SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sem a presença de ministros do PT, o ato político de abertura da 4ª Feira Nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), nesta sexta-feira (12) em São Paulo, teve apenas o ministro Márcio França (PSB), de Portos e Aeroportos, representando o governo Lula (PT).
Tampouco estavam presentes o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB).
Na quinta (11), o MST acenou aos mandatários da direita por meio de um dos dirigentes do movimento, Gilmar Mauro, que disse ver “uma linha política interessante” no governo e na prefeitura.
De acordo com assessores do MST, o ato político acabou deslocado desta sexta para o sábado (13) por causa da agenda das autoridades. A promessa é a de que ministros petistas passem pela feira no sábado, quando o movimento planeja um novo evento, que pode ter a presença de Lula e anúncios do governo federal. Ao menos sete ministros e três governadores são esperados.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), irá à feira no sábado, segundo sua assessoria.
No evento que marcou a volta da feira ao parque da Água Branca, na capital paulista, após quatro anos, havia representantes de centrais sindicais, além de uma série de deputados federais e estaduais do PT, do PSOL e do PC do B.
Durante a tarde, após o evento, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, esteve na feira.
O esvaziamento de autoridades no ato ocorre no momento em que o governo federal é pressionado pelas invasões do MST no Abril Vermelho e pela reação de empresários do agronegócio.
O MST é alvo de uma CPI na Câmara dos Deputados ofensiva que se espalha pelas Assembleias Legislativas, como mostrou a Folha de S.Paulo.
Questionado pela reportagem, o dirigente do MST João Pedro Stedile minimizou as ausências. “Até domingo vai passar um monte de governante aqui, isso não tem nada a ver com a política”, disse.
Integrantes do movimento também apontaram que a viagem de Lula ao Ceará, nesta sexta, mobilizou ministros na comitiva.
O vereador Jair Tatto (PT), autor da lei que incluiu a feira no calendário oficial da cidade, agradeceu a prefeitura e o governo do estado por autorizarem o evento.
Braço direito de Tarcísio, o secretário Gilberto Kassab (PSD), de Governo e Relações Institucionais, foi outra ausência ele foi representado por seu secretário-executivo, Marcos Penido.
Kassab foi mais de uma vez mencionado por integrantes do MST, que lhe agradeceram por viabilizar junto a Tarcísio o aval para a feira, que havia sido proibida na gestão João Doria.
Penido disse levar ao evento “o abraço” de Tarcísio e de Kassab, acrescentando que o estado estava muito feliz de abrigar a feira. Ele destacou a “importância do campo” para o país e afirmou que “faz parte do governo de Tarcísio a luta contra a fome”.
França afirmou que, com o governo Lula, se “volta a respirar um ar positivo” e que o MST foi imprescindível para a vitória do petista. Sem mencionar Jair Bolsonaro (PL), afirmou que deve haver “punições para quem excedeu na hora certa”.
“O grande desafio é afirmar nosso governo perante o Congresso”, acrescentou França, no momento em que Lula sofreu derrota na Câmara e passou a liberar emendas para fidelizar sua base.
O ministro deixou o local antes do fim do ato.
Parlamentares, como Ivan Valente (PSOL-SP), criticaram a CPI do MST, que veem como uma tentativa de criminalizar o movimento. E apontaram que o grande agronegócio também deve ser alvo de investigação, mencionando crimes ambientais.
Gilmar Mauro também criticou a CPI, que disse ser sem objeto, e lembrou que comissões anteriores não deram em nada. “Estou me lixando para CPI”, afirmou.
Desde janeiro, o MST promoveu 18 invasões de terra. Nos quatro anos do governo Bolsonaro, foram 159 invasões, sendo 37 delas no ano passado.
Em entrevista à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Stedile afirmou que o governo federal está “lento” e que o MST, ainda que defendendo o presidente, aumentará a “pressão social”.
Na quinta, Gilmar Mauro afirmou à imprensa que, apesar de terem ajudado a eleger Lula, o movimento é “é independente e tem autonomia” e existe para defender os interesses dos sem-terra.
Para integrantes do movimento, a feira serve ao propósito de demonstrar apoio da sociedade ao movimento e também é um instrumento de pressão pela reforma agrária.
Após Doria ter proibido a realização da feira no local em sua gestão, Tarcísio voltou a autorizar o evento, depois da intermediação de Kassab. O parque pertence à esfera estadual, por isso a autorização do Palácio dos Bandeirantes é necessária.
A última feira ocorreu, portanto, em 2018, antes do veto de Doria e da pandemia, que também impossibilitou o evento.
A 4ª Feira Nacional do MST vai até domingo (14) e teve início na quinta-feira (11). O movimento estima que 500 toneladas de alimentos agroecológicos de cooperativas de 24 estados sejam colocados à venda e que 300 mil pessoas visitem o evento.
CAROLINA LINHARES / Folhapress