No pior ataque em décadas na Austrália, homens armados abriram fogo, mataram ao menos 15 pessoas e feriram outras 40 durante um evento de celebração judaica na praia de Bondi, em Sydney, a mais famosa do país, neste domingo (14).
A polícia do estado de Nova Gales do Sul informou que os atiradores eram pai e filho. O primeiro foi morto, e o segundo, detido com ferimentos leves. O governo trata o episódio como um ato terrorista.
Os policiais ainda investigam se um terceiro atirador esteve envolvido. Mike Burgess, funcionário da inteligência australiana, disse que um dos suspeitos era conhecido das autoridades, mas não considerado uma ameaça imediata. A identidade deles não foi divulgada.
Pelo menos uma criança morreu no atentado. Um cidadão de Israel também foi morto. As vítimas tinham de 10 a 87 anos, e não há informações sobre outros estrangeiros.
A polícia isolou o local, e esquadrões antibombas vasculharam a região em busca de dispositivos explosivos que pudessem ter sido instalados. Um artefato foi encontrado em um carro deixado no local e removido pelos especialistas.
Uma das praias mais famosas do mundo, Bondi costuma ficar lotada de moradores e turistas. Vídeos que circulam na internet registram centenas de pessoas correndo em pânico durante o tiroteio.
Uma das gravações registra um dos criminosos em ação antes de ser imobilizado por um homem, aparentemente civil, que lhe tomou a arma. Ele foi chamado de herói pelo premiê. Outro vídeo mostra um atirador disparando várias vezes de uma passarela próxima, antes de ser atingido pelas forças de segurança.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, do Partido Trabalhista, classificou o caso de chocante e angustiante. Segundo ele, tratou-se de um ato terrorista devastador. “Foi um ataque direcionado contra judeus australianos no primeiro dia da [celebração] Hanukkah, que deveria ser de alegria, uma celebração da fé. Foi um ato de maldade, antissemitismo e terrorismo que assola o coração da nossa nação”, afirmou.
Em paralelo, o premiê foi alvo de críticas da oposição e de autoridades israelenses, que o acusam de tolerar ações contra judeus.
A Austrália é um dos países com maior população judaica no mundo, atrás de Israel e EUA e tem registrado uma série de ataques antissemitas contra sinagogas, prédios e carros desde o início da guerra de Israel em Gaza, em outubro de 2023. Estimativas mais recentes apontam para cerca de 110 mil a 120 mil o número de judeus no país.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, acusou o governo australiano de ter alimentado o antissemitismo. “Há três meses, escrevi ao primeiro-ministro australiano dizendo que sua política está jogando gasolina no fogo do antissemitismo”, disse ele, referindo-se a uma carta que enviou a Albanese, em agosto, após o anúncio de Canberra de que reconheceria formalmente o Estado da Palestina. “O antissemitismo é um câncer que se espalha quando os líderes se calam e não agem.”
Em setembro, a Austrália anunciou o reconhecimento de um Estado palestino ao lado de outros países, incluindo Reino Unido, Canadá e Portugal. O movimento foi puxado pela França. À época, Albanese defendeu “as aspirações legítimas e de longa data do povo da Palestina de ter um Estado próprio”.
O presidente israelense, Isaac Herzog, por sua vez, disse que judeus foram atacados neste domingo por “terroristas vis” quando foram acender a primeira vela do Hanukkah, tradicional celebração judaica.
Já o ministro das Relações Exteriores do país, Gideon Saar, disse estar consternado. “Estes são os resultados da onda antissemita nas ruas da Austrália nos últimos dois anos, com os apelos antissemitas e incitantes de ‘globalizar a Intifada’, que se concretizaram hoje”, afirmou.
“Se fomos alvos deliberados desta forma, trata-se de uma escala que nenhum de nós jamais poderia ter imaginado. É algo horrível”, disse Alex Ryvchin, co-diretor do Conselho Executivo da Comunidade Judaica Australiana, à Sky News, acrescentando que seu assessor de imprensa ficou ferido no ataque.
Sussan Ley, líder do Partido Liberal, da oposição, disse que a perda de vidas no episódio foi significativa. “Os australianos estão em profundo luto esta noite, com a violência odiosa atingindo o coração de uma comunidade australiana icônica, um lugar que todos conhecemos tão bem e amamos: Bondi”, afirmou.
Testemunhas relataram caos e pânico. “Vi pelo menos dez pessoas no chão e sangue por toda parte”, disse Harry Wilson, 30, morador que testemunhou o tiroteio, ao jornal Sydney Morning Herald.
O caso repercutiu em todo o mundo. O rei britânico Charles disse ter ficado entristecido. O presidente dos EUA, Donald Trump, por sua vez, afirmou que o ataque terrorista foi “puramente antissemita”.
Já o Itamaraty comunicou que não havia informações de brasileiros entre as vítimas. “O governo brasileiro expressa solidariedade às famílias das vítimas, às pessoas feridas e a todos os demais afetados, bem como ao povo e ao governo australianos. O Brasil reafirma seu enérgico repúdio a todo ato de terrorismo e a quaisquer manifestações de antissemitismo, ódio e intolerância religiosa”, diz trecho de nota.
O incidente deste domingo é o pior do tipo na Austrália desde 1996, quando Martin Bryant, um homem de 28 anos, matou 35 pessoas e feriu outras 23 na colônia prisional histórica de Port Arthur, um lugar turístico no sudeste da Tasmânia. Ele foi condenado a 35 prisões perpétuas. Foi depois desse caso que o Congresso australiano aprovou uma série de medidas que controlam o acesso a armas de fogo. Atualmente, ataques a tiros são raros no país.
O atentado deste domingo ocorreu ainda quase 11 anos depois que um atirador solitário fez 18 pessoas reféns no Lindt Cafe, em Sydney. Na ocasião, dois reféns e o atirador foram mortos após um impasse de 16 horas.
Mais recentemente, desde o início da guerra em Gaza, o número de casos de antissemitismo e islamofobia aumentou em vários países. Em maio deste ano, em outro caso com ampla repercussão, um homem armado matou dois funcionários da embaixada de Israel do lado de fora do Museu Judaico de Washington, nos Estados Unidos.



