RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Com a ampliação do Auxílio Brasil às vésperas das eleições, a renda média das camadas mais pobres da população avançou em 2022, e a desigualdade dos rendimentos atingiu o menor nível de uma série histórica iniciada em 2012 no país.
É o que apontam dados divulgados nesta quinta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o instituto, a renda domiciliar per capita dos 5% mais pobres dobrou em 2022, mas ainda ficou abaixo de R$ 90 por pessoa por mês. O rendimento mensal dessa camada da população alcançou R$ 87, em média, no ano passado.
O valor representa um salto de 102,3% em relação a 2021, quando a renda dos 5% mais pobres havia despencado a R$ 43 por mês. Em 2012, ano inicial da série histórica, a quantia era de R$ 82.
Os resultados integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2022. Os dados foram divulgados em termos reais, ou seja, com o ajuste pela inflação.
A renda domiciliar per capita corresponde ao ganho total por uma família dividido pela quantidade de pessoas na residência. A pesquisa do IBGE vai além do mercado de trabalho e também apresenta estatísticas sobre o rendimento dos brasileiros a partir de outras fontes, como aposentadorias e benefícios sociais.
A alta de 102,3% entre os 5% mais pobres foi a maior entre 13 faixas de população pesquisadas pelo IBGE. Segundo o instituto, em termos relativos, os ganhos foram mais intensos entre as camadas de menor renda devido principalmente à ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 às vésperas das eleições de 2022.
A base fraca de comparação e a retomada do mercado de trabalho também geraram efeitos, de acordo com o órgão de pesquisas.
Das 13 faixas analisadas, apenas a dos brasileiros 1% mais ricos teve variação negativa no rendimento. Nessa camada, a renda média domiciliar per capita recuou 0,3%, de R$ 17.494 em 2021 para R$ 17.447 em 2022.
DESIGUALDADE NA MÍNIMA DA SÉRIE
Em meio a esse contexto, a desigualdade medida pelo índice de Gini caiu para o menor nível da série iniciada em 2012. O indicador passou de 0,544 em 2021 para 0,518 em 2022.
O índice mede a concentração dos ganhos. Seu valor varia de zero (perfeita igualdade) a um (desigualdade máxima). Apesar da redução, o indicador ainda segue em um nível elevado se comparado ao de outros países, segundo o IBGE.
Em outra comparação divulgada pelo instituto, o rendimento domiciliar per capita da metade da população com os menores rendimentos subiu 18% no ano passado, para R$ 537.
Isso quer dizer que o ganho médio dos brasileiros 1% mais ricos (R$ 17.447) correspondeu a 32,5 vezes a renda da metade da população com menos recursos (R$ 537).
Embora o abismo siga existindo, a diferença é a menor da série histórica. Em 2012, ano inicial dos registros, a marca era de 38,2 vezes.
O IBGE apontou que “houve forte redução da desigualdade do rendimento do trabalho em todas as grandes regiões devido, sobretudo, ao ganho de ocupação ocorrido em 2022”.
“Além disso, outro fator relevante é o pagamento dos benefícios do Auxílio Brasil, cujos valores médios, superiores ao antigo Programa Bolsa Família, podem ter contribuído para os ganhos de rendimento domiciliar ocorridos na primeira metade da distribuição de renda em 2022”, acrescentou o instituto.
LEONARDO VIECELI / Folhapress