.”
Agora com a mãe ausente, cabe a Beth, a irmã afastada, cuidar da molecada. O medo dela, diz Sullivan, é o de assumir responsabilidades. “O script honra a mitologia de A Morte do Demônio, mas o leva nessa direção claustrofóbica e brinca com as escolhas possíveis em relação à maternidade”, afirma a atriz, que aparece na tela coberta de sangue da cabeça aos pés e empunhando a célebre motosserra. “Quanto mais assustador, melhor.”
A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO
Quando Estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas
Classificação 18 anos
Elenco Lily Sullivan, Alyssa Sutherland, Morgan Davies
Produção EUA, 2023
Direção Lee Cronin
CAIO DELCOLLI / Folhapress