SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Hoje, 9 de junho, John Christopher Depp 2º passa a ser oficialmente um idoso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, a OMS (há uma discrepância entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, como é o Brasil, mas estamos escrevendo do nosso ponto de vista, portanto, sim, Johnny Depp é um idoso).
Já pode estacionar na melhor vaga, passar na frente na fila do passaporte e não precisa mais pagar por transporte público. Aliás, se encontrá-lo em um ônibus ou no metrô, o gentil seria levantar-se, caso seja mais novo, e oferecer o seu assento ao pirata do Caribe.
Mas claro que nada disso vai acontecer na vida de Johnny Depp, que estreou meio por acaso como ator de cinema há quase 40 anos, em 1984, como uma das vítimas de Freddy Krueger, em “A Hora do Pesadelo”, o primeiro de uma longa série de filmes com o serial killer que mata adolescentes em seus sonhos.
Foi seu amigo Nicholas Cage quem sugeriu que o garoto bonito de 20 anos criado na Flórida que tocava em uma banda de rock fizesse um teste para o cinema. Ele fez, passou, o filme foi um sucesso. Pegou outros papéis pequenos, inclusive no ótimo “Platoon”, dirigido por Oliver Stone em 1986, que ganhou quatro Oscars.
Mas foi John Waters, o diretor ubertrash do cult “Pink Flamingos”, de 1972, além dos incríveis “Serial Mom” e “Hairspray”, que percebeu o talento de Johnny e deu a ele o papel central de “Cry Baby”, em 1990, um musical cômico sobre um bad boy com carinha de anjo.
E essa combinação foi a marca original do jovem Johnny Depp, que fez sucesso na série de TV “21 Jump Street” como um policial infiltrado numa gangue de jovens, e, em seguida, foi “adotado” por Tim Burton como seu protagonista de estimação, desde que fizeram juntos o clássico “Eduardo Mãos-de-Tesoura”, em 1990.
A primeira metade da década de 1990 transformou Johnny Depp no ator preferido de quase todo mundo, com filmes estranhos e adoráveis como “Benny & Joon” e “What’s Eating Gilbert Grape”, lançados no mesmo 1993.
Conforme ele ia ficando com jeito mais adulto, seus personagens também foram ficando mais densos, como nos ótimos “Donnie Brasco” e “Sleepy Hollow”. Jack Sparrow, o pirata que o transformou num super-herói às avessas e num blockbuster absoluto só surgiu em 2003, quando Johnny já era um senhor de 40 anos, com quase 20 de carreira em Hollywood.
Mas, apesar de todo dinheiro, do sucesso astronômico, dos prêmios, da ilha no Caribe, das casas em vários continentes e da vida amorosa povoada de mulheres interessantes, lindas e famosas -Sherilynn Fenn, Jennifer Grey, Winona Ryder, Kate Moss, Vanessa Paradis (mãe de seus dois filhos, Jack e Lily-Rose -esta, aliás, estrela da série/fenômeno do momento, “The Idol”, da HBO Max, cujo segundo episódio, que chocou o público de Cannes com muita nudez e muito sexo, vai ao ar no próximo domingo), e claro, Amber Heard -não era nada disso que Johnny queria.
A música é sua verdadeira ambição, seu amor bandido, o que ele sempre quis fazer profissionalmente e que sempre perseguiu, desde a adolescência. Talvez essa seja a chave para entender um pouco melhor esse ator com quase 100 longas-metragens no currículo, salário na casa dos milhões de dólares e que nunca pareceu dar muita bola para as conquistas descomunais que teve na vida.
É como se ele tratasse a carreira de ator e a vida de estrela de Hollywood como quem herda da família uma padaria muito lucrativa, mas que fundo sonha em ser astronauta. Ele não desiste de manter o negócio funcionando, mas seu coração bate mais forte quando está no palco com seus colegas músicos, tocando guitarra.
O fato de que os fãs de sua banda, a Hollywood Vampires, ou mesmo do público que lotou a turnê do guitarrista Jeff Beck, de que ele participou nos meses seguintes ao julgamento que parou o mundo, irem aos shows para ver o Johnny Depp ator, não o guitarrista, deve ser uma enorme frustração.
Não que ele deixe ninguém perceber. Afinal, é um ator fenomenal, e isso não é uma mera opinião. Sua obra é um fato inegável, está aí para vista, revista, analisada. Nenhum ator medíocre engana todo mundo por tanto tempo.
Mas não é só com guitarra, papéis no cinema ou sua vida pessoal para lá de, digamos, complexa, que Johnny Depp ocupa seus dias. Ele também pinta. Seus retratos emprestam o estilo de Andy Warhol, a chamada pop art, e seus personagens são figuras conhecidas que tiveram grande significado em sua vida.
Heath Ledger, Bob Marley, River Phoenix e Hunter Thompson são alguns dos “amigos e heróis” que Johnny pintou ao longo dos anos, e que foram exibidos e vendidos em fevereiro por uma galeria em Covent Garden, um bairro londrino. A soma total chegou a 8,5 milhões de euros, algo como R$ 46 milhões.
Então, quando ele declara em uma entrevista coletiva no maior festival de cinema do mundo que “não está nem aí para Hollywood”, talvez, de fato, não esteja atuando.
TETÉ RIBEIRO / Folhapress