Stylists abrem acervos e alugam roupas usadas por celebridades para o público

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Gostou do tomara que caia dourado que Meghan Markle vestiu na última terça, dia 16, em um evento de gala em Nova York? O modelo foi criado pela estilista colombiana Johanna Ortiz e está à venda por R$ 4.000. Puxado, né?

Um dos grandes ícones da moda da atualidade, Kate Middleton também compra roupas em lojas normais, muitas vezes caras, mas nem sempre.

O vestido branco de bolinhas pretas que usou para visitar os estúdios da Warner Bros. há alguns anos era da marca de fast fashion inglesa Topshop. Custava em torno de R$ 400 e esgotou em minutos.

Uma das coisas que faz da futura rainha da Inglaterra uma personagem a ser observada é sua atitude em relação ao que veste. Kate vive repetindo roupas e reforma peças usadas na gravidez para se ajustarem à sua silhueta esbelta de antes dos três partos.

Manu Carvalho, personal stylist e professora de moda das universidades Faap e Panamericana, diz que alugar roupas é o novo preto. Mas não pense nos casarões da avenida Rebouças e trajes formais e antiquados. A história é alugar roupas de acervos de quem trabalha com moda.

Mais especificamente, acervos de stylists, profissionais responsáveis por criar uma imagem completa, juntando roupas, sapatos, acessórios, joias ou bijuterias. Muitas vezes eles ainda dão ideias de cabelo e maquiagem, para que o visual fique em harmonia.

Não são só produtores de moda, aqueles que batem perna pelas lojas ou assessorias das grifes para pegar emprestado ou comprar as roupas que são usadas em comerciais, editoriais de moda, filmes, novelas ou mesmo por apresentadores de televisão, cantores, artistas etc.

Os stylists são como arranjadores da orquestra. São eles que dizem quantos violinos, quantos pianos, quantas flautas, trombones ou contrabaixos são necessários para que a sinfonia seja bem executada.

Ao longo de uma carreira, esses profissionais acabam juntando uma quantidade expressiva de peças de roupas de valor altíssimo que costumam não ter mais uso.

“As pessoas pensam que todas as celebridades ganham roupas de graça, mas não é bem assim. Nem todas as grifes acham o máximo que uma celebridade apareça usando a marca. A gente compra muita roupa. Elas são usadas uma vez e não temos para onde mandá-las”, afirma Manu.

Ela mesma não aluga as peças de seu acervo. Isso exige, ela diz, uma logística complexa, com controle do que saiu e voltou, em que estado etc. Mas notou que vários colegas começaram, durante o confinamento provocado pela pandemia, a pensar em outro destino para aquele monte de peças de moda que acumularam.

Foi o caso da dupla de stylists Zuel Ferreira e Juliano Pessoa, que moram e trabalham juntos há 22 anos. Zuel de Recife e Juliano de Brasília, eles vieram a São Paulo estudar moda e fizeram curso com o diretor criativo e stylist Giovanni Frasson, ex-editor de moda da revista Vogue.

Primeiro Zuel virou assistente de Giovanni, depois Juliano ganhou este cargo. No meio do caminho, eles se uniram romanticamente e profissionalmente e passaram a trabalhar de forma independente, fazendo campanhas e vestindo nomes como Claudia Raia, Bruna Marquezine, Angélica, Grazi Massafera, Camila Queiroz, Mariana Ximenes, Carol Ribeiro e Ana Furtado.

Foi no meio do ano passado que, com uma coleção de roupas invejáveis, decidiram profissionalizar o que já faziam informalmente e sem ganhar dinheiro: dar segunda chance às peças que colecionaram.

Então, contrataram a assistente Maria Dantas, pernambucana como Zuel, que acabara de sair de um emprego de muitos anos na principal assessoria de comunicação de moda do Brasil, a MKTMix, e criaram a OVNI. A empresa funciona como acervo para aluguel de roupas de moda e tem no Instagram a sua principal plataforma de divulgação e relacionamento com clientes.

Instalada em um apartamento na rua da Consolação, ao lado daquele em que os dois moram, na região dos Jardins, a OVNI tem araras por todos os cômodos e oferece roupas para todos os gostos. Mas ainda não para todos os tipos físicos.

“Queremos atingir o público normal, por isso estamos aumentando nosso acervo com peças de tamanhos maiores”, diz Zuel. “Não cabe mais no mundo em que a gente vive essa história de comprar uma roupa para usar em uma única ocasião e nunca mais.

É antigo e ultrapassado esse conceito de não repetir looks, tanto em ocasiões diferentes quanto em pessoas diferentes”, acrescenta Juliano.

O sonho deles é ir além e, no futuro, reformular as peças que têm, transformando-as em algo novo e, aí sim, único e sustentável. “Essa cultura já existe”, diz Juliano. “Alexandre Herchcovitch faz isso há anos na grife À la Garçonne, e a Vivienne Westwood fazia a mesma coisa há mais tempo.”

Maria conta que o preço para o aluguel de uma peça é calculado pensando em 30% do valor original. “Mas depende muito de quanto tempo a pessoa vai querer usar e quantas peças vai levar. Se o preço original for proibitivo, a gente não vai cobrar 30%, porque ainda assim vai continuar proibitivo. A gente sabe que precisa ser flexível no mercado”.

Além da OVNI, uma das maiores empresas de aluguel de roupas de grife é a Shop and Share, da empresária Marina Morena, também localizada na rua da Consolação.

Marina não é stylist. É consumidora de moda, que sempre comprou roupas de grife porque pode e gosta, mas agora aluga vestidos caros para quem não tem o mesmo poder aquisitivo. Marina não respondeu aos pedidos de entrevista do jornal. Como a OVNI, ela usa o Instagram como plataforma de divulgação e comunicação com o público.

E não é só o bem-estar ou a vaidade das pessoas que esta nova forma de acessar a moda beneficia. “O que mais envelhece uma peça de roupa é deixá-la no armário, sem uso. O tecido endurece, a cor muda, fica com cheiro. Quando você põe em uso, a roupa toma sol, toma vento. Você cuida melhor de uma peça quando usa bastante”, afirma Manu.

“Muitas vezes o nosso desejo tem curta validade, mas nem por isso deve ser desprezado.”

TETÉ RIBEIRO / Folhapress

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