Paraná prevê expansão do mercado de suínos e quer aproximação com SC

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Com a ampliação de frigoríficos, e agarrado a uma expectativa de abertura de novos mercados para exportação, o Paraná tenta brigar por mais espaço na suinocultura, setor que no Brasil é liderado hoje por Santa Catarina. Paraná fica no topo do ranking nacional quando se trata de frangos, mas, a produção de suínos no estado vizinho representa quase 30% do mercado brasileiro, de acordo com os números mais recentes do IBGE. O Paraná está em segundo lugar, com uma fatia de 20% aproximadamente.

A maior aposta do Paraná agora tem relação com a instalação de uma nova unidade da Frimesa na cidade de Assis Chateaubriand, no Oeste do estado – o frigorífico inaugurado está entre os maiores da América Latina e começou a operar nas últimas semanas. O investimento ficou em torno de R$ 1,4 bilhão. Outras marcas paranaenses, como Alegra e Coopavel, também fizeram investimentos recentes – no cálculo do governo do Paraná, a produção de suínos deve ter um crescimento de 8% a 10% neste ano de 2023.

“Nós queremos ser mais agressivos na venda de suínos. Vamos continuar mantendo a pegada da nossa produção de frango, que é grandiosa, e também estamos qualificando o leite para ir para o mundo. Mas a nossa produção de suínos está crescendo, tem qualidade e selo sanitário. Nos falta agora exercitar mais a habilidade comercial”, avalia o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.

O Paraná recebeu da OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) o reconhecimento internacional como área livre de febre aftosa sem vacinação há 2 anos. Sem o selo sanitário, o Paraná ficava impedido de tentar entrar em quase dois terços do mercado mundial de suínos. Para Santa Catarina, o certificado internacional chegou em 2007.

A chancela internacional é considerada um marco para os produtores do Paraná, mas, a abertura do mercado, reconhece Ortigara, não é um processo veloz. Paraná já exporta carne suína para mais de 30 países, mas a disputa agora são pelos chamados “grandes mercados”, como Japão, Coreia do Sul e México, que, de acordo com o setor, pagam um valor melhor pelo produto.

“O comércio mundial é jogo bruto. Esses países têm acordos comerciais com inúmeros países que nós, o Brasil, infelizmente não temos. Mas queremos quebrar esta lógica”, diz Ortigara, ao acrescentar que, com a guerra na Ucrânia, e a desarticulação da cadeia produtiva, houve uma procura por “locais que sejam potencialmente estáveis, confiáveis a longo prazo”.

No mês passado, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), liderou uma comitiva internacional para o Japão e a Coreia do Sul, para negociar a abertura do mercado da carne paranaense. “São dois países com requisitos próprios de habilitação. Tudo tem um protocolo. Começa com questionários que os dois países trocam, os Ministérios. Mas convidamos eles para conhecer as plantas no Paraná. Futuramente eles devem mandar auditores para ver a questão da biossegurança”, diz Ortigara.

Empresários do Paraná avaliam que o momento é especialmente favorável ao consumo da carne do porco, com o aumento do preço da carne bovina e uma redução no custo de produção da carne suína – os grãos começaram a baixar após dois anos de elevação e a alimentação dos animais costuma representar até 80% do custo total. Por outro lado, também há queixas sobre falta de pessoal para fazer as inspeções nos frigoríficos e uma avaliação geral de que há uma lentidão nos acordos bilaterais.

O presidente-executivo da Frimesa, Elias José Zydek, aponta que a falta de fiscais federais habilitados para realizar a inspeção nas unidades de produção tem sido um obstáculo para o crescimento do setor e critica os governos federal e estadual.

“Do que adianta fazer missões internacionais, para China, Ásia, levando empresários, se o Ministério não tem gente para fazer inspeções? É um despropósito que os políticos andem mundo afora tentando estimular a exportação se não tem a mínima condição de ter um fiscal trabalhando. É um verdadeiro atraso”, afirma ele.

Com sede em Medianeira (PR), a Frimesa é formada por cinco cooperativas (Copagril, Lar, C.Vale, Copacol e Primato) e tem seis unidades industriais. A nova planta, em Assis Chateaubriand, está programada para chegar a 15 mil abates de suínos por dia até 2028. Até o final de 2023, o objetivo é atingir uma média de 7.500 animais/dia.

“Nós visualizamos um cenário positivo para a carne suína no mundo, baseados na competitividade que nós temos em relação ao custo de produção. Temos grãos, tecnologia, genética, indústria. E há oportunidades no mundo: Europa está reduzindo sua produção, há um avanço de abertura de mercados. Mas tem uma burocracia do Ministério e do governo estadual junto aos protocolos internacionais. E isso não depende de nós, da iniciativa privada. Precisamos de ações mais objetivas e rápidas”, cobra Zydek.

Outros empresários do setor fazem uma avaliação semelhante. “Ainda não colhemos os frutos deste status sanitário [de dois anos atrás]. Porque isso passa por dois momentos. Um é a OIE declarar o Paraná como área livre. O segundo passo é os mercados que exigem este status fazendo o reconhecimento do estado como tal”, diz Luiz Otavio Morelli, gerente-executivo da Alegra, empresa paranaense que atua no ramo da carne suína.

Em 2023, a Alegra já tem programada a exportação para 32 países, mas os principais destinos ainda são Hong Kong, Uruguai, Cingapura, Argentina e Vietnã. “E a gente não vai ter dificuldade para fornecer produtos de qualidade para os grandes mercados, como México, Coreia do Sul e Japão. Nosso pátio industrial é bastante moderno. O Paraná tem tudo para chegar no nível que SC tem hoje, mas precisamos acelerar”, afirma Morelli.

A Alegra tem hoje uma unidade frigorífica, que fica em Castro (PR), com abate de 3,5 mil suínos/dia. Também tem dois centros de distribuição, um em São José dos Pinhais, na região de Curitiba, e outro em Barueri, na grande São Paulo, inaugurado no começo deste ano.

De acordo com Morelli, a Alegra prevê expandir em 15% o volume de abate ainda em 2023. A empresa também pretende aumentar a fatia de industrializados a partir do processamento do abate. “Queremos crescer nas linhas de maior valor agregado, com cozidos, defumados, presuntaria, charcutaria de modo geral, e os itens in natura premium”, antecipa ele.

CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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