A Câmara Municipal de Piracicaba segue apurando a morte da pequena Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, que morreu após ter sido picada por um escorpião em Piracicaba. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) tem ouvido depoimentos dos envolvidos no caso. A garota passou por atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Cristina, mas não recebeu o soro antiescorpiônico.
Nesta quinta-feira, 9, a mãe da criança disse que a médica responsável pelo atendimento teria informado que não havia soro na UPA e que por isso ela seria transferida para a Santa Casa.
Patrícia Duarte contou aos vereadores que estava na casa do pai, no bairro Santa Fé 1, desde a semana anterior ao acidente porque a casa em que ela morava com Jamilly pegou fogo. Ela disse que a criança estava brincando com um primo na calçada, por volta das 20h20. A mãe estava no interior da casa, ao telefone com uma cunhada quando ouviu o grito da filha. Segundo o relato, a menina entrou na casa e disse que tinha sido picada por alguma coisa no dedo do pé. A mãe disse que logo imaginou que seria escorpião. O avô da criança então saiu na calçada e conseguiu encontrar o escorpião próximo ao hidrômetro.
Patrícia Duarte disse que o irmão, que mora no bairro Santa Fé 2, foi avisado imediatamente, dirigiu-se até à casa do pai e levou as duas à UPA Vila Cristina, que é o ponto mais próximo. “Ali foi um momento de terror com a minha filha”, avaliou a mãe. “Eu não sabia o que fazer, só queria que passassem minha filha na frente, mas me disseram que eu tinha que aguardar como qualquer outra mãe. Quem estava lá viu o desespero da minha filha. Jamais imaginei que eu passaria por isso. Foi muita negligência da parte deles”.
A depoente relatou que Jamilly gritava de dor, enquanto ela tinha que fazer a ficha para o atendimento. A mãe disse que saiu sem os documentos da criança e que os dados foram preenchidos de forma errada. No acolhimento, a menina já começou a vomitar. “Fui para a sala da médica e ela atendeu com uma calma como se a Jamilly tivesse só com uma gripe”, colocou.
A criança foi então encaminhada para a Sala de Observação. Patrícia Duarte disse que se alterou quando a médica informou que ela estava recebendo soro fisiológico, dramin e dipirona e que havia acionado o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para transferir a criança para a Santa Casa. A mãe questionou o motivo de ela já não receber o soro antiescorpiônico e, nesse momento, a médica teria dito que não havia na unidade.
“Eu alterei a voz e ela falou que não poderia ajudar se eu não me acalmasse”, afirmou. “Se não tinha o soro, já podiam ter avisado na recepção e a gente podia ir para outro lugar, o carro estava ali e não teria perdido tanto tempo”.
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Patrícia Duarte também comentou sobre as dificuldades da equipe da UPA para manter o acesso venoso na criança. Segundo a mãe, assim que chegou, um dos membros da equipe do Samu questionou o motivo de a criança estar sem acesso, que nesse momento já havia sido perdido e os enfermeiros da UPA tentavam uma nova punção. “Eles estavam perdidos. Na minha opinião, quem entra nessa área tem que ter uma noção”, afirmou.
A mãe também relatou como foi o atendimento na Santa Casa, onde Jamilly chegou por volta das 22 horas e recebeu o soro antiescorpiônico imediatamente. Ela falou sobre a melhora do quadro, com o soro, depois a piora, durante a madrugada, e os momentos finais da filha, na manhã seguinte.
A Prefeitura já havia informado que a UPA da Vila Cristina é ponto estratégico para atendimento de casos de picada de escorpião e estava abastecida com soro, mas a médica alegou à CPI, em depoimento anterior, que não sabia que havia o insumo no local. Transferida para a Santa Casa, Jamilly recebeu o soro, mas não resistiu e morreu na manhã seguinte, 12 de agosto.
Familiares – A CPI também ouviu, nesta quinta-feira (9), os depoimentos do tio de Jamilly, Wilson das Graças Adriano Duarte, e do avô, Geraldo Fernandes Duarte. Eles relataram sobre o momento da picada, o socorro à Jamilly e a chegada à UPA, por volta das 20h40. O tio relatou que esperou o atendimento do lado de fora da unidade e que estava em contato o tempo todo com a mãe da criança pelo telefone. Ao ouvir a reclamação sobre a demora no atendimento, ele disse que tentou entrar na unidade, mas foi impedido pelo segurança.
“As falhas, a nosso ver, são visíveis, mas a mãe relatou a forma como ela foi tratada, a maneira como foi recebida, como o caso foi trabalhado”, avaliou o advogado da família de Jamilly, Luciano Alves Lima, que acompanhou os depoimentos junto com o colega João Mazzi Bruno. “As pessoas trataram como um atendimento comum. Essa visão foge dos protocolos que nós entendemos como de urgência e emergência. Isso demonstra, a meu ver, a falta de preparo para uma função tão importante como é a UPA”.
Para o advogado, os trabalhos da CPI vão contribuir para que situações como a de Jamilly não se repitam. “Está sendo um trabalho sério, que está buscando apontar as falhas e corrigir isso para que os fatos não voltem a ocorrer. Os vereadores estão fazendo um trabalho de forma ilibada, que acredito que terá um grande ganho para a sociedade de Piracicaba”, afirmou.
O presidente da CPI, vereador Acácio Godoy (PP), disse que era necessário, após os depoimentos dos profissionais que prestaram o atendimento, ouvir agora a versão da família. “Nós tínhamos a versão de quem prestou o atendimento e faltava fazer esse cruzamento das versões para testar, a partir do ponto de vista da mãe, como se deu o atendimento. Hoje a gente conseguiu fechar esse círculo entendendo do ponto de vista de quem atendeu e agora, de quem foi atendido”, afirmou.
Com informações: Câmara Municipal de Piracicaba