BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Escolhido como novo número dois do Ministério da Fazenda, Dario Durigan é formado em direito, foi assessor especial na Prefeitura de São Paulo e trabalhou para o WhatsApp durante as negociações do projeto de lei das Fake News no Congresso.
A experiência diversificada, com atuação na administração pública e no setor privado, é citada por interlocutores como uma credencial para o cargo que carrega como uma de suas atribuições comandar a Fazenda quando seu titular, Fernando Haddad, se ausenta do país.
Durigan é descrito por pessoas que o conhecem como alguém inteligente e habilidoso. Por outro lado, ainda há dúvida sobre como será sua atuação no dia a dia de um ministério tão grande como a Fazenda, que conduz ao mesmo tempo pautas como o novo arcabouço fiscal e medidas para o setor de crédito, e no diálogo com outros membros do governo e do Congresso.
Seu antecessor, Gabriel Galípolo, agora indicado para a diretoria do Banco Central, imprimiu marca própria nessas duas frentes, contribuindo para tirar do papel uma agenda intensa de anúncios nos primeiros quatro meses de governo e atuando nas conversas com o Legislativo.
O novo número 2 da Fazenda não tem fama no mercado financeiro como o antecessor, mas é conhecido na burocracia pública. As primeiras impressões de interlocutores do governo são de que há certo receio com o ritmo das decisões da pasta a partir da troca.
A mudança é anunciada em um momento crucial para o governo, com articulações de propostas-chave para a agenda econômica como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária.
Como representante do WhatsApp, Durigan compareceu a audiências públicas sobre outra proposta que hoje é decisiva para o governo, embora esteja fora da alçada direta da Fazenda: o PL das Fake News, que tem como objetivo endurecer as regras contra redes sociais.
Na ocasião, ele defendeu o ponto de vista do app de mensagens pertencente ao grupo Meta (antigo Facebook). As chamadas big techs e o governo travam uma queda de braço em torno do teor do texto, que na semana passada teve votação adiada em meio ao risco de derrota da base aliada.
Nas discussões sobre a proposta, Durigan já defendeu que certos trechos representam uma intervenção muito ampla no modelo de negócios da empresa, estabelecendo condições que piorariam o serviço para o usuário.
De acordo com o parecer do relator do PL, Orlando Silva (PC do B-SP), Durigan afirmou aos parlamentares que o WhatsApp já adotou medidas exitosas para coibir abusos da liberdade de expressão, como reduzir as cadeias de encaminhamento, sem rastrear dados de usuários. “Em 2020, por exemplo, foi vedado o disparo em massa de mensagens”, afirma o texto.
Em sua visão, no entanto, o projeto acabaria por identificar todas as mensagens de encaminhamento em massa de usuários, o que violaria proteção de dados pessoais e os direitos dos usuários.
Gigantes da tecnolgoia têm usado diferentes estratégias para barrar o projeto. Conforme mostrou a Folha, o Google lançou uma ofensiva contra o texto, de acordo com emails, prints e relatos obtidos pela reportagem, além de um levantamento do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Durigan entrou no WhatsApp em 2020. Começou a carreira como estagiário no escritório de advocacia Pinheiro Neto, um dos principais de São Paulo, e no Ministério Público Federal.
Depois, acumulou experiência no serviço público federal. Foi coordenador de projetos na Advocacia-Geral da União e chegou a assessor da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil em 2011, durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
IDIANA TOMAZELLI E FÁBIO PUPO / Folhapress