SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Antes de subir ao palco, Nena Inoue, de 62 anos, inicia a peça “Sobrevivente”, em cartaz no Sesc Pinheiros, no mesmo nível da plateia. De frente para a primeira fileira, ela estabelece um vínculo com o público antes de contar a história de sua vida. Afinal, o que se vê é uma conversa, alicerçada na realidade do teatro documental e em certo misticismo. Ali está uma atriz que deseja ouvir as vozes de seu passado.
Dirigida por Henrique Fontes, dramaturgo premiado por “A Invenção do Nordeste”, a atriz faz em cena uma investigação sobre a própria ancestralidade, revisitando os primeiros anos da infância até a recente descoberta da ascendência indígena.
“Nunca tive tanto interesse em falar de mim, sou uma atriz do século 20, gosto de personagens e texto, mas descobri uma função social do teatro, provocando nas pessoas o desejo de conhecer mais sobre o passado delas”, afirma Inoue.
De família paterna japonesa, e, materna, brasileira, Inoue nasceu em Córdoba, na Argentina. Seu pai, filho de japoneses, havia rumado para lá em busca de uma vaga na faculdade de medicina. Sua mãe era renegada pela família do marido, que não aprovava o casamento com uma mulher que não fosse de origem nipônica.
Nesse contexto de violência, sua mãe, semianalfabeta, foi empregada doméstica e batalhou para ingressar no curso de enfermagem. Na Argentina, uma menina com origens tão díspares também era alvo de chacota dos colegas.
Fontes e Inoue pensaram em encenar uma ficção que abordasse a questão indígena. Entenderam, depois, que a história já havia sido escrita na vida real. No palco, a atriz interage com Pedro, filho mais novo que estuda teatro, e com elementos cênicos do universo documental. As pistas deixadas pela certidão de nascimento, por exemplo, são o ponto de partida para a história.
Ganhadora do Prêmio Shell de 2019 na categoria de melhor atriz, Inoue vive em Curitiba, onde realiza boa parte de seus trabalhos. “Sobrevivente” faz parte de uma trilogia iniciada com “Para Não Morrer”, que estreou há seis anos. Em 40 anos de carreira, a atriz encenou mais de 80 peças, trabalhando com nomes como Felipe Hirsch e Aderbal Freire-Filho. “Sobrevivente” também significa ter criado dois filhos fazendo teatro no Brasil e fora do eixo Rio-São Paulo.
“Fazer sucesso nunca foi uma questão para mim, mas, em Curitiba, as peças só têm repercussão quando fazem acontecem no Rio ou em São Paulo. Eu sempre quero continuar o meu trabalho e, para isso, uso a minha vocação de fazer encontros”, afirma.
A SOBREVIVENTE
Quando Até 3/6; qui. a sáb. às 20h
Onde r. Paes Leme, 197
Preço R$ 30
Classificação 12 anos
Elenco Nena Inoue e Pedro Inoue
Direção Henrique Fontes
GUSTAVO ZEITEL / Folhapress