Saiba o que esperar da São Paulo Fashion Week, com ‘quiet luxury’ à brasileira

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Marina Bitu e David Lee, duas marcas que estreiam na próxima edição da São Paulo Fashion Week, são representantes da versão brasileira do “quiet luxury”, o luxo silencioso. Ou pelo menos é assim que Graça Cabral, uma das comandantes da semana de moda, define a versão local do grande tema fashion do ano.

“Quiet luxury” é a moda de usar roupas de grife em tons neutros e sem ostentar logos, como uma camiseta branca lisa da Prada ou uma calça preta Tom Ford, por exemplo –em outras palavras, um visual básico que custa milhares de reais.

“Nosso ‘quiet luxury’ são os nichos, pequenas marcas que vão trabalhar moda autoral numa escala muito menor. Assim as peças podem ter uma ousadia, não precisam ter uma única cor ou cartela de cores”, ela diz, ao ser referir à uniformização das roupas proposta por grandes grifes de luxo, com produção em escala global e preços muito caros, inacessíveis para a maioria.

As duas marcas, ambas do Ceará e que levam os nomes de seus diretores criativos, desfilam na edição de número 55 da São Paulo Fashion Week. Bitu produz vestidos, tops e saias femininas sob demanda explorando rendas e bordados a partir de tecidos que seriam descartados. Lee junta a alfaiataria e o sportwear em sua linha masculina, também inspirada pela pegada utilitária das roupas militares.

Principal evento de moda do país, a São Paulo Fashion Week vai ocupar diferentes locais da capital paulista entre 22 e 28 de maio. A estação terá 31 desfiles presenciais e 11 coleções mostradas em vídeos -exibidos em sessão única de cinema-, totalizando pouco menos do que os 48 participantes da edição anterior.

Além de Bitu e Lee, outras cinco marcas vão desfilar pela primeira vez -Forca Studio, Foz, Gefferson Vila Nova, Rafael Caetano e The Paradise. Por outro lado, esta edição da semana de moda não conta com algumas grifes grandes, como Ellus, ou outras que têm apresentações com lugares disputados, caso da Misci.

Paulo Borges, o fundador e diretor criativo do evento, afirma que é normal algumas marcas, sobretudo as de tamanho médio, mostrarem somente uma coleção por ano, porque é muito caro preparar um desfile. A Ellus disse apenas que optou por não participar, e a Misci informou que a data da SPFW neste semestre não bate com seu calendário de lançamento.

Ausências à parte, um dos ingressos mais quentes desta edição é o do desfile de João Pimenta, que abre a temporada com uma apresentação no palco do Theatro Municipal, celebrando os 20 anos de sua marca. E de palco o estilista entende, dado que ele já ganhou cinco prêmios por figurinos que desenhou para peças de teatro e foi indicado para outros seis.

O público vai ver peças inspiradas nas três figuras que nortearam as duas décadas de costura de Pimenta -o dândi, o punk e o caubói. “Eu sempre achei que o figurino era um problema para mim, que me deixava menos estilista, mas agora não. Fazer um desfile olhando para a minha história é uma forma que achei de assumir quem eu sou. Existe a pessoa para quem eu crio, mas ela é um pouco fora do normal”, diz ele.

Sua nova coleção vai misturar figurino com vida real. O desfile terá looks de pegada teatral -volumes grandes, tecidos listrados quase decorativos e bordados com pedrarias- , mas modelagem mais casual. Como o momento é de celebrar a marca, o público também vai ouvir um texto de Gerald Thomas escrito a respeito do trabalho do estilista e com leitura da atriz Vera Holtz.

Fernanda Yamamoto também transfere sua passarela para fora da sala de desfiles. A marca vai mostrar a nova coleção no edifício Virgínia, um prédio na região central de São Paulo com aspecto de ruína que tem recebido exposições de arte e design às vésperas de passar por um retrofit.

A nova temporada, afirma a estilista, tem roupas elaboradas para amigos, clientes e colaboradores da marca, pensadas individualmente, de acordo com a identidade e o gosto de cada um. Isto significa que não há um tema central.

Ao todo, 22 mulheres e oito homens, de diferentes idades, raças e tipos de corpo, mostrarão looks com elementos característicos da marca, como plissados, quadradinhos e bordados. “É uma roupa especial, mas é uma roupa usável”, diz Yamamoto.

Borges, da SPFW, destaca a importância da moda para a geração de riqueza no país. Ele menciona um estudo divulgado há pouco pelo Observatório do Itaú Cultural que constatou que a economia criativa como um todo -incluindo a moda- foi responsável por 3,11% do PIB brasileiro em 2020. Naquele ano de pandemia, a porcentagem foi superior à da indústria automobilística.

A moda é o quarto setor que mais contribui nestes 3,11%, depois de tecnologia da informação, arquitetura e publicidade, afirma Jader Rosa, gerente do Observatório do Itaú Cultural. No mais, de um total de 130 mil empresas na indústria criativa, 50 mil são de moda.

Mas os números expressivos não dão conta da complexidade da situação. Segundo outro estudo, também do Itaú Cultural, o mercado para os criativos que trabalham com moda encolheu 17% entre 2021 e 2022. Cerca de 123 mil postos de trabalho foram perdidos. “No caso da moda, há uma grande fragilidade setorial, com a informalidade ficando em torno de 75%”, informa a pesquisa.

Rosa trabalha com a hipótese de que os números negativos resultam do quanto a indústria fashion foi afetada durante a pandemia e, em seguida, pela Guerra da Ucrânia, fatores que desencadearam uma crise de insumos global e prejudicaram a empregabilidade e a produção no Brasil.

Intitulada “Origens/Ressignificar”, a São Paulo Fashion Week também se debruça sobre outras questões a ocuparem a cabeça dos fashionistas, entre elas a busca por novos tecidos, mais sustentáveis, como o algodão feito com menos agrotóxico e as fibras criadas tendo como base frutas e sementes brasileiras. A marca TA Studio, para citar um caso, traz para a passarela aviamentos com fios feitos a partir da manga.

Além disso, depois de instituir em 2020 a obrigatoriedade de que metade do elenco de cada desfile seja de negros, afrodescendentes ou indígenas, a semana de moda quer ir além das pautas identitárias, reconhecendo a potência de cada indivíduo. “A gente quer tratar o conceito de que eu posso sentar numa mesa e eu não vou mais falar assim -aquela é preta, aquele é indígena, aquela é trans. Eu tenho que falar com você”, diz Borges.

55ª SÃO PAULO FASHION WEEK – ORIGENS/RESSIGNIFICAR

Quando De 22 a 28 de maio

Onde Shopping Iguatemi, Senac Lapa Faustolo, Komplexo Tempo e outros locais de São Paulo

Preço A partir de R$ 180; ingressos esgotados

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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