BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em reunião com ministros na manhã desta quinta-feira (27) que deverá nomear o general Marcos Antonio Amaro para chefiar o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Se confirmado, o militar entrará no lugar do general Gonçalves Dias, que pediu demissão da pasta após a divulgação de imagens do circuito de segurança do Palácio do Planalto registradas durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.
Amaro tem relação próxima com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Os laços com a ex-presidente foram criados quando o general assumiu a Secretaria de Segurança Presidencial em 2010 função que ocupou por cinco anos.
O general ainda participou do processo de criação da Casa Militar, em 2015, sendo nomeado chefe do órgão por Dilma. Deixou o cargo após o processo de impeachment contra a presidente.
Lula esteve com Amaro na última quinta-feira (20), pouco antes de embarcar para a Europa. A conversa durou menos de 10 minutos e o presidente disse que o procuraria novamente quando voltasse de viagem. O novo encontro, porém, ainda não ocorreu.
Na ocasião, o presidente também disse que o governo está conduzindo estudos sobre as atribuições e o desenho da pasta.
Nesta quinta, o governo anunciou a demissão de mais 58 servidores do GSI com isso, são 87 exonerações em dois dias.
O ministro interino do órgão, Ricardo Cappelli, também anunciou que vai editar uma portaria para exigir a comprovação das vacinas contra a Covid-19 para todos os servidores da pasta.
Antes das exonerações desta quinta, o GSI contava com um efetivo de 1.014 servidores (881 militares e 133 civis).
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o Exército defende que o GSI recupere funções que foram retiradas pelo governo Lula. O órgão tinha a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) debaixo do seu guarda-chuva e era responsável também pela segurança pessoal do presidente e do vice-presidente da República.
A gestão Lula acabou retirando ambas as atribuições do GSI, porém, em razão da crise de confiança entre o governo eleito e os militares. A Abin passou a responder à Casa Civil. Já a coordenação da segurança pessoal de Lula ficou a cargo da Polícia Federal.
Com a retirada dessas funções, a avaliação feita pelo Exército e compartilhada por Amaro é que o órgão ficou esvaziado.
A expectativa é que ele defenda a Lula o retorno da Abin e da função de comando da segurança do presidente ao GSI. Se a pasta seguir esvaziada, há dúvidas se toparia assumir o posto.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, alas do governo divergem sobre o futuro do GSI. Uma parte dos aliados de Lula defende a ascensão de um civil à chefia do órgão e há inclusive quem pregue a extinção da pasta.
Se Lula confirmar a escolha por Amaro, isso significará a vitória da ala do governo que pregava manter um militar à frente do órgão.
Essa ala, encabeçada pelo ministro José Múcio Monteiro (Defesa), justifica que é uma tradição o GSI ser comandado por um militar e que mudar isso agora poderia gerar traumas e ruídos políticos.
O receio é que tirar um general do comando do órgão gere crise com a caserna e num momento em que militares serão alvo de parlamentares na CPI mista que investigará os ataques aos três Poderes.
Além de manter um general, se Lula optar mesmo por Amaro também prestigiará a cúpula do Exército.
Isso porque generais ouvidos pela Folha de S.Paulo afirmam que Gonçalves Dias (três estrelas) foi uma escolha pessoal do próprio Lula. Os dois são amigos há duas décadas.
Já Amaro seria uma indicação pessoal do próprio general Tomás Paiva. O comandante do Exército citou o nome de Amaro na última quinta durante reunião entre os ministros Múcio, Flávio Dino (Justiça) e Ricardo Cappelli (GSI interino), além do comandante militar e do ex-ministro Gonçalves Dias.
Amaro já havia sido cotado anteriormente para ocupar essa função, durante a transição. Após uma primeira sondagem, não foi procurado novamente.
O militar chegou ao segundo cargo mais importante do Exército, a chefia do Estado-Maior da Força, antes de ir para a reserva em abril de 2022. Com quatro estrelas, ainda comandou o Comando Militar do Sudeste.
JULIA CHAIB / Folhapress