SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para a mostra panorâmica do trabalho de Elisa Bracher na Pinacoteca Estação, a artista optou por expor somente três obras, todas em escala monumental e pensadas para os espaços do museu paulistano.
A primeira sala é tomada por uma instalação escultórica formada por restos de madeira –de demolição ou que estavam há anos paradas no ateliê da artista– e pedras. O formato do conjunto é circular, mas há uma abertura pela qual o visitante pode entrar e chegar perto dos materiais.
Esta obra, que combina de maneira delicada materiais de natureza bruta, exemplifica uma questão central na poética da artista, diz a organizadora da exposição, Pollyana Quintela. “O trabalho da Elisa é uma coisa vigorosa, com muita força, mas que está fragilmente equilibrada, sempre na iminência de cair, de desabar.”
Quintella acrescenta que o combinado de madeiras lembra uma situação de ruína, como se estivéssemos antes ou depois de uma catástrofe. “Mas mesmo na catástrofe há equilíbrio”, afirma a artista. “Acho que para se salvar você tem que entender o equilíbrio da catástrofe, porque senão acaba.”
“Formas Vivas”, em cartaz até 17 de setembro, é a terceira exposição da escultora, gravadora e desenhista na Pinacoteca. A mostra explora as relações entre forma, matéria e espaço, uma característica do trabalho da artista paulistana, conhecida desde os anos 1990 por suas obras com grandes toras de madeira.
Na segunda galeria expositiva, um grande varal preso ao teto segura desenhos feitos em papel de arroz com óleo e tinta de gravura. Inicialmente, isto foi uma solução encontrada por Bracher em seu ateliê para que os desenhos secassem, mas na Pinacoteca a estrutura vira uma instalação, de modo que as ilustrações só são vistas de relance.
Das três obras expostas, esta é a mais viva, orgânica, de teor sexual por causa do vermelho escorrido no papel e também de um vídeo que funciona como uma versão animada dos desenhos. O espectador vê, projetado na parede, uma tripa sendo preenchida por tinta e óleo de cozinha, uma espécie de gosma ganhando vida.
A última sala é a mais dura de todas, por assim dizer. Nela, grandes lençóis de chumbo pendem do teto até o chão. Como são grandes, uma das janelas da Pinacoteca precisou ser removida para que eles pudessem ser içados. Uma vez dentro do espaço, foram amassados pela artista.
Houve um trabalho de engenharia para que as chapas, cada uma pesando 25 quilos, pudessem ser instaladas num prédio centenário como o da Pinacoteca. O processo matemático e logístico para que a estrutura do museu não fosse danificada é também parte da obra, diz a artista.
“Normalmente, os museus são construídos para um pensamento moderno –você pendura as coisas na parede, você tem as esculturas no chão ou em cima de bases. O que é incrível nesta exposição é admitir sair do pensamento moderno e entrar no contemporâneo.”
Isto significa entender os limites da estrutura de cada galeria expositiva, o que termina por revelar detalhes sobre o próprio espaço. “Nas três salas a gente teve que fazer isso –qual o peso daquelas madeiras todas? O varal, você pode furar [a parede] ou não pode? Tudo isso exige inúmeros cálculos, claro, mas também uma mudança de raciocínio e de relação com a arte”, afirma Bracher.
ELISA BRACHER – FORMAS VIVAS
Quando Até 17 de setembro; de quarta a segunda, das 10h às 18h
Onde Pinacoteca Estação – Largo General Osório, 66, São Paulo
Preço Grátis
JOÃO PERASSOLO / Folhapress