PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O Petit Palais é detentor do retrato de Sarah Bernhardt (1844-1923), pintado pelo amigo da vida inteira, Georges Clairin, em que a atriz aparece estirada num divã de veludo com um peignoir branco de seda que sublinha a sua graciosa silhueta.
O museu também possui inúmeras esculturas feitas pela própria Bernhardt, também artista, e, por ocasião do centenário da sua morte, inaugurou uma exposição com 400 obras sobre sua vida. Há quadros e fotografias mostrando Sarah esculpindo e várias das suas obras estão expostas. As algas esculpidas, no final da vida, na residência de Belle-Isle são particularmente representativas do seu talento enquanto escultora.
O título da mostra -“A Mulher Criou a Estrela”- não poderia ser mais verdadeiro. Sarah era filha de cortesã, foi cortesã também e amante do diretor do Théâtre de l’Odéon, que lhe confiou repetidamente o papel principal das peças. Por outro lado, utilizava a própria imagem para fazer publicidade das peças e, assim, criar o mito Sarah Bernhardt.
O percurso da exposição retrata a extensa carreira de Bernhardt, que inclui Fedra”, “A Tosca” e “A Dama das Camélias”. Não só extensa, mas reverenciada -Jean Cocteau a chamava de “monstro sagrado” e Victor Hugo se ajoelhou diante dela. Foi, aliás, depois de encenar a peça “Ruy Blas” que a atriz entrou na Commédie Française. Os seus grandes papéis da atriz são evocados através de cartazes, cenários, figurinos, joias -muitas feitas por Lalique especialmente para ela.
Ela se autorizava a fazer o que desejasse e defendia as causas que lhe pareciam justas, como a feminista e a de Dreyfus, o oficial judeu -como ela- que foi acusado de traição, degradado e deportado para a Ilha do Diabo por cinco anos até que sua inocência fosse comprovada.
A atriz interpretou papéis concebidos pelos maiores dramaturgos -Shakespeare, Racine, Victor Hugo, Edmond Rostand- e passou em turnês pelos cinco continentes. Só para o Rio de Janeiro foi três vezes, em 1886, 1893 e 1905. Sua presença, intensamente noticiada na cidade, levou os cariocas a refletirem sobre o papel da mulher.
Além da vontade de fazer a cultura e a língua francesa brilharem no exterior, as turnês permitiam escapar a um ambiente teatral do país, às vezes hostil, e descobrir o mundo num trem especialmente feito para ela e do qual há várias fotos no Petit Palais.
Só na turnê americana, Sarah fez 150 representações em 50 cidades. A propósito, ela escreveu: “Atravessei os oceanos com o meu sonho de arte e o gênio da minha nação triunfou! Plantei o verbo francês no coração da literatura estrangeira e é disso que eu mais me orgulho”.
Sarah também foi ícone da art nouveau. O seu nome é indissociável de Alfons Mucha graças aos cartazes imaginados pelo pintor no fim dos anos 1890 -de sucesso que se prolonga até hoje, particularmente os de “Gismonda” e “Dama das Camélias”.
A atriz e a artista tinham uma vida íntima que a exposição também mostra, apresentando o mobiliário e os objetos que lhe pertenceram e denotam o gosto por coisas estranhas -particularmente morcegos.
Ao morrer com 79 anos, em 1923, Sarah já era há muito uma verdadeira estrela, prevendo o culto às divas de cinema de hoje. Sua “voz de ouro” e a sua silhueta longínqua, atípica na época, fascinavam tanto o público quanto o mundo artístico e literário do qual ela foi objeto de culto.
A exposição mostra as diferentes facetas de uma mulher excêntrica que conquistou o mundo e cujo caixão foi seguido por 400 pessoas, em 1923. Bernhardt fascina até hoje.
A MULHER CRIOU A ESTRELA
Quando Ter., a dom., das 10h às 18h; sex. e sáb. das 10h às 20h; até 27 de agosto
Onde Petit Palais – av. Winston Churchill, 75008, Paris
Preço 15
BETTY MILAN / Folhapress