Em Cannes, Robert De Niro diz que Trump é estúpido

CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Robert De Niro, crítico notório do ex-presidente americano Donald Trump, voltou a alfinetar seu desafeto assim que tomou o microfone em conversa com a imprensa no Festival de Cannes. “Aquele cara é um estúpido. Imaginem se ele fosse esperto. E ainda há quem pense que ele fez um bom trabalho. Que louco que é isso.”

O ator está na mostra francesa de cinema para promover o filme “Killers of the Flower Moon”, sua nova parceria com o diretor Martin Scorsese. A história, protagonizada por Leonardo DiCaprio, é inspirada em eventos reais que aconteceram há cem anos: o assassinato em massa de indígenas no estado de Oklahoma, fruto de uma disputa com a elite branca local por recursos oriundos da exploração do petróleo.

“Não compreendo as motivações do meu personagem ou por que ele trai a confiança das pessoas ao redor”, disse De Niro, citando o papel que ele interpreta no filme, o do fazendeiro William Hale, que aspira as riquezas das terras dos nativos.

“Ele se acha no direito de fazer as coisas que faz, usa seu charme para conseguir o que quer. E isso lança um alerta sobre a banalidade do mal, sobre aquilo com que temos de nos preocupar ao nosso redor”, afirmou, citando ainda o assassinato de George Floyd por policiais brancos e o massacre da população negra na cidade de Tulsa, no começo do século passado.

A trama contada em “Killers of the Flower Moon”, que deve estrear no Brasil no segundo semestre, levou a equipe do filme a buscar o povo osage, indígenas que foram as vítimas do morticínio retratado na trama. “No começo, queríamos contar tudo a partir do ponto de vista da investigação, mas o coração da história estava em outro lugar, estava na ideia da quebra de confiança”, disse Scorsese. “Tínhamos de ser respeitosos com os indígenas.”

Ao seu lado, Standing Bear, líder da comunidade osage, endossou o diretor. “Quando soubemos que essa história seria contada, ficamos preocupados porque não sabíamos se teríamos voz”, disse. “Meu povo sofreu muito e carregamos os efeitos daquilo até hoje conosco. Scorsese restabeleceu uma confiança que havíamos perdido com os brancos.”

Também presente na conversa com os jornalistas, Leonardo DiCaprio falou da sua experiência no filme como algo próximo do antropológico.

Sua parceira de cena, a atriz de origem indígena Lily Gladstone, então tomou o microfone, dirigindo-se ao ator. “Não quero corrigi-lo, mas nós transcendemos o olhar antropológico. Isso é como nós nativos estamos acostumados a ser retratados. Vocês estavam lá como seres humanos, não como cientistas”, afirmou a intérprete de Mollie, casada na trama com o personagem de DiCaprio.

Com mais de três horas de duração, o longa marca o retorno de Scorsese a Cannes, onde ele ganhou a Palma de Ouro por “Taxi Driver”, em 1976. Seu último trabalho exibido na programação oficial do festival francês havia sido “Depois de Horas”, de 1986.

O novo filme também renova a sua parceria com dois dos atores com que ele mais trabalhou, De Niro e DiCaprio. Na história, ambos repetem a típica dinâmica scorsesiana de mestre-aprendiz regida pelos códigos do crime -dois gângsteres que poderiam estar nas ruas de Nova York ou Boston, mas aqui num cenário de pós-faroeste.

“[Scorsese] tem esse talento de mostrar a humanidade, a condição humana, mesmo nos tipos mais asquerosos”, disse DiCaprio. “Cresci vendo o relacionamento dele com De Niro e isso formou toda a geração de atores da qual faço parte.”

GUILHERME GENESTRETI / Folhapress

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