SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na escadaria do Theatro Municipal de São Paulo na segunda-feira (22) à noite, um rapaz vendia paçocas e um morador de rua gritava em meio a dezenas de pessoas vestindo preto que posavam para selfies. Elas estavam ali para ver o desfile de João Pimenta, que ocupou o palco da casa de espetáculos marcando a abertura da edição 55 da São Paulo Fashion Week.
Foi tudo dramático na passarela de celebração dos 20 anos da marca, respeitada por sua alfaiataria que mistura referências do faroeste americano, do rock e de uma ideia de aristocracia britânica da Era Vitoriana. Em um misto de espetáculo e desfile com a pianista Fernanda Maia tocando ao vivo sobre uma base de música eletrônica, os modelos desciam do palco para o corredor no meio da plateia apresentando conjuntos de roupas divididas por cor.
Na leva de off-white que abriu o show, por exemplo, o público viu saias semitransparentes com bordados floridos –os ornamentos se repetiam na barra das calças bocas de sino usadas com botas. Coletes, lenços e chapéus na cor creme completava os looks.
Vários modelos desfilaram saias armadas com uma das metades vazada, que deixava à vista a estrutura da roupa. Casacos justos com amarração entrelaçada nas costas e calças com amarrações nas laterais traziam uma referência de séculos passados à passarela. Cintos com tachinhas estilo punk compunham os estilos. Ao final do desfile, os 60 modelos ficaram lado a lado ao fundo do palco, como se fosse o elenco de uma peça agradecendo ao público.
O clima gótico deu lugar ao seu oposto na quarta-feira (24), quando a estilista baiana Isaac Silva ocupou o pátio da Ocupação 9 de Julho no meio da tarde para apresentar sua nova coleção, inspirada na música “Banho de Folhas”, de Luedji Luna. “É uma roupa que tem muita energia positiva”, diz Isaac, sobre a temporada, acrescentando que a locação chama a atenção para a questão dos moradores sem-teto da capital paulista.
A vibe entre o público e na passarela era de animação e gritaria a cada entrada, com a drag queen Márcia Pantera, de conjunto coloridíssimo estampado por Heloísa Ariadne, jogando folhas de arruda para a plateia. A influencer Jojo Todynho desfilou um vestido em diversas cores e foi outra a causar histeria. A primeira parte do desfile, contudo, foi mais sóbria, até pelas roupas –calças, blusas, saias e macacões em jeans escuro.
Os desfiles de Silva, jovem criadora que nos últimos anos estabeleceu sua marca entre os fashionistas e hoje é um dos principais nomes da moda nacional, nunca são apenas coleções de roupas. Na apresentação desta quarta, parte das modelos era moradora da Ocupação 9 de Julho, e ao final elas entraram carregando uma bandeira do Movimento Sem-Teto do Centro de São Paulo. Importante mencionar que a maioria do casting era de pessoas negras ou pardas e que várias delas não tinham o corpo super magro que a indústria idolatra.
Um pouco mais cedo, os fashionistas foram ao shopping Iguatemi ver desfiles em vídeo. A Corcel mostrou sapatos coloridos de couro inspirados em caubóis, no rock e no folk. Em seguida, a Depedro, com um vídeo misterioso ambientado numa praia, apresentou uma coleção sensual que acena ao folclore nordestino e à figura de Iemanjá. Seguindo a paleta de cores do litoral, a marca trouxe looks com transparência e de fazeres manuais, como crochê e bordados. Uma camiseta regata de pérolas roubou a cena.
A apresentação da maioria dos desfiles da São Paulo Fashion Week começa nesta quinta (25) e segue até domingo (28).
JOÃO PERASSOLO E CAIO DELCOLLI / Folhapress