New Order e Blur agitam plateia grisalha em ótimos shows no Primavera Sound

BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS) – “Eu me sinto tão extraordinário”, cantou Bernard Sumner, iniciando “True Faith”, um dos vários clássicos do New Order no excelente show que o grupo apresentou nesta quinta (1º) no Primavera Sound Barcelona 2023.

Iniciando com “Regret” e “Age of Consent” e finalizando com a absoluta “Love Will Tear Us Apart” -da banda que originou o New Order em 1980, o Joy Division de Ian Curtis-, foram 75 minutos de ode a canções do século 20 que ainda funcionam muito bem no 21.

Foi um dos pontos altos do primeiro dia do festival, que segue hoje com apresentações do calibre de Depeche Mode e Kendrick Lamar. A Amazon Music transmite ao vivo alguns desses shows a partir das 14h30 (horário de Brasília), em seus canais na Twitch ou por meio do Prime Video. Não é preciso ser assinante.

O som do Primavera Sound parece perfeito. Mesmo de longe, é possível escutar com clareza os diversos instrumentos no palco e, no caso do New Order, o baixo de Tom Chapman, que substituiu Peter Hook em 2011, é parte essencial do som de rock dançável e eletrônico despejado em cima de dezenas de milhares de pessoas à beira do mar de Barcelona.

“Sub-Culture”, “Bizarre Love Triangle”, “Temptation”, “Blue Monday”. Quem quer que, no final dos anos 1980, tenha comprado o LP duplo branco “Substance”, com três faixas de cada lado sabe do que se está falando.

Velho? Velho. A quantidade de senhores e senhoras grisalhos se sentindo extraordinários não estava no gibi, para usar expressão igualmente jurássica. Esse fator estava nos palcos.

Ainda com Gillian Anderson nos teclados e Stephen Morris na bateria, o New Order envelhece com dignidade. Anderson, com atitude extremamente fleumática, sem esboçar mínimas reações, parece uma professora de piano com sua longa bata e olhar estático reprovador.

O momento fofo da noite foi quando o vocalista e guitarrista Sumner subiu à plataforma da amiga e dividiu os teclados em “Blue Monday”, primeiro hit do grupo. A câmera pegou um close dele sorrindo de forma bastante afetuosa para Anderson, o que ela simplesmente ignorou e olhou para baixo.

Sumner tem 67 anos e isso está na cara. De camiseta e calças pretas, com tênis, um óculos de leitura sobre o nariz e um andar já ligeiramente encurvado, faltou ao vovô uma blusa de malha amarrada com um nó na frente.

E foi com um figurino bastante parecido, mas usando uma pólo branca, que Damon Albarn subiu ao mesmo palco principal, horas depois, para liderar um show arrebatador do Blur.

Extremamente calcado na guitarra de Graham Coxon, o Blur ao vivo soou muito mais como uma banda de rock’n’roll do que seus discos, mais dançantes, possam fazer crer.

O vocalista também estava de óculos, mas um mais moderno, provavelmente um wayfarer da Ray-Ban, e no fim, vestiu uma bomber para segurar o vento oceânico da noite de primavera. O show terminou quase 4h da manhã.

“There’s no Other Way”, “Tracy Jacks”, “Beetlebum”, “Coffee and TV”, “End of the Century”, “Country House”, “Parklife”, “Boys and Girls”, “Tender” e “Song 2”. Ufa, é uma set-list que poderia ser uma coletânea de best of Blur.

A apresentação visual também foi marcante, com imagens nos telões sempre em preto e branco, mas tratadas com cores, substituindo o branco por azul, rosa, verde, amarelo etc.

Apenas uma década mais novo que o New Order, o Blur também não pode ser descrito como a última novidade quente do show business, mas o público mais jovem embarcou fácil na dos ingleses, com grupos dançando animadamente pelo gramado artificial que recobre a frente dos palcos gêmeos Estrella Damm e Santander.

São as duas tribunas principais, lado a lado, onde os artistas se alternam para que o público não tenha que aguardar a desmontagem de equipamento de uma atração e a montagem do próximo.

Mais cedo, o Le Tigre arregimentou uma boa audiência em uma área menor, que também tinha um palco gêmeo ao lado, onde Alison Goldfrapp, envolta em macacão/capa de lantejoulas azuis, havia acabado de apresentar, com menos sucesso, seu elegante som eletrônico.

O Le Tigre, visto ao vivo, demonstra ser uma continuação, ou mesmo uma cópia, do B-52´s e sua seminal “Rock Lobster”. Um cara e duas garotas, elas vestidas como bonecas, com meias-calças de cores chocantes no sentido cítrico da new wave. Nos telões, igualmente coloridos as letras aparecem em cima de placas cromáticas ou cubos mágicos.

A qualidade do som ali não colaborou, mas talvez estivesse apenas baixo demais para os gritos ardidos do Le Tigre, especialmente em sua música assinatura “Deceptacon”, que exigiria um castigo maior das caixas acústicas.

O jornalista viajou a convite da Amazon Music

PRIMAVERA SOUND BARCELONA 2023

Quando até sábado (3), a partir das 16h (11h em Brasília)

Onde Parc del Fòrum, Barcelona, Espanha

Preço € 125 (R$ 675) por dia, mais taxa de conveniência

Transmissão Amazon Music na Twitch (https://music.amazon.co.uk/live/events/LTWUIOCCUC) ou Prime Video (não é preciso ser assinante)

IVAN FINOTTI / Folhapress

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